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Num primeiro momento, os resultados da Petrobras (PETR3;PETR4) do segundo trimestre de 2024 (2T24) podem ter assustado os investidores, com a companhia registrando prejuízo líquido de R$ 2,6 bilhões no período, configurando seu primeiro resultado negativo desde o terceiro trimestre de 2020, principalmente por impactos tributários e cambiais.
No mesmo período do ano passado, a companhia havia registrado um lucro líquido de R$ 28,8 bilhões, enquanto no primeiro trimestre seu resultado líquido foi de 23,7 bilhões de reais.
Contudo, as perdas não deveriam assustar os investidores, apontam os analistas. De qualquer forma, após o balanço, as ações fecharam em queda após registrarem volatilidade durante todo o dia. PETR3 caiu 0,86% (R$ 39,36), enquanto PETR4 teve perdas de 0,92% (R$ 36,51), após chegar a cair mais de 2% na mínima do dia.
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“Acreditamos que o prejuízo apresentado no trimestre vá estar na capa dos jornais ao longo do dia. Entretanto, pedimos para que os acionistas da empresa não se preocupem tendo em vista a natureza desse prejuízo”, avalia a Genial Investimentos em relatório.
Isso porque a empresa teve dois eventos não-recorrentes que acabaram pro trazer impactos em seus resultados. O primeiro foi o reconhecimento de um custo de R$10,6 bilhões na despesa financeira referente ao acordo com o CARF anunciado no último dia 18 de junho. No “frigir dos ovos”, a decisão foi vista como positiva por eliminar um risco maior (que poderiam chegar até R$ 44 bilhões) e preservar os futuros pagamentos de dividendos da empresa.
O segundo ponto a ser mencionado diz respeito a marcação a mercado da dívida da empresa (que é parcialmente dolarizada) devido a expressiva desvalorização do real ao longo do trimestre, que acabou por impactar o resultado negativamente em R$ 18,7 bilhões. “Nessa caso, é importante entender que esse evento não tem efeito caixa de imediato (o valor de toda a dívida dolarizada é atualizada em reais de uma única vez) e a Petrobras é uma empresa que tem o seu principal produto dolarizado. Sendo assim, eventuais desvalorizações no real são compensadas na receita da empresa, trazendo conforto ao seu fluxo de caixa em relação ao dispêndio financeiro com a dívida dolarizada”, avalia a casa de análise.
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A Genial avalia que a geração de caixa livre da empresa foi bem razoável mesmo em um trimestre com margens de refino sob pressão e que com a normalização da paridade de preços ao longo do trimestre passado – ainda que alguma preocupação pode ser levantada daqui por diante com a recente desvalorização do dólar. Por último, a redução do investimento esperado para 2024 de US$ 16 bilhões para US$ 13,5-14,5 bilhões deve trazer algum conforto quanto fluxo de caixa da empresa para o segundo semestre de 2024 (2S24).
A XP Investimentos aponta que ajustando para os itens não recorrentes, o lucro líquido teria sido de US$ 5,4 bilhões. O FCFE (fluxo de caixa livre para o acionista) ficou em US$ 3,7 bilhões, exatamente em linha com a expectativa dos analistas da casa.
O FCFE recorrente representa um yield (rendimento) anualizado de cerca de 20%, reforçando a visão positiva dos analistas da XP sobre a tese de investimento da Petrobras.
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A dívida líquida aumentou US$ 2,5 bilhões para US$ 46,2 bilhões no final do 2T24, enquanto a dívida financeira líquida (excluindo arrendamentos) ficou em US$12,9 bilhões (+US$ 3,3 bilhões trimestre a trimestre). O aumento da dívida é explicado por dividendos e recompras de US$ 7,3 bilhões, parcialmente compensados por vendas de ativos e capital de giro de cerca de US$ 0,3 bilhão. Com isso, o FCFE ficou em US$ 3,7 bilhões, exatamente em linha com a estimativa da XP, o que implica um yield de cerca de 4% no trimestre. “Para chegar a um FCFE recorrente, ajustamos ainda mais a liquidação de impostos de US$ 0,7 bilhão para chegar a cerca de US$ 4,4 bilhões, o que representa um yield anualizado de cerca de 20% nos preços atuais das ações. Isso está em linha com nossos modelos e reforça nossa visão positiva sobre a Petrobras, dada sua forte geração de caixa e dividend yield”, avalia a corretora.
Dividendos em destaque
O anúncio de dividendos, por sinal, foi um caso à parte. A companhia informou o pagamento de proventos de cerca de R$13,6 bilhões (cerca de 2,9% de yield, ou rendimento frente o valor das ações preferenciais), em linha com a expectativa da XP e do consenso.
O valor de cerca de R$ 1,05/ação (cerca de US$ 0,38/ADR, ou recibo de ações negociado na Bolsa de Noyva Tork) representa yield de cerca de 2,9% e cerca de 2,7% para ações preferenciais e ordinárias, respectivamente. As ações serão negociadas ex-dividendos em 22 de agosto. A Petrobras também realizou R$ 772 milhões (cerca de US$140 milhões) de recompras de ações no 2T24. As distribuições totais seguiram a política de dividendos da companhia.
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No acumulado do 1S24, as distribuições anunciadas aos acionistas totalizaram R$ 27 bilhões, o que é mais do que o lucro líquido acumulado no primeiro semestre (R$ 20,6 bilhões). Isso ocorreu devido ao prejuízo líquido da Petrobras no 2T24. Como resultado, a Petrobras anunciou que os R$ 6,4 bilhões serão financiados a partir da reserva estatutária de remuneração de capital que foi criada anteriormente em 2024. Dessa forma, o saldo remanescente dessa reserva foi reduzido para R$15,5 bilhões, de R$ 22 bilhões no final do 1T24.
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Para o Morgan Stanley, a utilização da reserva de remuneração para financiar dividendos regulares poderia causar decepção. Para os analistas do banco americano, embora a intenção exata da reserva seja mesmo financiar dividendos quando os resultados contábeis diferem dos fluxos de caixa, os investidores geralmente esperavam que a reserva financiasse dividendos extraordinários no curto prazo (até o final do ano).
Por outro lado, com base em uma reunião com a Petrobras, o Morgan ficou menos preocupado com a utilização da reserva de remuneração. Em última análise, entende que os dividendos extraordinários estão vinculados à geração de FCF e ao saldo de caixa pendente, que pode ser distribuído a qualquer momento. Além disso, os analistas veem ser improvável que a empresa registre perdas contábeis não monetárias materiais nos próximos trimestres e seria capaz de gerar lucros facilmente para apoiar o pagamento de dividendos básicos, bem como potenciais distribuições extraordinárias.
A XP também ressalta que a distribuição de dividendos ordinários financiados por essa reserva estatutária provocou um debate, em uma teleconferência realizada após a divulgação dos resultados, sobre se o uso da reserva estatutária reduzia o saldo disponível para futuros dividendos extraordinários.
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“Isso não aconteceu. Qualquer dividendo extraordinário dependerá apenas da geração de caixa”, reforçam os analistas da corretora, ressaltando que a empresa não pretende acumular excesso de caixa e continuará a distribuir qualquer excesso de fluxo de caixa que não seja usado para investimentos ou pago na política de dividendos ordinários – independentemente do saldo dessa reserva estatutária. A Petrobras geralmente gera mais lucro líquido do que paga dividendos ordinários, portanto, é improvável que a reserva de lucros limite as distribuições futuras em um futuro próximo.
Regis Cardoso e Helena Kelm, analistas que assinam o relatório, apontam que os acionistas devem esperar dividendos extraordinários. “Em nossas estimativas, é provável que a Petrobras gere um fluxo de caixa livre de US$ 6 bilhões a mais do que distribuirá em dividendos em 2024. Acreditamos que esse excesso de geração de caixa poderá se transformar em dividendos extraordinários em algum momento. As principais variáveis para essa decisão serão o financiamento da empresa para seus planos de investimento, que ficarão mais claros à medida que a empresa avançar em seu novo plano estratégico 2025-29”, avaliam.
Assim, poderá haver algum anúncio de dividendos extraordinários (não necessariamente o valor total que prevê para o ano) antes do final do ano, provavelmente com a divulgação dos resultados do 3T24.
Cabe destacar ainda outro ponto que foi visto como positivo para a tese na empresa. A Petrobras revisou para baixo a orientação de investimento para 2024 para US$ 13,5 – 14,5 bilhões (de US$ 18,5 bilhões). Isso é menor do que a expectativa anterior da XP de US$ 15 bilhões. O capex mais baixo para o ano significa que provavelmente haverá um fluxo de caixa livre mais alto, o que pode ser bem recebido pelo mercado.
“Aproveitamos esta oportunidade para destacar uma importante nuance no plano de investimento da Petrobras e o capex em sua demonstração de fluxo de caixa. O último (ou seja, o capex no demonstrativo de fluxo de caixa) é menor do que os investimentos anunciados pela Petrobras. A diferença (cerca de US$ 2 bilhões por ano) é explicada por arrendamentos (por exemplo, diárias de navios-sonda) usados em investimentos (por exemplo, construção de poços offshore). Esses arrendamentos são contabilizados em uma linha separada da demonstração do fluxo de caixa, ‘pagamentos de arrendamentos'”, destaca a XP.
O Itaú BBA também cita reunião com a gestão da empresa e a equipe de relações com investidores, incluindo os tópicos: i) reafirmar o propósito da reserva de capital para garantir o dividendo ordinário em trimestres como o atual, quando a empresa registrou prejuízo líquido; e ii) esclarecer que o tamanho potencial do dividendo extraordinário é independente do tamanho da reserva de capital.
A empresa explicou que a decisão sobre um pagamento de dividendo extraordinário será baseada em uma perspectiva de caixa, e não no tamanho da reserva de capital. O dividendo extraordinário pode ser maior ou menor do que o saldo restante da reserva de capital. Como parte do próximo Plano Estratégico, a empresa espera ter uma visão mais clara de suas próximas necessidades de caixa até setembro, com um anúncio possivelmente sendo feito até novembro, potencialmente junto com os resultados do 3T.
“O resultado foi positivo no geral”, avalia o BBA. De qualquer forma, para os analistas, o uso de parte da reserva de remuneração de capital para pagar parte dos dividendos ordinários relacionados ao trimestre foi inesperado e pode ser interpretado pelos investidores como uma redução no potencial de carregamento para o ano.
Os investidores esperavam que o saldo restante de R$ 22 bilhões na reserva de capital fosse totalmente pago como um dividendo extraordinário até o final do ano. No entanto, na teleconferência que a empresa organizou após a publicação dos resultados, eles reforçaram que a redução do saldo restante da reserva não deve ser interpretada como um limite para potenciais dividendos extraordinários.
“Nossa análise de sensibilidade indica que, mesmo considerando o saldo remanescente da reserva como um teto para dividendos extraordinários para 2024, a redução no capex deve compensar a redução da reserva, resultando em um ligeiro aumento no potencial dividend yield para 2024 (21% versus 20%)”, avalia o BBA. Além disso, o banco acredita que a intenção explícita da empresa de anunciar os dividendos extraordinários até novembro (conforme mencionado na teleconferência com analistas) provavelmente será bem recebida pelo mercado. A maioria dos investidores esperava que a Petrobras discutisse dividendos extraordinários somente após os resultados do 4T.
O Itaú BBA, a Genial e o Morgan Stanley possuem recomendação equivalente à neutra para as ações da Petrobras, enquanto XP tem recomendação equivalente à compra.