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Um plano sem grandes novidades, mas apresentando evolução e tirando da frente alguns riscos que estavam no radar do mercado. Essa é a visão dos analistas sobre a divulgação do plano de negócios 2025-2029 da Petrobras (PETR3;PETR4), que prevê investimentos de US$ 111 bilhões, além do pagamento de R$ 20 bilhões (cerca de US$ 3,5 bilhões) em dividendos extraordinários aos acionistas – para alguns analistas, o valor deste provento pode ser ainda maior.
O otimismo com relação à remuneração também ocorre por duas mudanças, na meta da dívida bruta e na redução do nível mínimo de caixa, dando mais flexibilidade para pagar altos proventos.
Com isso, o mercado reage positivamente, com os ativos chegando a subir forte, também com a alta do petróleo: às 12h50 (horário de Brasília) desta sexta-feira (22), a alta era de 4,70% (R$ 43,02) para PETR3 e de 4,01% (R$ 39,43) para PETR4.
A XP aponta que o valor do dividendo está em linha com o cálculo do dividendo embutido no orçamento do governo para 2024. Na visão dos analistas, havia espaço para distribuições um pouco maiores (US$ 4,5 bilhões), mas o resultado mais importante foi o pagamento efetivo dos dividendos que o mercado esperava (e o governo precisava).
Os dividendos são equivalentes a R$ 1,55 por ação local – um rendimento de 4,1% e 3,8% sobre as ações preferenciais e ordinárias, respectivamente.
As ações começarão a ser negociadas ex-dividendos em 12 de dezembro. Os pagamentos efetivos em dinheiro serão feitos em 23 de dezembro para os acionistas locais e em 3 de janeiro de 2025 para os detentores de ADRs.
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Para a XP, o plano de negócios 2025-29 da Petrobras é uma evolução de seu plano anterior 24-28, em vez de uma revolução completa. Os analistas avaliam que essa é uma boa notícia, especialmente considerando a mudança na administração no início deste ano, que levantou preocupações sobre um afastamento do plano de negócios e um aumento repentino nos gastos.
Dito isso, muitos dos principais tópicos desse plano foram antecipados no comunicado de imprensa da Petrobras na segunda-feira (18), de modo que o anúncio de quinta-feira não trouxe surpresas significativas. O capex aumentou em relação ao plano anterior, como esperado, enquanto a curva de produção de petróleo aumentou ligeiramente no curto prazo.
O valor do dividendo foi um pouco abaixo do que o Bradesco BBI esperava, que era um valor de US$ 3,6 bilhões, mas principalmente por conta da desvalorização recente do real.
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Entre outros pontos de destaque, a empresa reduziu sua estimativa de capex (investimentos) de 2025 de US$ 21 bilhões para US$ 18,5 bilhões no plano 24-28.
O crescimento do capex de 5 anos ficou concentrado em 2027-2029 e em exploração e produção (E&P). O capex total de implementação aumentou em US$ 7 bilhões em relação ao plano anterior, para US$ 98 bilhões. Além disso, a maior parte desse aumento foi concentrada no período 27-28 e na adição de 29. Do aumento de US$ 7 bilhões, R$ 3 bilhões estão relacionados ao segmento de E&P e US$ 4 bilhões para refino.
O capex em análise aumento de US$ 11 bilhões para US$ 13 bilhões, com a maior parte do aumento concentrada nos segmentos de E&P (+US$ 1 bilhão) e gás natural e energia de baixo carbono (+US$ 2 bilhões), parcialmente compensado por uma redução de US$ 1 bilhão no segmento de refino.
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Já a curva de produção de petróleo ficou praticamente inalterada em relação ao plano anterior, com a única exceção notável para a estimativa com relação ao ano de 2025, que subiu de 2,2 milhões de barris por dia (bpd) para 2,3 milhões de bpd e que o BBI vê como razoável considerando que a produção até agora em 2024 está um pouco abaixo de 2,2 milhões de bpd e os novos FPSOs (plataformas) Duque de Caxias e Maria Quitéria já estão aumentando, o FPSO Búzios 7 pode começar antes do final do ano. O Mero 4 ainda é esperado para o ano que vem.
A empresa ainda revisou seu nível de caixa ideal para US$ 6 bilhões de US$ 8 bilhões anteriormente, enquanto a faixa superior para dívida bruta na política de dividendos foi elevada de US$ 65 bilhões para US$ 75 bilhões. O BBI aponta que isso abre espaço para o pagamento de dividendos elevados, mesmo que os preços do Brent caíssem para cerca de US$ 60 por barril.
“Com isso, continuamos esperando um pagamento de dividendos em dinheiro de US$ 12 bilhões para 2025 (rendimento de 13,5%), mesmo que os preços do Brent caíssem um pouco abaixo de nossa estimativa de US$ 76/barril para o próximo ano”, aponta.
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A XP aponta que a redução da exigência de caixa mínimo para US$ 6 bilhões foi uma surpresa positiva, assim como a elevação do teto da dívida bruta para US$ 75 bilhões para permitir flutuações temporárias acima da meta de dívida bruta de US$ 65 bilhões.
“Em nossa opinião, a combinação dessas duas mudanças permite maior flexibilidade para o pagamento de dividendos extraordinários. Acreditamos que isso pode até se tornar uma vantagem para as contas fiscais do governo no final de 2025. Para ser claro, nosso argumento não é que a Petrobras pagará dividendos com base nas contas do governo, mas sim que ela terá mais flexibilidade em termos de tempo para distribuir dividendos extraordinários como o anunciado hoje. Tanto o governo quanto os acionistas minoritários se beneficiariam de tais dividendos”, aponta.
O Morgan Stanley aponta que o anúncio de dividendos extraordinários foi como um “Natal antecipado”, vindo em linha com o esperado, assim como o plano estratégico de investimentos e devendo ser bem recebido pelo mercado.
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O banco americano continua a ver um aumento na base e dividendos extraordinários. “Nossa previsão de dividendos base de cinco anos é de US$ 60,6 bilhões, em comparação com o intervalo do plano de US$ 45–55 bilhões. Em distribuições extraordinárias, nossa estimativa de cinco anos de US$ 20 bilhões está muito acima do intervalo de US$ 5–10 bilhões da empresa. Mantemos ambas as estimativas e temos alta convicção sobre o potencial de dividendos excederem o plano, pois i) acreditamos que os projetos no portfólio em análise têm menor probabilidade de serem sancionados dentro do horizonte de cinco anos; ii) pode haver aumento de contingências incluídas no processo orçamentário; e iii) pode haver aumento na curva de produção devido à alta produtividade dos campos do pré-sal”, reforçam os analistas.
O Itaú BBA também espera revisões para cima nas estimativas de dividendos para os próximos anos e ressalta que o anúncio de dividendos extraordinários relacionados aos resultados de 2024 reforça que a empresa se preocupa em equilibrar os planos de crescimento com a remuneração aos acionistas, e o valor de US$ 3,44 bilhões (yield de 4,1%) ficou em linha com as expectativas do consenso.
Já em uma nota negativa entre os anúncios, no entanto, o BBI aponta que a curva de capex ficou acima de sua estimativa e com uma curva de produção semelhante, amplamente afetada pela inflação do setor, em nossa opinião. A certeza da execução deste investimento de capital (especialmente a longo prazo) ainda não foi definida, avalia.
Após a divulgação do plano, a XP reforçou recomendação de compra para PETR3 e PETR4, com preço-alvo de R$ 46 por ação. O Morgan Stanley também tem recomendação equivalente à compra (overweight, exposição acima da média) para os ativos PBR (ADRs, ou recibo de ações negociados na Bolsa de Nova York), equivalentes aos ONs, com preço-alvo de US$ 19 (potencial de alta de 34% frente o fechamento de quinta).
“O case de investimento da Petrobras continua centrado na remuneração dos acionistas, que – para o bem ou para o mal – está diretamente ligada à alocação de capital. Em nossa visão, os fluxos de caixa da Petrobras são muito resilientes e nos dão confiança para acreditar em um potencial para distribuir um incremento de US$ 3,5 bilhões em dividendos extraordinários em 2025 (após o anúncio de US$ 3,44 bilhões). Em nosso cenário base, isso dá suporte a um rendimento de dividendos atraente de 15,3% para 2025”, reforça o Morgan. O BBA e o JPMorgan também possuem recomendação equivalente à compra para a ação.