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Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3 são duas das maiores empresas brasileiras e atuam ambas em segmentos parecidos, com commodities, o que traz uma série de semelhanças para as análises que as envolvem – e divide investidores na hora de investir.
Cumprindo papel parecido dentro de uma carteira, Petrobras e Vale não raro disputam entre si espaço nos portfólios de gestores. Contudo, no ano, os movimentos das ações das duas companhias são bem diferentes: no acumulado de 2023 até às 15h (horário de Brasília) desta terça-feira, os papéis PETR4 saltavam 49% e os PETR3 subiam 43%. Já os ativos VALE3 caíam 22% no mesmo período.
Roberto Reis, sócio da Meraki Capital, e José Luiz Torres, analista da Apex Capital, foram os convidados da XP Investimentos para debater qual é a melhor opção neste momento, levando em conta que o petróleo e o minério se afastaram dos patamares elevados nos quais estavam no ano passado e também as particularidades de cada companhia. Os analistas da XP Lucas Lag e André Vidal intermediaram o encontro.
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Esses últimos abriram explicando que a XP tem visão positiva para as duas exportadoras, possuindo recomendação de compra para ambas as companhias.
Para as ações preferenciais ordinárias da Petrobras, a corretora vê um potencial de alta de 17%, com o preço-alvo em R$ 35,50 ante os R$ 30,30 do fim do dia de ontem. Para as ações ordinárias da Vale, o upside é de 42% frente ao preço do fechamento da véspera, com o alvo ficando em R$ 97 ante R$ 68,27.
Petrobras e o risco estatal
“Aqui na XP a gente gosta da Petrobras, apesar da empresa carregar o risco de gerência estatal, que já apareceu de forma mais intensa no passado. A gente a vê como relativamente protegida pelo menos enquanto o seu estatuto e a Lei das Estatais estiverem de pé”, fala André Vidal.
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Após o fim das eleições de 2022, o analista relembra que houve um forte fluxo de saída de investidores locais da Petrobras para as juniores, motivado justamente pelo risco político. Os papéis da estatal, contudo, vêm avançando, em um rally que pouca gente pegou.
José Luiz Torres destaca que o mercado, no primeiro momento, superestimou os riscos atrelados à estatal.
“Não vou dizer que o risco é zero. Não é zero, obviamente. Mas há uma série de condições macro que têm ajudado o preço do petróleo, que agora está comportado. Agora temos também o elemento dólar, que vem ajudando bastante”, falou o gestor da Apex Capital.
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A Petrobras, em determinados momentos nesse ano, passou por uma situação curiosa. Quando o preço do petróleo caía, as ações da empresa, que tem nessa commodity seu principal produto, subiam. Isso porque o mercado vê o recuo como um minimizador dos riscos gerenciais, afastando a possibilidade de uma intervenção maior do governo federal na empresa.
Fora isso, todo o aparato jurídico criado em volta da estatal, para o gestor, também vem se mostrando resiliente nos últimos tempos – sendo que outros presidentes já pressionaram a companhia por mudanças. A Apex tem posição montada tanto em Vale quanto em Petrobras, sendo a desta última, maior.
“O mercado tinha três preocupações principais. A política de preços saiu, mas entrou uma nova que parece alterar um pouco a dinâmica, sem mudanças drásticas. Depois, vem a possibilidade de novos projetos ou recompra de ativos vendidos, como no caso da Braskem. Mas é difícil imaginar a Petrobras aumentando muito seu Capex. Além disso, leva tempo para estruturar projetos nessa frente e há uma série de órgãos de controle”, fala Torres. “Por último, há a questão dos dividendos, que é onde eu vejo maior possibilidade de mudança”. A expectativa é de que haja definição sobre a política de dividendos em julho.
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Riscos menores e petróleo
A nova diretoria da Petrobras, anteriormente, já defendeu que a política de distribuição de dividendos da estatal seguirá a dos seus pares internacionais. A companhia vinha se destacando frente a seus pares no yield pago a acionistas.
“Quando a gente vê as empresas lá de fora, na média elas estão pagando entre 30% e 40% da geração de caixa livre em dividendos e complementando a quantia, até 100%, com recompra de ações”, fala o especialista. “Se a gente assumir algo similar para a Petrobras, teria um dividendo entre 15% e 16% de yield. Ainda é razoável”.
Uma mudança, para o especialista, não deve ir muito além disso porque a Petrobras, nos últimos anos, ganhou importância no quadro fiscal do governo. Os dividendos da estatal ajudaram a União a manter seu caixa equilibrado.
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A política de dividendos vista mundo afora, curiosamente, ajuda a sustentar a tese que a Apex tem para o petróleo. Com as companhias praticamente distribuindo todo o seu fluxo livre de caixa para os acionistas, os investimentos em novas plantas de exploração caíram nos últimos anos, o que já vinha sendo visto anteriormente também por toda a questão ambiental. Todas essas medidas devem impactar a oferta de petróleo futuramente.
No curto prazo, o gestor avalia que os embargos na Rússia, até então, não tiveram todo impacto negativo na oferta anteriormente planejado, com o país redirecionando suas exportações. Mas o país pode, em breve, começar a enfrentar problemas com as restrições. Dessa vez não com as vendas da commodity em si, mas com dificuldades de comprar equipamentos e realizar manutenções nas suas plantas de exploração e produção.
Do lado da demanda, o especialista defende que a economia mais fraca mundialmente, por enquanto, não está impactando muito o consumo, que continua forte. A maior preocupação para o gestor nesta frente por enquanto é o ganho de share dos combustíveis alternativos.
“De qualquer forma, temos a brincadeira de que a Petrobras é a única exportadora de petróleo do mundo que reza para o preço do petróleo não subir. Se o petróleo cair, claro que há impacto no Ebitda, mas também não é o fim do mundo. Em uma queda grosseira, uma queda de US$ 10 do barril iria tirar 3% do Ebitda. Não é o fim do mundo”, fala. “Se o petróleo subir muito, aumenta a o risco político. Talvez tenha de tomar a decisão de importar combustíveis. Eu acho que o melhor cenário para Petrobras hoje é o petróleo ficar mais ou menos onde ele tá, talvez um pouquinho para cima”.
Vale: Operação se mostra desafio
Quanto à Vale, a empresa também enfrenta desafios no seu lado operacional. Roberto Reis destacou, por exemplo, que a mineradora frustrou nos últimos trimestres no quesito volume, por conta de desafios regulatórios e climáticos.
“Temos a pendência de alguns licenciamentos ali na região de Carajás e os próprios impactos de Brumadinho, que impõem limitações à companhia”, falou o gestor. “Além disso, na questão da qualidade, no primeiro trimestre o teor médio do minério de ferro ficou abaixo do índice de referência, o que foi visto com certa preocupação por investidores”.
Apesar de a produção ter aumentado no primeiro trimestre na base anual, tanto em minério (5,8%) quanto nas pelotas (20,1%), as vendas caíram por conta da dificuldade em embarcar, após restrições de carregamento no Sistema Norte. Os preços médios realizados, por fim, sugeriram que a mineradora não entregou muita qualidade nos seus produtos.
O gestor ainda pontua as questões envolvendo o aumento de custos de produção, em grande parte puxado pela alta das próprias commodities. Apesar de vender um produto não manufaturado, a companhia também utiliza essas mercadorias em sua cadeia de produção – como no caso dos combustíveis usados no transporte do minério, por exemplo.
“Obviamente a Vale sofreu mais no que diz respeito ao aumento de custos do que com a produção caindo. Tem uma série de fatores aí e eu acho que não consigo achar que são transitórios”, menciona
A Vale tem enfrentado ainda, de acordo com ele, o que é descrito como “inflação geológica”: a empresa está retirando mais estéreo (rejeito) de suas minas, o que aumenta os custos de produção.
Os acidentes de Brumadinho e Mariana, por outro lado, tornaram a obtenção de licenças algo mais difícil e, decorrentemente, mais custoso. “Pensa um fiscal que vai lá para provar uma licença da Vale. É ele que dá o nome dele ali. Então ele vai ser o responsável pelos próximos acidentes”, contextualiza. “Quando a gente soma tudo isso, começamos a ver um gargalo na produção da Vale maior”.
A própria mineradora, recentemente, diminuiu seu guidance de produção. Para 2026, o número saiu de 400 milhões para 360 milhões.
A diminuição das perspectivas, bem como as recentes frustrações, são responsáveis, contudo, pela a Vale ter um valuation menor que seus pares. “A Vale terá de entregar um pouco mais para o mercado poder voltar a acreditar na tese. Para a empresa voltar a ter uma credibilidade maior e fechar esse gap”, debateu.
Perspectivas para o minério e cenários para as duas companhias
Para o preço do minério, o gestor está um tanto neutro. De um lado, a economia mais fraca da China pode puxar o valor da tonelada para baixo, do outro, ainda por lá, estímulos e um estoque baixo de aço pesam na outra ponta. As dificuldades de produção da Vale também podem diminuir a oferta mundial da commodity e impulsionar os preços.
“Vamos esperar para ver o que que vai acontecer nessa parte. Não consigo ficar muito otimista com o preço da commodity, mas tem pouco motivo para ficar pessimista também. Eu acho que está relativamente justo o preço atual. Mas falar de commodity é aquela coisa, um exercício de humildade. Se cravar, vai errar”, brincou o gestor da Meraki Capital.
A Meraki tem hoje cerca de 4,5% da sua carteira alocada na Vale. Apesar da perspectiva neutra para a commodity e dos problemas operacionais, questões como o fato de a empresa negociar a múltiplos menores do que seus pares, a qualidade dos ativos e até mesmo a frente de metais básicos sustentam a tese. Além disso, a Vale, para o especialista, “compõe bem um portfólio que está mais alocado a teses domésticas cíclicas”.
“A melhor coisa disparada que a Vale tem é o seu minério de ferro. Seja antigamente no sistema Sudeste, depois com sistema Norte hoje. O minério de Carajás provavelmente é o melhor do mundo, abundante, com fácil extração e com alto teor”, mencionou Roberto.
Para a Petrobras, a casa não tem posição, mas também fala em prudência quanto a uma possível venda das ações.
“Como a gente não tem, a gente deveria pensar em ficar short. Mas apesar da alta recente, vemos o valuation ainda descontado. A Petrobras gera muito caixa, o que pega é a questão governamental. A percepção de risco pode aumentar”, afirma.