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A decepção com o não-pagamento de dividendos extraordinários já trouxe efeitos na recomendação dos bancos para as ações da Petrobras (PETR3;PETR4). Quatro grandes bancos rebaixaram os ativos, revisando também suas projeções para dividendos depois do anúncio da última quinta-feira (7).
Durante a manhã, o Santander e o Bradesco BBI rebaixaram a recomendação dos ativos de equivalente à compra (outperform, ou desempenho acima da média do mercado) para neutro após a proposta do Conselho de Administração de distribuição de dividendos de R$ 14,2 bilhões, enquanto analistas esperavam uma distribuição extraordinária. Em vez disso, o conselho optou por direcionar US$ 9,0 bilhões (cerca de R$ 43,9 bilhões) na criação de uma reserva de Remuneração de Capital.
Mais tarde nesta sexta, foi a vez dos analistas do Bank of America Caio Ribeiro e Leonardo Marcondes cortarem a recomendação dos papéis da companhia, bem como preço-alvo das ações para R$ 38 (US$ 16 para o ADR) ante R$ 48 reais (US$ 20,20), citando expectativas significativamente mais baixas de retorno de caixa total e maior percepção de risco.
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No fim da sessão, o Morgan Stanley cortou a recomendação para equal-weight (peso equivalente, similar à neutro) da classificação anterior de overweight (peso superior, similar à compra) por considerar que há menos confiança em retornos adicionais para acionistas nos dividendos extraordinários no curto prazo. Embora o banco estrangeiro admita que os principais pilares da tese de investimento permanecem em vigor, como a qualidade de ativos, a forte geração de fluxo livre de caixa (FCF, na sigla em inglês) e múltiplos de avaliação atrativos, o potencial de alta que havia anteriormente com um programa de remuneração considerado “convincente” já não existe mais.
“Tendo em consideração o forte desempenho das ações e o retorno total de +72% nos últimos 12 meses, ficaríamos à margem até vermos mais evidências de que a conta de remuneração de capital será utilizada para financiar dividendos adicionais nos próximos trimestres”, apontou o Morgan.
“A empresa optou por reter caixa, enquanto o mercado esperava US$ 4,0-5,0 bilhões em pagamentos extraordinários referentes a 2023. A empresa pagará apenas US$ 2,9 bilhões em dividendos pelos resultados do 4T23 com base na política mínima”, ressaltaram os analistas do BBI. O banco lembrou a informação da Petrobras de que os US$ 8,8 bilhões em dividendos poderiam ser retidos para um potencial pagamento futuro, mas o momento para isso é incerto. “Esta decisão traz incerteza à política de remuneração, que antes era muito clara”, afirma a equipe de análise.
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Assim, os analistas do BBI reduziram a premissa de US$ 5 bilhões/ano para dividendos extraordinários para US$ 2 bilhões/ano (além dos pagamentos mínimos de US$ 9,6 bilhões para o restante de 2024 e US$ 7,8 bilhões para 2025), o que traria o dividendo yield (rendimento de dividendos, ou dividendo sobre o preço da ação) restante esperado para 2024 para 9% e para 2025, ante 12% (com potencial adicional de queda).
“Como resultado, não vemos mais o rendimento de dividendos da Petrobras como atraente em comparação com seus pares globais”, afirmam os analistas do banco, que reduziram o preço-alvo para PETR4 de R$ 48 para R$ 41, ou uma alta de apenas 1,5% frente o fechamento de quinta; para os ADRs PBR (equivalente aos ordinários), o preço-alvo caiu de US$ 20 para US$ 17, um potencial de alta de 1,8%.
“Do ponto de vista dos investidores dos mercados emergentes, acreditamos que os fluxos poderão afastar-se da Petrobras para as empresas petrolíferas chinesas (PetroChina, Sinopec), dada a recente reviravolta na disciplina de capital e nos fortes programas de recompra, e também para a Aramco numa potencial oferta secundária”, avalia o banco.
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O Santander, além da recomendação, cortou o preço-alvo de R$ 52 para R$ 47 para PETR3 (ainda um upside de 14%) e de US$ 19 para US$ 18 para o ADR PBR (upside de 8%). O banco vê a Petrobras mantendo fundamentos sólidos, mas avalia que a visibilidade em relação à alocação de capital de curto prazo cai significativamente, especialmente dada a posição de caixa de em 2023.
Além disso, sem dividendos extraordinários, o banco vê a Petrobras negociando com um dividend yield (dividendo em relação ao dividendo das ações) de cerca de 9%, o que está em grande parte em linha com os pares latino-americanos/europeus.
“Acreditamos que a falta de dividendos extraordinários envia sinais confusos em relação à estratégia de alocação de capital de curto prazo, especialmente porque vemos a Petrobras com US$ 18 bilhões em caixa no final de 2023 (contra uma posição de caixa de referência de cerca de US$ 8 bilhões, que assumimos ser suficiente para cobrir planos de Opex/Capex). Isto sugere uma posição de caixa excedente de aproximadamente US$ 10 bilhões. Esperamos que a Petrobras gere um fluxo de caixa operacional de cerca de US$ 40 bilhões em 2024, o que é mais que suficiente para financiar investimentos”, apontam os analistas do Santander.
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O banco vê a Petrobras potencialmente acelerando a atividade de fusões e aquisições em 2024, o que poderia limitar o potencial de pagamentos extraordinários de dividendos, aproximando o rendimento de dividendos da Petrobras dos seus pares.
O Santander também reduziu as suas expectativas de dividendos para 2024 de US$ 16 bilhões para US$ 9,5 bilhões (8,8% de dividend yield), até ter mais clareza sobre o momento/magnitude dos pagamentos extraordinários de dividendos no futuro. Assim, embora o conselho de administração tenha proposto que os R$ 43,9 bilhões fossem direcionados para a “reserva de remuneração de capital”, que deveria ser usada para dividendos, juros sobre capital próprio e/ou recompras, agora há menor visibilidade sobre quando esse capital poderia ser distribuído. “Com um rendimento de dividendos de aproximadamente 9%, vemos a Petrobras sendo negociada em um nível próximo aos pares latino-americanos/europeus”, avalia o Santander.
A Genial Investimentos, por sua vez, destacou seguir com a recomendação de manutenção para PETR4, com preço-alvo de R$ 47 (upside de 16%). O provento, avalia a casa, implica em um rendimento de 2,7% no 4T23 e 10,8% em termos anualizados – interessante, mas não o suficiente para justificar um posicionamento mais agressivo no papel. Tendo em vista que a companhia poderia pagar um dividendo maior tendo em vista a geração de caixa da empresa, “o grande temor permanece no uso desses recursos com foco de acelerar a transição energética em projetos que julgamos pouco interessante tendo em vista os grandes retornos do segmento de E&P, especialmente o pré-sal e a margem equatorial”.