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No foco dos investidores após as eleições, a Petrobras (PETR3;PETR4) divulgará seus números do terceiro trimestre nesta quinta-feira (3) após o fechamento do mercado.
A expectativa é de números mais fracos na base de comparação trimestral em meio à queda do petróleo (com baixa do brent de 13% no trimestre, a uma média de US$ 98 o barril), mas ainda sólidos, com expectativa de forte pagamento de dividendos.
A projeção média de analistas consultados pela Refinitiv é de um lucro de R$ 43,366 bilhões, queda de cerca de 20% frente o segundo trimestre (quando lucrou R$ 54,33 bilhões), mas alta de 40% na comparação anual (R$ 31,1 bilhões de lucro registrado no 3T21).
Já para o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês), a expectativa é de R$ 87,99 bilhões, uma queda de 10% frente o 2T22 (quando teve Ebitda de R$ 98,26 bilhões), mas avanço de 45% na base anual (Ebitda registrado de R$ 60,74 bilhões no 3T21). Já para a receita, espera-se um número de R$ 160,41 bilhões, 6,2% menor na comparação com abril a junho de 2022 (R$ 170,96 bilhões), mas avanço de 32% ante os R$ 121,6 bilhões registrados em igual período do ano passado (R$ 121,59 bilhões).
“Esperamos uma contração nos resultados do terceiro trimestre devido à redução no preço do petróleo e volumes estáveis em relação ao trimestre anterior. Entretanto, temos a expectativa de um anúncio relevante de dividendos diante de forte geração de caixa operacional. Esperamos um pagamento de dividendo entre R$ 2,80 e R$ 3,80 por ação”, aponta o Itaú BBA.
O Bradesco BBI aponta que os olhos dos investidores ficarão no fluxo de caixa livre ao acionista (FCFE, na sigla em inglês) e dividendos. Os analistas esperam que o Ebitda ajustado da companhia caia cerca de 9% frente o segundo trimestre, para R$ 90 bilhões, com a valorização do dólar versus o real (alta de 6%) devendo compensar parcialmente a queda nos preços do petróleo e dos combustíveis no Brasil. Já em relação ao 3T21, o Ebitda deve aumentar 49% em função da valorização de 35% dos preços do Brent.
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A projeção do banco é de um lucro líquido de R$ 44,281 bilhões. Por sua vez, o FCFE deve continuar sólido e o mercado voltará a prestar mais atenção aos dividendos, com os analistas acreditando que proventos de US$ 9 bilhões a US$ 11 bilhões podem ser anunciados.
Olhando especificamente por segmento, em exploração e produção, o Itaú BBA espera que a Petrobras reporte resultados trimestrais mais modestos, com um Ebitda de cerca de R$ 64 bilhões. A produção de petróleo doméstica foi de 2,115 milhões de barris por dia no 3T22, estável no trimestre, apesar das paradas de manutenção.
No segmento de downstream (refino e distribuição), os analistas do banco esperam que a Petrobras reporte Ebitda de cerca de R$ 22 bilhões. Apesar das reduções nos preços dos combustíveis e paradas para manutenção em grandes refinarias durante o trimestre, a expectativa é por altas taxas de utilização da refinaria e maiores vendas frente o 2T22.
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“Prevemos também uma contribuição positiva do segmento de gás e energia (G&E), que se beneficiou de menores importações de GNL [Gás natural liquefeito]”, aponta o BBA.
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A XP também espera que a margem de Gás e Energia (G&E) deva apresentar bons números em função de menores importações de GNL no trimestre (com uma dinâmica semelhante ao 2T22).
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A projeção da casa é de um Ebitda ajustado de US$ 17,6 bilhões, ligeiramente superior (em 4%) ao consenso de mercado, mas com queda de 12% frente o segundo trimestre de 2022. A margem Ebitda (Ebitda sobre receita líquida) de exploração e produção deve permanecer sólida (71%), enquanto esperam margens saudáveis em Refino, Transporte e Comercialização (RTC), devido aos maiores crack spreads no trimestre, especialmente para diesel (preço médio líquido em alta de 4% frente o 2T22).
O Credit também espera resultados fortes, com projeção do Ebitda do 3T22 de US$ 17,5 bilhões (queda trimestral de 13%, mas alta anual de 46%).
“Os resultados provavelmente não serão tão empolgantes quanto no 2T22, quando a Petrobras pagou dividendos extraordinários, mas ainda vemos uma geração sólida de FCF de cerca de US$ 9 bilhões no trimestre. Isso deve levar a dividendos de US$ 6-9 bilhões (7-10% de rendimento) no 3T22, em nossa opinião”, apontam os analistas do banco suíço.
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Próximos passos
Cabe destacar que a aversão ao risco do mercado com relação à petroleira aumentou, com analistas de mercado já elevando a cautela com a Petrobras antes mesmo da eleição, o que foi reforçado depois de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ser eleito presidente.
O futuro governo tende a intensificar a presença do Estado no setor de refino de petróleo, com possíveis impactos nos rumos dos preços dos combustíveis da Petrobras, conforme sinalizações de planejadores de políticas da equipe do petista.
O próprio Lula prometeu rever o Preço de Paridade de Importação (PPI) praticado desde 2016 pela Petrobras, de forma que os valores dos combustíveis reflitam “custos nacionais”, sem, portanto, acompanhar as oscilações do dólar e do petróleo no mercado internacional.
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Na prática, o presidente eleito tentará conter, de antemão, uma eventual escalada nos preços dos derivados do petróleo, como experimentou o presidente Jair Bolsonaro no primeiro semestre, em pleno ano eleitoral, sob os impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia, que reduziu a oferta global dos produtos.
Contudo, a eventual mudança na política de preços da Petrobras deve encontrar obstáculos na Lei das Estatais e no estatuto da empresa. O governo também teria de encontrar uma maneira de não reduzir a competitividade das importações, visto que no caso do diesel elas hoje atendem cerca de 30% da demanda interna.
A revisão da política viria acompanhada de um fortalecimento da produção de derivados pela Petrobras, se o novo governo seguir os estudos técnicos que embasaram o seu programa.
Após a eleição, analistas do JPMorgan cortaram a recomendação das ações da Petrobras para “neutra” e reduziram o preço-alvo a R$ 37, de R$ 53 anteriormente, citando incertezas relacionadas à petrolífera após a vitória de Lula.
Nos últimos dias, ganhou destaque ainda na bolsa de apostas do mercado o nome do senador Jean-Paul Prates (PT-RN) para comandar a petroleira, encaixando na ideia de inserir a empresa de forma mais abrangente no mundo das energias renováveis. O senador se enquadraria nessa aspiração por ter sido um dos protagonistas do marco regulatório da geração de energia eólica offshore (no mar).
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A avaliação do próximo governo é de que a Petrobras deve buscar aumentar a produção de gás natural como um combustível de transição para o hidrogênio. Advogado e economista, Prates tem quase 30 anos de experiência no setor de petróleo e gás.
Segundo o BBI, enquanto a nomeação de Prates como CEO da Petrobras ainda não está confirmada, a mensagem em termos de alocação de capital parece ser de um capex (investimento em capital) crescente e dividendos menores ao longo do tempo.
“A política de preços da petroleira está sob risco de mudança e poderia haver algumas implicações de capital de giro para o setor de distribuição de combustíveis se políticas de estoque mais rígidas fossem estabelecidas”, avaliam os analistas, que apontam que, diante das incertezas, as ações favoritas do setor são as juniores 3R (RRRP3) e PRIO (PRIO3).
Já Marcos Peixoto, gestor da XP Asset, destacou durante live promovida pelo InfoMoney na segunda-feira que os ativos de Petrobras, assim como do BB (BBAS3) estão negociando a múltiplos muito baixos, – algumas perto do menor valor histórico –, e que uma eventual queda mais expressiva das ações pode ser oportunidade de compra.
Cabe destacar que, nesta quinta, o jornal O Globo informou, citando fontes, que a campanha de transição do governo Lula vai tentar impedir que a distribuição antecipada de dividendos em R$ 40 bilhões seja aprovada pelo Conselho de Administração, já que se trata de uma antecipação de recursos da companhia com base nos resultados futuros da estatal.
Segundo o BBI, se as informações do artigo forem confirmadas, podem mostrar uma abordagem mais dogmática do que racional dos membros do próximo governo em relação ao pagamento de dividendos da estatal.
“Estimamos que sem comprometer seu plano de investimentos, nem alavancagem nem níveis de caixa, a Petrobras poderia pagar R$ 85 bilhões em dividendos aos acionistas (incluindo a União) relativos ao 3T22 e 4T22. A política de pagamentos da PBR no próximo governo continua sendo a principal fonte de incerteza entre os investidores”, avaliam.
(com Reuters e Estadão Conteúdo)