Petrobras (PETR4): “Lula jamais me pediu para baixar ou aumentar preço de combustíveis”, diz Prates

Executivos da estatal, em coletiva sobre o Plano de Investimentos de 2024 a 2028, falaram de iniciativas, possíveis aquisições e dividendos

Vitor Azevedo

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O CEO da Petrobras (PETR4), Jean Paul Prates, tratou de afastar durante coletiva desta sexta-feira (24), de apresentação do novo plano estratégico 2024/2028, os rumores de que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, estaria insatisfeito com a atual política de precificação de combustíveis da companhia.

Na última semana, surgiram rumores de uma possível troca na presidência da estatal, por conta da “demora na redução de preço dos combustíveis”. Ele também pontuou que, em nenhum momento, viu seu cargo ameaçado.

“O Presidente jamais me pediu para abaixar ou aumentar preço de combustíveis. Ele sabe e reconhece que há um rito para isso”, falou. “Volta e meia ele me liga para entender como está o cenário. Houve muita coisa no período. A conjuntura atual é diferente do que o presidente viveu no passado”.

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A última reunião que aconteceu com o líder do executivo brasileiro, segundo Prates, se deu para apresentar o que a companhia traria em seu novo plano.

“Vale mencionar que não fomos apresentar o plano para o presidente Lula, que é alguém fora do Conselho, apesar dos boatos. O que fizemos, para atender o critério do chefe de Estado, que é também o chefe da Petrobras, foi sinalizar os conceitos, os caminhos”, explicou.

Os executivos da Petrobras, hoje, deram também mais detalhes do plano que foi apresentado na véspera, que prevê o investimento de US$ 102 bilhões nos próximos cinco anos.

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A transição energética no plano de investimentos da Petrobras

Dias atrás, foi noticiado que o presidente Lula teria cobrado, em uma das reuniões com Prates, que quer que a Petrobras seja uma das forças motrizes para fazer o Brasil ser referência quando se fala em transição energética.

Entre os destaques da coletiva hoje, ficaram, justamente, perguntas e respostas envolvendo os investimentos nesta frente. A diretoria recém criada na estatal, após a última gestão evitar novo investimentos, ficou com US$ 11 bilhões.

“Vamos fazer a transição energética de forma gradual e responsável, mas crescente. Não abriremos mão, de uma hora para outra, da produção de petróleo. O petróleo é necessário para sustentar a demanda por energia do planeta e mesmo a própria transição”, falou Prates.

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O capex do exploração e produção de petróleo soma US$ 73 bilhões no período, com cerca de 67% destinados para o pré-sal. O setor, segundo a Petrobras, mantém sua relevância para a companhia com o foco estratégico em ativos rentáveis e investimentos compatíveis com uma visão de longo prazo alinhada à transição energética.

“Objetivo das empresas de petróleo em todo o mundo é pensar como fornecer energia durante a transição para energias limpas. Ao nosso ver, a Petrobras tem capacidade de liderar essa movimentação”, comentou o presidente.

A Petrobras está de olho em  iniciativas e projetos de descarbonização das operações assim como o amadurecimento e desenvolvimento de negócios no segmento de energias de baixo carbono, com destaque para biorrefino, eólicas, solar e captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS).

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Segundo o presidente, parte da culpa de o plano de investimento ser alto, com alta de 31% ante o anterior, que era de US$ 78 bilhões, é porque a companhia está atrasada nesta frente.

“Deveríamos ter feito isso anos atrás. O mundo vai priorizar as produções de petróleo que emitem menos e nós não queremos, no futuro, que o Brasil tenha de importar esse tipo de produto”, defendeu Prates.

Pelo atraso, a petroleira também não descarta ir ao mercado para fazer aquisições de projetos já maduros.

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“Em eólicas e solares, estamos priorizando investimentos em projetos maduros. Mas temos, também, algum investimentos em pesquisas. Quando houver um marco regulatório e ser marcado um leilão, queremos estar prontos para participar”, explicou Mauricio Tolmasquim, diretor executivo de transição energética e sustentabilidade.

Braskem, refinarias e outras aquisições

Outra frente de destaque na transição energética, para os diretores, é o braço petroquímico, assunto que ainda ganha importância pelo fato de a Petrobras estar, neste momento, envolvida com a questão da Braskem (BRKM5).

A Novonor, antiga Odebrecht, quer vender sua participação na petroquímica, de 50,1%. A Petrobras, que detém 47%, tem a opção de sair junto do negócio em meio a uma proposta ou de exercer uma prioridade na compra.

“A Braskem vai para a quarta proposta não vinculante. Estamos finalizando uma due diligence, estudando o valuation da companhia. Fizemos isso por questões de governança. Quando vier uma proposta de verdade, estaremos prontos”, disse o diretor financeiro Sergio Caetano Leite.

“É difícil a Petrobras ser vendedora de um ativo tão importante para o nosso plano, que é o braço petroquímico. Como direcionador estratégico, é um segmento importante, mas, neste momento, não somos nem compradores nem vendedores”, acrescentou.

Quanto aos investimentos em refino, transporte e comercialização, projetados em US$ 17 bilhões, os executivos defenderam que a estatal tem espaço para ganhar mercado – isso após a última gestão fazer uma série de desinvestimentos no braço.

“Até o plano passado, tivemos o desinvestimento em refinarias. Agora, no nosso plano, o movimento é contrário. A lógica mudou. Temos a ideia de atender o mercado brasileiro, que é o oitavo maior do mundo quando falamos em combustíveis”, expôs Renata Szczerbacki, diretora de estratégia e planejamento.

“Temos diferenciais, como por exemplo, a questão do frete. Não há por que não atender esse mercado. É a maior rentabilidade que podemos esperar para o próximo ciclo”, acrescentou.

Argentina

Ainda quanto a possíveis desembolsos, Prates tratou de afastar rumores de que a Petrobras pode comprar a YPF, estatal argentina do setor de petróleo, que surgiram após a eleição do libertário Javier Milei à presidência do país vizinho.

“Não é porque o presidente da Argentina anunciou a venda da YPF que nós compraremos. Não é exatamente o que estamos procurando, mas ainda nem sei também o que está sendo vendido. Podemos ver a venda de ativos que interessem”, expôs Prates.

“A gente já tem uma presença na Argentina, em Vaca Muerta. Temos 1/3 da planta. Lá produzimos, inclusive, gás de cozinha, que importamos para o Rio Grande do Sul. Já aprovamos US$ 600 milhões para o aprimoramento e expansão desta planta, junto dos sócios. Fora isso, não temos nenhuma análise em curso, mas é claro que avaliamos toda oportunidade. Hoje, no entanto, o ambiente está muito confuso”, falou.

Dividendos

Os executivos trataram também de defender que os aportes não irão afetar fatores como a política de dividendos – o que vinha sendo temido por analistas de mercado.

“Temos três pilares na alocação de capital. Continuamos com compromisso com o teto de dívida e de caixa mínimo. Olharemos isso com muita atenção. Temos o compromisso de trazer apenas investimentos rentáveis. Todos os novos projetos, mesmo em transição, terão isso em foco. Por fim, pagaremos dividendos de forma robusta”, comentou Szczerbacki.

De acordo com o CFO, Sergio Caetano Leite, o fluxo de caixa operacional da Petrobras será suficiente para manter os investimentos prometidos. No entanto, o executivo não descartou novas emissões de dívida ou a busca por parcerias.

Leite, como argumento para isso, lembrou que em torno de 75% do portfólio da Petrobras tem um preço de produção de US$ 30 a US$ 35 dólares.

“Não há risco de não conseguirmos financiar o Capex deste plano. Está dentro do faturamento”, defendeu.

“Quanto aos dividendos, a Petrobras é uma excelente pagadora. Estamos acima da média. Não precisamos fazer esforços. Havia, isso sim, um descasamento da distribuição com a política de uma empresa que quer crescer”, debateu o CFO.

Por fim, a diretoria da Petrobras deixou claro que o plano é maleável.

“O plano pode ser ajustado a depender da situação. Alguns perguntam se ele será fixo. Se ano que vem será a mesma coisa. Ano que vem pode, sim, mudar”, disse o presidente da estatal.

“Esse plano apresentado é para o futuro da companhia. Até as últimas gestões, os planos eram todos voltados ao curto prazo. Dividendos, venda de refinarias, lucro. Esse plano foca na sustentabilidade da estatal como empresa, buscando retorno para o Brasil e para os investidores no longo prazo. E isso é possível”.

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