Petrobras (PETR4): interesse na Namíbia e acordo com Cade são positivos para estatal?

Analistas veem notícias sobre exploração na África em linha com sinalizações de aumentar reservas futuras

Lara Rizério

Posto da Petrobras em Brasília 07/03/2022 REUTERS/Adriano Machado
Posto da Petrobras em Brasília 07/03/2022 REUTERS/Adriano Machado

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Nos últimos dias, alguns desdobramentos sobre a Petrobras (PETR3;PETR4) foram acompanhados de perto pelos investidores, trazendo indicações principalmente sobre os investimentos em capital para a companhia, um dos pilares da tese nas ações.

Nesta semana, a Reuters informou que a Petrobras e mais 11 petroleiras manifestaram interesse em comprar uma participação de 40% na principal descoberta de petróleo offshore da Galp Energia na Namíbia, segundo fontes envolvidas no processo de venda. Estima-se que a descoberta de Mopane contenha cerca de 10 bilhões de barris e a Galp lançou o processo em abril para vender metade da sua participação de 80%, bem como o direito de se tornar operadora. A Petrobras se recusou a comentar sobre o processo de licitação, mas afirmou que estava avaliando oportunidades para expandir as reservas de petróleo na África.

Conforme destaca o Bradesco BBI, o possível interesse da Petrobras na participação mostra os esforços da empresa para aumentar suas reservas futuras, dado o atual ritmo de esgotamento de seus campos de petróleo, especialmente na bacia de Campos, bem como seu pico de produção, que deverá acontecer no início 2030.

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Além disso, em recente reunião, a presidente, Magda Chambriard, comentou sobre as descobertas na Namíbia. A Petrobras poderia utilizar o know-how da Namíbia na exploração da bacia de Pelotas (que estava ligada à Namíbia na Pangeia).

Na visão do BTG Pactual, embora qualquer investimento exploratório possa levar um tempo considerável para produzir resultados, acredita ser importante discutir esse assunto, uma vez que os empreendimentos anteriores da Petrobras em territórios estrangeiros não foram satisfatórios e geraram ceticismo no mercado.

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As reservas 1P da Petrobras estão atualmente em 10,9 bilhões de barris de óleo equivalente (boe), o que implica um índice de vida útil da reserva (RLI) de 12 anos. “Mais importante ainda, no início da próxima década, espera-se que a empresa entre em uma tendência de declínio de produção. Considerando os riscos e a natureza de longo prazo dos desenvolvimentos de campos de petróleo e gás, é fundamental que a empresa invista em novas fronteiras, como a Margem Equatorial, a Bacia de Pelotas e outras possibilidades”, avalia o banco, também reforçando que Magda Chambriard também enfatizou isso e, de acordo com alguns especialistas do setor, as estruturas geológicas na costa oeste da África são semelhantes às encontradas no Atlântico brasileiro.

O banco estima um ROA (Retorno sobre Ativos) médio da Petrobras nos últimos 5 anos em 9%, enquanto o segmento de Exploração & Produção (E&P) apresentou retornos de 16% durante o mesmo período, demonstrando não apenas a alta especialização da empresa, mas também o segmento mais importante na geração de valor.

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“Não há visibilidade sobre a estrutura de um potencial investimento da Petrobras nos ativos da Galp, e é provável que haja mais parceiros. No entanto, com base em um cálculo simples e supondo que a empresa detenha uma participação de apenas 1 bilhão de boe na Galp Mopane, a Petrobras poderia adicionar US$ 12 bilhões em valor com base em nosso múltiplo alvo para o segmento de E&P da companhia”, aponta o BTG.

A principal ressalva é o impacto potencial sobre a capacidade da empresa de pagar dividendos, já que a disposição de investir para gerar valor no longo prazo parece limitada neste momento. “Embora gostemos de medidas que garantam a sustentabilidade do crescimento no segmento de E&P da Petrobras, lembramos que nossa visão otimista em relação à Petrobras continua bastante ligada à nossa confiança nos resultados de curto prazo e à crença de que a assimetria para a geração de caixa (FCFE) é positiva no horizonte de 2024-26. Deixando de lado o ruído político, não vimos nenhuma mudança significativa em relação aos principais fundamentos da empresa desde que o novo governo assumiu, e os riscos parecem estar precificados”, avalia o BTG, que tem recomendação de compra para as ações, assim como o BBI.

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Refinarias

Já na noite de ontem (3), a Petrobras publicou comunicado a mercado sobre um aditivo ao acordo (TCC) firmado com a autoridade antitruste (Cade) a respeito dos desinvestimentos em refinarias, o que também influencia no plano de negócios da companhia.

Na visão dos analistas da XP, os documentos completos no Cade permitem algumas leituras interessantes. O aditivo desobriga a Petrobras de desinvestir as refinarias que ela ainda não vendeu (REPAR, REFAP, RNEST, REGAP e Lubnor). Como já era amplamente esperado, a Petrobras não deve seguir com novos desinvestimentos nessa área, avalia a equipe.

Por outro lado, mantém a obrigação de desinvestimentos das que já foram vendidas (RLAM, REMAN, SIX). “Na nossa opinião, isso pode indicar que a Petrobras não deve retomar o controle das refinarias já desinvestidas, por conta do novo empecilho jurídico”, avalia.
A Petrobras adotou compromissos comportamentais sobre a comercialização de derivados, em que se compromete a precificação dentro do intervalo entre o “Custo alternativo do Cliente” (algo que a XP entende como algo próximo a PPI, ou paridade de preços de importação) e “Valor Marginal” (entende próximo a PPE, ou paridade de preços de exportação). A empresa também se compromete a disponibilizar acesso ao Cade via “Data Room” dos relatórios de precificação. “Consideramos a supervisão antitruste adicional como um indicador positivo para a governança da política de preços.
Sobre a venda de petróleo para refinadores terceiros, deve seguir em linha com as práticas de mercado”, aponta.

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O Bradesco BBI aponta ainda que, com o acordo da Petrobras em não ter preços de petróleo discriminatórios no mercado interno para players privados, o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) de Mataripe, a antiga RLAM, atualmente pertencente à Mubadala Investment Company e que foi vendida pela Petrobras, poderia aumentar.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.