É hora de se despedir da “nova” Petrobras (PETR4)? Estatal perde R$ 54,2 bi de valor na semana com cautela em alta após eleição

Repercussão das eleições, ruídos sobre dividendos e especulações sobre nova gestão da companhia: semana foi agitada - e negativa - para estatal

Lara Rizério

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A semana pós-eleição, com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foi de forte queda para as ações da Petrobras (PETR3;PETR4), em um período agitado para a companhia, com resultados, anúncio de dividendos e ruídos posteriores sobre o pagamento de proventos da estatal.

Na semana, os ativos da petroleira estatal foram destaque de queda do Ibovespa, com baixa de 11,38% (R$ 31,71) para os ativos PETR3 e de 13,11% (R$ 28,30) para os papéis PN. Com isso, em apenas quatro pregões, a empresa saiu de um valor de mercado de R$ 448,75 bilhões para R$ 394,5 bilhões, ou uma queda de R$ 54,2 bilhões de valor de mercado. O movimento foi contrário ao do Ibovespa, que na mesma semana, teve alta de 3,16%. 

O final da semana foi marcado ainda pela divulgação de resultados da companhia, na quinta-feira, que mais uma vez teve resultados fortes, com números que superaram as projeções médias do mercado, associados ao forte pagamento de dividendos, o que tem sido a tônica para os últimos trimestres da companhia após anos de balanços pressionados e alto endividamento.

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A estatal teve lucro líquido de R$ 46,09 bilhões no terceiro trimestre de 2022 (3T22), alta de 48% ante o mesmo período do ano passado, com a disparada dos preços do petróleo na mesma base de comparação (ainda que em queda frente o 2T22), informou a companhia, que manteve ainda uma estratégia de diversificação de seus clientes diante do conflito na Ucrânia.

O lucro veio acima do resultado esperado por uma pesquisa da Refinitiv, de R$ 43,37 bilhões. O preço médio do petróleo tipo brent foi de US$ 100,85 por barril entre julho e setembro, segundo a companhia, contra US$ 73,47 um ano antes, ainda que com baixa ante US$ 113,78 no trimestre anterior. Em dólar, o resultado líquido da empresa entre julho e setembro foi de US$ 8,8 bilhões, o quarto maior lucro líquido trimestral da história dela.

O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado foi de R$ 91,421 bilhões no 3T22, ante projeção de R$ 87,99 bilhões e 50,5% acima do reportado no 3T21.

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Conforme destacou o Bradesco BBI, a companhia registrou outro trimestre excepcional, com destaque para o upstream (exploração e produção de petróleo e gás), bem como Gás e Energia, ambos superando as estimativas do banco. Neste último segmento, o Ebitda foi de US$ 800 milhões, ante projeção dos analistas de US$ 500 milhões. Os custos de extração permaneceram atrativos em US$ 5,85 o barril, com queda sequencial de 2,2% devido à desvalorização do real.

No downstream (transporte, distribuição e comercialização dos derivados do petróleo), por sua vez, o Ebitda ajustado foi de US$ 2,9 bilhões, abaixo da estimativa de US$ 5,0 bilhões da casa, devido a uma perda de estoque acima do esperado.

Para a Eleven, por sua vez, os números foram neutros, com a boa performance da venda de diesel (alta de 9% na base trimestral) devido à sazonalidade e preços mais resilientes não sendo suficiente para compensar o recuo da cotação do petróleo e demais itens na comparação trimestral. Frente o 2T22, os custos apresentaram elevação de 4% devido a maiores compras e importação de petróleo e derivados, o que, mesmo com a redução de 2% do lifiting cost (custo de extração) provocou a redução do Ebitda em 13% e queda da margem em 4 pontos percentuais (p.p.) no trimestre.

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O Credit Suisse, por sua vez, apontou que o resultado veio forte e de alta qualidade, ainda que em linha com as suas estimativas, com a queda sequencial sendo explicada principalmente pelos menores preços médios das commodities. O lucro líquido em dólares, de US$ 8,8 bilhões, superou as estimativas do banco em cerca de 27%, principalmente devido a perdas (não caixa) menores do que o esperado com variação cambial.

De qualquer forma, conforme aponta o BBI, a geração de fluxo de caixa livre aos acionistas (FCFE, na sigla em inglês) foi mais uma vez muito forte, de US$ 8,8 bilhões no trimestre. Como resultado, o Conselho de Administração da companhia aprovou na véspera o pagamento de dividendos no valor de R$ 3,3489 por ação preferencial e ordinária em circulação, totalizando um pagamento de R$ 43,7 bilhões.

Assim, mais do que os números fortes da companhia, ainda que algumas linhas do balanço tenham decepcionado, o grande destaque ficou mais uma vez para os proventos da estatal, que credenciaram a companhia mais uma vez como uma “vaca leiteira”.

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“Vale ressaltar novamente o o carrego impressionante do papel com dividend yield (valor do dividendo sobre o preço da ação)  de 11% pras preferenciais e 10% para as ordinárias no trimestre (preferimos estar posicionado nas preferenciais)”, avaliaram os analistas do Credit.

Com isso, à sessão desta sexta apontava para ser positiva. Às 9h42 (horário de Brasília), no pré-market da Bolsa de Nova York, os ADRs (na prática, os papéis da companhia negociados nos EUA) PBR (equivalentes aos ordinários) subiam 2,99%, a US$ 13,44, também em meio à alta do petróleo brent, que fechou o dia com ganhos de cerca de 5%, acima de US$ 98 o barril. O movimento da commodity ocorreu com as notícias de que a China está trabalhando para flexibilizar sua política de Covid-19, conforme informou a Bloomberg News.

As ações da companhia listadas na B3 tiveram o mesmo movimento no início do pregão, com os papéis PETR3 tendo ganhos de 1,97%, a R$ 34,12, enquanto PETR4 subia 2,24%, a R$ 30,62 por volta das 10h10. Porém, ainda na primeira hora do pregão, por volta das 10h40, os papéis viraram para queda e, às 10h43, tinham baixa de 1,29% (R$ 33,03) para PETR3 e de 0,53% (R$ 29,79) para PETR4.

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A aversão ao risco aumentou durante o pregão e as ações fecharam em queda de mais de 5%, em meio a ruídos justamente sobre os dividendos atuais da Petrobras, que tanto têm guiado a tese de investimentos na companhia, a despeito do risco político.

Otimismo? Pelo contrário

Olhando para os números e o alto pagamento de dividendos da Petrobras, a princípio poderia se pensar que os analistas elevariam as suas projeções para a estatal e estariam bastante otimistas sobre o futuro das ações. Contudo, as últimas semanas (e particularmente a última, pós-eleição) foi de rebaixamento de estimativas e recomendações para os ativos, ainda que com a avaliação de que os múltiplos das ações da petroleira estão atrativos.

A aversão ao risco do mercado com relação aos papéis da empresa aumentou, com analistas de mercado já elevando a cautela com a Petrobras antes mesmo da eleição, o que foi reforçado depois de Lula ser eleito presidente no último domingo.

O futuro governo tende a intensificar a presença do Estado no setor de refino de petróleo, com possíveis impactos nos rumos dos preços dos combustíveis da Petrobras, conforme sinalizações de planejadores de políticas da equipe do petista. O próprio Lula prometeu rever o Preço de Paridade de Importação (PPI) praticado desde 2016 pela Petrobras, de forma que os valores dos combustíveis reflitam “custos nacionais”, sem, portanto, acompanhar as oscilações do dólar e do petróleo no mercado internacional.

Após a eleição, analistas do JPMorgan cortaram a recomendação das ações da Petrobras para “neutra” e reduziram o preço-alvo a R$ 37, de R$ 53 anteriormente, citando incertezas relacionadas à petrolífera após a vitória de Lula.

Os temores do mercado se intensificaram com as manifestações contrárias de integrantes do PT, como a presidente do partido Gleisi Hoffmann, contra o atual valor dos dividendos da empresa, enquanto foram destacadas ofensivas para bloquear o dividendo anunciado ontem.

Na véspera, a Associação Nacional dos Petroleiros Acionistas Minoritários da Petrobras (Anapetro) entrou com uma petição na Procuradoria Geral da República (PGR) e no Tribunal de Contas da União (TCU) para bloquear os dividendos da estatal.

“Se o tribunal decidirá ou não a favor dessa ação ainda não se sabe. No entanto, mesmo que a Petrobras não seja impedida de pagar os dividendos do 3T22, a medida sugere como será a abordagem que a próxima administração da Petrobras poderá ter, muito mais focada no financiamento de novos projetos e menos nos dividendos”, apontou o BBI em breve nota.

Posteriormente, a notícia de que o MP do TCU pediu a suspensão de pagamento de dividendos fez com que as ações da Petrobras desabassem na sessão desta sexta-feira.

“Embora preliminar (ainda não há decisão final do TCU), vemos o desenvolvimento como negativo para a Petrobras, pois cria incerteza adicional sobre se o novo governo considerará reduzir os dividendos da Petrobras para fomentar investimentos em refino e energias renováveis, entre outros”, disseram os analistas do Goldman Sachs em relatório durante a tarde.

Cabe ressaltar que, mais cedo, logo após os resultados e os dividendos, o Goldman reduziu a recomendação para os ativos da Petrobras de compra para neutra devido ao aumento da incerteza em torno das políticas a serem adotadas nos próximos anos.

“Os pagamentos de dividendos têm sido um foco dos investidores de petróleo, enquanto o presidente eleito e o seu entorno mencionaram sua intenção de diminuir o pagamento de dividendos e promover investimentos em refino e energias renováveis, onde a Petrobras não tem um histórico significativo. Ainda vemos o valuation como relativamente barato mas, se o pagamento de dividendos for reduzido, pode haver um risco significativo de queda nas nossas projeções”, avalia.

Os analistas projetaram que, daqui para frente, os investidores se concentrarão nas políticas a serem implementadas pelo governo recém-eleito a partir de 1 de janeiro, o que poderia potencialmente mudar o foco de venda de ativos e retorno de capital aos acionistas (dividendos) para novas vias de crescimento e eventuais subsídios para combustíveis, levando em conta notícias recentes.

“Por fim, observamos que, embora estejamos otimistas com o preço do petróleo no médio/longo prazo, reconhecemos o risco de curto prazo para o preço do petróleo decorrente dos riscos de recessão global (o preço do petróleo é o principal catalisador da lucratividade do negócio de exploração e produção da Petrobras)”, avaliam os analistas do Goldman. O preço-alvo para os ativos PETR4 é de R$ 31,40, alta de 5% frente o fechamento da véspera.

O Credit Suisse, que no último dia 17 também cortou a recomendação para a ação da estatal para neutro, também ressaltou após o resultado trimestral que, apesar dos números muito favoráveis, segue com uma visão cautelosa dada as incertezas pós-eleições e os riscos envolvendo dividendos, política de preços e alocação de capital.

Na mesma linha, no podcast Stock Pickers, do InfoMoney,  Paolo Di Sora, sócio-fundador e CIO da RPS Capital, apontou que o megadividendo deste último trimestre talvez tenha sido “a última notícia do namoro do mercado com a Petrobras”, afirmando ter zerado a posição na companhia, de olho no noticiário político.

A XP, por sua vez, mantém recomendação de compra para os ativos, apontando que a empresa se manteve como uma das majors de petróleo e gás mais baratas do mundo, negociando a 2,2 o valor da empresa (EV) sobre o Ebitda esperado para 2023.

Os analistas da casa ponderam que existem várias questões em aberto sobre como será a governança corporativa da empresa a partir de 2023, enquanto o cenário base ainda é que os preços dos combustíveis sigam a precificação por paridade de importação (“PPI”) e sem grandes desembolsos de capex (investimentos em capital) para novos projetos a serem implantados nos próximos anos.

“Acreditamos que os investidores negociarão a ação no curto prazo de acordo com o fluxo de notícias relacionadas a indicações de como o próximo governo se comportará em suas políticas econômicas. No entanto, vemos muitos dos piores resultados já incorporados nos preços das ações e, portanto, mantemos nossa classificação de compra”, avaliam.

Assim, apesar de analistas verem as ações como muito baratas e os dividendos atrativos, a cautela aumenta cada vez mais, com os direcionadores de curto prazo para o papel devendo ser o noticiário político e as definições sobre o comando da estatal.

“Se nas gestões [Michel] Temer e [Jair] Bolsonaro a empresa vendeu participações em empresas, como a TAG (gasoduto) e BR Distribuidora (atual Vibra VBBR3), participação em campos de petróleo, refinarias e cessou obras, no governo Lula há uma tendência à retomada dos investimentos na exploração e refino”, avalia Pedro Paulo Silveira, diretor da Nova Futura Asset.

Ele ressalta que a dívida líquida da empresa é de R$ 257 bilhões, e a relação dívida líquida sobre Ebitda é de 0,75 vez, muito menor do que foi na gestão Dilma Rousseff, com o indicador pressionado pelo forte aumento da dívida (decorrente do plano de investimentos e pela queda do Ebitda (causado pela política de controle dos preços).

“A empresa teve a relação dívida líquida sobre Ebitda atingindo 6 vezes em 2014 e 2015 e teve problemas sérios para a sua administração financeira. Nessa ocasião, a sua dívida quase foi resgatado integralmente pelos credores, em respostas às condicionalidades (covenants) existentes em seus bonds e debêntures, que exigiam a publicação dos balancetes dentro do prazo e de manutenção da relação dívida líquida/Ebitda em, no máximo, 3,5 vezes. Foi nesse período que os preços de PETR4 colapsaram e atingiram R$ 4,12 (em março de 2016)”, aponta.

Para o especialista, o terceiro trimestre de 2022 deve ser um dos últimos nos quais haverá indicadores de endividamento e rentabilidade nos níveis atuais para a companhia. Assim, com risco em alta e definições no radar, como do novo presidente e da nova diretoria da Petrobras, o mercado tem reduzido a sua exposição aos ativos.

Confira a reação do mercado com o noticiário do dia sobre Petrobras assistindo ao Radar InfoMoney abaixo:

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.