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Como já sinalizado pelos investidores desde a semana passada, o resultado das eleições com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a presidência da República leva a fortes variações entre setores na Bolsa.
Na ponta negativa, as ações ordinárias da Petrobras (PETR3) caíram 7,04%, a R$ 33,26, enquanto os ativos PETR4, referentes aos preferenciais, tiveram baixa de 8,47%, a R$ 29,81.
O futuro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tende a intensificar a presença do Estado no setor de refino de petróleo, com possíveis impactos nos rumos dos preços dos combustíveis da Petrobras, conforme sinalizações de planejadores de políticas da equipe do petista.
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O próprio Lula prometeu rever o Preço de Paridade de Importação (PPI) praticado desde 2016 pela Petrobras, de forma que os valores dos combustíveis reflitam “custos nacionais”, sem, portanto, acompanhar as oscilações do dólar e do petróleo no mercado internacional.
Na prática, Lula tentará conter, de antemão, uma eventual escalada nos preços dos derivados do petróleo, como experimentou o presidente Jair Bolsonaro no primeiro semestre, em pleno ano eleitoral, sob os impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia, que reduziu a oferta global dos produtos.
Contudo, a eventual mudança na política de preços da Petrobras deve encontrar obstáculos na Lei das Estatais e no estatuto da empresa. O governo também teria de encontrar uma maneira de não reduzir a competitividade das importações, visto que no caso do diesel elas hoje atendem cerca de 30% da demanda interna.
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A revisão da política viria acompanhada de um fortalecimento da produção de derivados pela Petrobras, se o novo governo seguir os estudos técnicos que embasaram o seu programa.
Após a eleição, analistas do JPMorgan cortaram a recomendação das ações da Petrobras PETR4.SA para “neutra” e reduziram o preço-alvo a R$ 37, de R$ 53 anteriormente, citando incertezas relacionadas à petrolífera após a vitória de Lula.
A equipe de estratégia da XP Investimentos, liderada por Fernando Ferreira, destacou em relatório antes da abertura que, na semana passada, os ativos brasileiros tiveram desempenho fraco e inferior ao dos mercados globais,. O Ibovespa caiu 4,5% e o real desvalorizou 2,5%, com o mercado precificando menores chances de reeleição do presidente Jair Bolsonaro. As ações das empresas estatais estiveram entre as maiores quedas, já que tanto a Petrobras quanto o Banco do Brasil (BBAS3) caíram mais de 13% durante a semana. Nos primeiros negócios, BB fechou em baixa de 4,64%, a R$ 37,02.
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Para os analistas da casa, esse deve ser o tom do mercado nos próximos dias, e as ações das estatais devem continuar voláteis, dada a persistente incerteza em relação às suas políticas futuras.
“No caso do Banco do Brasil, essas questões giram em torno das linhas de concessão de crédito subsidiadas. Para a Petrobras, as principais questões são em relação à futura política de precificação de combustíveis, bem como seus programas de investimentos futuros, apontam os analistas da XP.
Os papéis da petroleira estatal tiveram queda durante todo o dia, mas que foram mais amenas ou mais fortes a depender das especulações que ganharam força durante o pregão. Os ativos chegaram a cair 10% após notícias (que ganharam força com a apuração do Broadcast) , de que o senador Jean-Paul Prates (PT-RN) deve assumir a presidência da companhia. De acordo com a publicação, Prates deve substituir política de paridade de importação (PPI) e adotar três ações para garantir o abastecimento interno, ao mesmo tempo em que se buscará evitar a volatilidade dos preços internacionais.
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Há quem veja a baixa como uma oportunidade. Marcos Peixoto, gestor da XP Asset, destacou durante live promovida pelo InfoMoney nesta segunda-feira que BBAS3 e os ativos de Petrobras estão negociando a múltiplos muito baixos, – algumas perto do menor valor histórico –, e que uma eventual queda mais expressiva das ações pode ser oportunidade de compra.
Educacionais, consumo e construtoras
Por outro lado, as ações do setor de educação tiveram um forte desempenho na semana passada, com Yduqs (YDUQ3) subindo 22% e Cogna (COGN3) 9%.
O movimento de alta continuou após a eleição de Lula. Ele começou tímido nesta sessão, mas ganhou força, sendo que YDUQ3 fechou com alta de 5,42%, a R$ 16,13, enquanto Ânima (ANIM3), que teve sua recomendação elevada pelo Morgan Stanley, saltou 11,02%, a R$ 6,85. Os ativos de Cogna subiram menos, mas ainda tiveram ganhos de 3,46%, a R$ 3,29.
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A expectativa é de que Lula fortaleça os programas de financiamento estudantil, o que beneficia as ações de educacionais, ainda que não haja mais detalhes sobre as medidas a serem adotadas.
Construtoras e empresas de consumo também ganham destaque na sessão, com analistas também vendo os setores como beneficiadas em meio ao cenário de continuidade dos auxílios à população, além de medidas de consumo, fortalecimento dos programas habitacionais.
Empresas como CVC (CVCB3) avançaram 9,63%, enquanto Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4) subiram 8,91% e 8,83% respectivamente, também repercutindo a queda do dólar, que teve baixa de 2,54%, a R$ 5,165 na compra e R$ 5,166 na venda.
Enquanto isso, MRV (MRVE3) – que é apontada como uma das principais beneficiadas entre as construtoras com os programas habitacionais – subiu 3,98%. Direcional (DIRR3) avançou 3,83%, enquanto Cyrela (CYRE3) teve alta de 4,09%.
Com relação à construtoras, o Goldman Sachs destacou que a Direcional pode ser uma das maiores beneficiadas. “É importante ressaltar que, embora não conheçamos os detalhes da proposta do presidente eleito Lula, nenhuma empresa sob nossa cobertura atualmente se concentra no Grupo 1 do programa, que está na faixa de renda mais baixa; em vez disso, as construtoras estão focadas nos Grupos 2 e 3 com faixas de renda que variam de R$ 2,5 mil a R$ 8 mil. Dito isso, em termos de posicionamento, vemos a Direcional como mais diretamente exposta ao programa de renda mais baixa”.
Alpargatas (ALPA4), Lojas Renner (LREN3), Natura (NTCO3), RD (RADL3), de consumo, também ficaram entre as maiores altas do dia, com a expectativa de que as medidas de auxílio prossigam e deem estímulos ao setor.
Maiores altas
Ativo | Variação % | Valor (R$) |
---|---|---|
CVCB3 | 9.63303 | 7.17 |
ALPA4 | 9.03674 | 21.96 |
AZUL4 | 8.9129 | 16.13 |
GOLL4 | 8.83352 | 9.61 |
HAPV3 | 8.48401 | 7.8 |
Maiores baixas
Ativo | Variação % | Valor (R$) |
---|---|---|
PETR4 | -8.47406 | 29.81 |
PETR3 | -7.04304 | 33.26 |
BBAS3 | -4.63679 | 37.02 |
SUZB3 | -3.4658 | 53.2 |
JBSS3 | -3.2183 | 24.96 |
(com Reuters)