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A Petrobras (PETR3;PETR4) fechou em queda nesta quinta-feira (17), dia em que os preços dos barris de petróleo disparam – o Brent, parâmetro para a companhia, teve alta de quase 9%, fechando com avanço de 8,79%, com o barril fechando em US$ 106,64. Mais uma vez, ameaças políticas rondaram a estatal e derrubaram as ações.
Os ativos PETR3 fecharam em queda de 2,64%, a R$ 32,87, enquanto os ativos PETR4 caíram 2,66%, a R$ 30,01; as ações de outras empresas do setor, como 3R Petroleum (RRRP3) subiu 4,56%, a R$ 35,51, e PetroRio (PRIO3) saltou 8,16%, a R$ 25,05.
A verdade é que os papéis da petroleira, nos últimos tempos, têm tido uma relação não muito correlacionada ao preço do produto que a companhia vende. Do início do ano até agora, as ações preferenciais da Petrobras acumulam alta de apenas cerca de 5%, enquanto o preço do petróleo já avançou mais de 35%.
E as duas últimas sessões foram particularmente de queda para as ações em meio à pressão após o grande reajuste de preços feito pela companhia na semana passada, que tem o potencial de prejudicar a imagem do presidente Jair Bolsonaro em ano eleitoral. Desde então, Bolsonaro tem dado sinalizações e aumentado as especulações de que pode mudar, se não o CEO Joaquim Silva e Luna, diretores da companhia.
Ontem, Bolsonaro afirmou: “Existe a possibilidade, todo mundo pode ser substituído se não estiver fazendo trabalho a contento”, declarou o chefe do Executivo em entrevista à TV Ponta Negra, afiliada do SBT no Rio Grande do Norte. “Todos podem ser trocados por falha ou omissão.”
Ele ainda elevou o tom das críticas à estatal. “Petrobras se transformou em Petrobras Futebol Clube, clubinho que só pensa neles, jamais no Brasil, até mesmo repasse para o gás de cozinha, impensável, fizeram também”.
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Já na noite da véspera, o portal Poder360 afirmou que Bolsonaro gostaria de demitir de dois a três diretores da estatal, citando também a irritação com aumento de combustíveis. Ele estudaria como trocar integrantes da diretoria que mais defendem o atual sistema de preços, baseado nos valores internacionais do petróleo e no câmbio. O atual presidente da estatal, Silva e Luna, por sua vez, permaneceria no cargo, segundo informações da reportagem.
Nesta manhã, por sua vez, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), criticou em rede social a política de preços da companhia.
O barril sobe e a Petrobras aumenta. O barril baixa e a Petrobras não reduz o preço? É importante que a estatal recue o preço do aumento que deu porque o dólar está caindo e o barril está caindo, dois componentes que fazem parte da política de preços dos combustíveis.
— Arthur Lira (@ArthurLira_) March 17, 2022
Possíveis alterações na estatal deixam analistas com o radar ligado. Anteriormente, em outros governos, interferências políticas na Petrobras já causaram problemas, que são, inclusive, pagos até hoje.
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Boa parte da dívida líquida que a companhia ainda traz consigo, atualmente US$ 47,6 bilhões, é remanescente de épocas em que governos optaram por obrigar a estatal a controlar preços. A Petrobras chegou a dever cerca de US$ 127,5 bilhões.
De acordo com informações da Folha de S. Paulo, a cúpula da empresa tem dito internamente que não há data para diminuir os preços dos combustíveis, diante de um cenário de volatilidade de preços internacionais do petróleo e queda do dólar.
O presidente da Petrobras, disse que tal decisão depende do comportamento do mercado, ignorando as ameaças do presidente da República e as reclamações do presidente da Câmara.
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Interferência na Petrobras pode não ser interessante para o governo
Apesar de a ideia de controlar preços dos combustíveis parecer fácil, a verdade é que, atualmente, parte dos políticos já tem mais ressalvas para com essa política – justamente pelos impactos que ela causou no passado.
A XP Investimentos vê um “jogo de xadrez intrincado” no Brasil quando o assunto é petróleo e combustíveis, com parte das autoridades ligadas ao executivo desejando uma interferência, mas outra alertando que isso pode causar problemas. “Mantemos nossa visão de que tal movimento teria que ser precedido por uma mudança no estatuto da Petrobras e tal ação provavelmente provocaria turbulência nos mercados financeiros brasileiros, incluindo no câmbio, o que poderia acabar sendo pior para o governo”, explicam.
Não é necessário voltar muito no tempo para lembrar como uma possível intervenção na estatal pesa sobre todo o mercado brasileiro. Em fevereiro do ano passado, quando o presidente Jair Bolsonaro optou por retirar o então presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, do cargo, também por conta da alta dos preços dos combustíveis da época, a ação caiu mais de 20%, o Ibovespa recuou mais de 5% e o dólar avançou quase 1,5% frente ao Real (no fim, impulsionando ainda mais a inflação).
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Assim, outras hipóteses de mudanças para alterar a política de preços estão no radar.
“A possibilidade que parece estar ficando mais concreta é uma nova forma de ressarcimento de combustíveis, semelhante ao que o ex-presidente [Michel] Temer fez com os preços do diesel em 2018, após a greve dos caminhoneiros. Esse movimento também não é trivial, pois há preocupações fiscais e até legais sobre isso”, comentam os analistas da XP Andre Vidal, Victor Burke e Thales Carmo em relatório.
Em 2018, o governo do então presidente Michel Temer acabou por subsidiar combustíveis utilizando verba federal, não afetando diretamente os cofres da estatal.
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O Bradesco BBI, por sua vez, vê que uma demissão dos diretores da companhia, como destacado pelo Poder 360, colocaria o conselho de administração em uma situação complicada. “Quaisquer demissões entre os diretores precisariam ser aprovadas pelo conselho da empresa em sua reunião mensal. Se a especulação da mídia for realmente verdadeira, isso deixaria o conselho de administração da Petrobras em uma posição difícil, pois não haveria, em nossa opinião, qualquer justificativa para demitir funcionários por cumprir a lei SOE de 2016”, comentam os analistas do banco.
A Lei das Estatais de 2016 implementou a obrigatoriedade da paridade dos preços da Petrobras com o mercado internacional, prevendo que avaliações sejam feitas ao menos uma vez por mês, e também uma margem para remunerar os riscos tomados por acionistas.
Atual preço da estatal “pode valer o risco”
Para parte dos investidores, o risco de investir na Petrobras, ultimamente, não anda compensando. “Os mais pessimistas argumentam que o atual dividend yield não é suficiente para cobrir todos os riscos potenciais”, pontua o Morgan Stanley.
Ainda de acordo com o Morgan Stanley, porém, a Petrobras continua sendo o nome favorito entre as companhias do setor petroleiro para a maioria dos investidores. “Houve muito debate sobre a estratégia da empresa sob uma potencial nova administração a partir de 2023, mas o sentimento em geral é otimista, com boa avaliação da proposta de risco-recompensa das ações”, afirmam os analistas.
Para eles, ainda há espaço para a Petrobras gerar bons dividendos no futuro. “Embora se espere que o capex aumente à frente, o perfil escalonado da distribuição de caixa de investimentos materiais, como com a venda de novas refinarias, pode levar os acionistas a surfarem ainda por um bom tempo em uma forte geração de fluxo de caixa livre”, explicam. “Os mais otimistas argumentam que a avaliação é barata o suficiente, com o pior caso já no preço”.
A XP também aponta que, apesar de ver o risco político, o atual valuation da Petrobras, para os analistas da corretora, tornam as ações atraentes. “. A empresa tem ficado atrás das principais empresas em termos de alinhamento aos preços do Brent. Isso significa que a Petrobras pode não sofrer tanto em um cenário em que a produção de xisto dos EUA decole e os preços do petróleo caiam”, comentam.
“Reconhecemos o risco político, mas a valorização e o alto dividend yield nos fazem manter nossa recomendação de compra para as ações preferenciais Petrobras com preço alvo de R$ 46,4″, afirma o relatório da XP. Nesta quinta-feira, os papéis da companhia fecharam o pregão em R$ 30,01 (potencial de alta de 54% frente o fechamento da véspera).
Já o Morgan Stanley tem recomendação equalweight (exposição em linha com a média do mercado) para os ADRs da Petrobras, apontando justamente os riscos políticos no radar.
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