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SÃO PAULO – Pegou o mercado de surpresa o anúncio da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados (Opep+) na véspera de que os níveis de produção de abril serão os mesmos de março, com exceções pontuais feitas ao Cazaquistão e à Rússia. Deste modo, a oferta da commodity não deve aumentar mais do que 150 mil barris por dia no próximo mês.
A equipe de análise do Credit Suisse lembra que a mediana das projeções do mercado era de um incremento de 500 mil barris por dia em abril. Os analistas do banco suíço ainda que a Arábia Saudita prorrogou seu corte de 1 milhão de barris por dia e que os sauditas só vão gradualmente retornar a seus níveis anteriores de produção.
“Na prática, a Opep+ está segurando em torno de 7 milhões de barris por dia do mercado – o equivalente a perto de 7% da demanda global – mesmo em um cenário de recuperação no consumo de combustíveis em diversos países”, escrevem em relatório os analistas Leandro Fontanesi e Matheus Sleiman, do Bradesco BBI.
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Com a notícia, o barril do petróleo tipo Brent – usado como referência pela Petrobras – sobe 3,66% a US$ 69,18 às 16h35 (horário de Brasília) desta sexta-feira (5), enquanto o barril do WTI tem alta de 3,51% a US$ 66,06.
Em outros tempos, o avanço na cotação do petróleo seria visto como um motivo inequívoco para as ações da Petrobras (PETR3; PETR4) se valorizarem. No entanto, o cenário é incerto para a estatal, que recentemente viu seu presidente, Roberto Castello Branco, ser demitido em meio ao descontentamento do presidente Jair Bolsonaro com o aumento nos preços da gasolina e do diesel.
O presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo, avaliou na véspera que a companhia não teria como evitar um novo aumento de combustíveis esta semana diante da decisão da Opep.
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A defasagem dos preços da gasolina no Brasil em relação a seu preço internacionalmente passou a ser de 11%, ao passo que a defasagem do diesel chegou a 8%.
De acordo com os analistas do Bradesco BBI, as empresas brasileiras envolvidas na produção de etanol, como é o caso da São Martinho (SMTO3), também teriam a ganhar com um reajuste na gasolina levando em consideração a paridade internacional.
“Assumindo que os preços mais elevados do petróleo sejam repassados na gasolina, isso poderia levar a valores maiores do etanol no Brasil (já que o etanol compete com a gasolina na bomba), ao mesmo tempo em que a cana-de-açúcar também poderia ser vendida a preços mais altos, uma vez que as usinas poderiam aumentar o peso dos biocombustíveis no mix de suas produções e reduzir a oferta global de açúcar (o Brasil responde por em torno de 45% do comércio global)”, avaliam.
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Contudo, a equipe do BBI alerta que o momento pede maior clareza antes que se aposte em uma valorização dos papéis da São Martinho, pois tudo depende da condução da política de preços da Petrobras.
Os analistas do BBI cortaram a recomendação para a ação SMTO3 de outperform (desempenho acima da média) para neutra em 22 de fevereiro, no auge da crise da Petrobras com a troca de comando na estatal, justamente por conta do cenário que não pressupõe aumentos adicionais no preço da gasolina no longo prazo. Já para as ações da Petrobras, a recomendação é de venda, em meio ao cenário de incertezas para a estatal com a solicitação repentina para a troca de CEO.
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