Sinais de dividendos e de políticas pró-mercado: os fatores que fizeram a Petrobras ganhar R$ 15,7 bi após o balanço

Contudo, BBI, Credit e Morgan seguem cautelosos com companhia, enquanto Itaú BBA elevou recomendação e se mostrou mais otimista

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – Num cenário de alta de preços de commodities, a Petrobras (PETR3; PETR4) fechou o primeiro trimestre deste ano com lucro de R$ 1,167 bilhão. O resultado reverte o prejuízo de R$ 48,5 bilhões no primeiro trimestre de 2020, quando a pandemia de Covid-19 derrubou a cotação do petróleo do tipo Brent, negociado na bolsa de Londres, e também o consumo de derivados no Brasil.

Já nos primeiros três meses deste ano, a empresa aproveitou a alta do petróleo no mercado internacional para reforçar sua receita, ao promover reajustes em suas refinarias toda vez que o barril ficava mais caro nas principais bolsas de negociação do mundo.

A resiliência do agronegócio garantiu o crescimento da venda de óleo diesel, usado no transporte de produtos agrícolas. Enquanto o afrouxamento das medidas de isolamento manteve o comércio de gasolina. A Petrobras ainda conseguiu aumentar sua participação nos mercados dos dois combustíveis para 73%.

Na comparação com o quarto trimestre do ano passado, houve retração de 98,1% do lucro, por conta da desvalorização do real frente ao dólar, que pesou nas despesas financeiras.

Os números foram bem recebidos pelos investidores, fazendo com que as ações ON subissem 4,65%, a R$ 25,64, enquanto os papéis PETR4 avançaram 5,16%, a R$ 26,28. Em termos de valor de mercado, o ganho foi de R$ 15,7 bilhões, com a companhia passando de um market cap de R$ 322,3 bilhões de valor para R$ 338 bilhões em apenas uma sessão.

A avaliação é de que os números foram fortes e colocam a companhia na trilha de bom pagamento de dividendos. Os analistas avaliam que ainda há riscos no radar em meio às incertezas sobre como será a condução da nova gestão da companhia depois da interferência política que marcou a saída do último CEO. Contudo, os sinais dados durante a teleconferência de resultados com a continuidade das políticas de dividendos, de preços de combustíveis e de venda de ativos ajudaram a diminuir os temores (ainda que muitos analistas prefiram esperar para ver).

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O Bradesco BBI classificou os resultados divulgados pela Petrobras como positivos, com o Ebitda recorrente de R$ 47,7 bilhões em linha com sua estimativa e com o consenso do mercado. O rendimento do fluxo livre de caixa do acionista foi de 5%. Assim, o banco avalia que há uma boa probabilidade de que a empresa entregue um fluxo livre de caixa acima de sua estimativa de US$ 12 bilhões para o ano.

O banco destaca que a empresa continua em sua trajetória para redução do endividamento, avaliando que a Petrobras está a US$ 11 bilhões distante de atingir sua meta de dívida bruta de US$ 60 bilhões, o que impulsionaria uma política de dividendo mais alta. Com a expectativa sobre fluxo livre de caixa do acionista para este ano, além das vendas de ativos, o Bradesco espera que a empresa possa atingir esse patamar ainda em 2021.

Apesar dos bons resultados, o banco avalia que o mercado está mais interessado em compreender como a nova gestão irá se comportar em relação à política de dividendos, precificação de combustíveis, perspectiva de venda da BR Distribuidora e um fundo de estabilização dos combustíveis junto ao governo.

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O Bradesco mantém avaliação neutra e preço-alvo de R$ 32 para os papéis PETR4, alta de 28% frente o fechamento da véspera.

O Credit Suisse ressaltou que o Ebitda da Petrobras no primeiro trimestre, de US$ 8,7 bilhões, ficou 5% abaixo de sua estimativa. Mas diz que não se trata de uma surpresa, pois pode ser atribuído a vendas abaixo da expectativa, mesmo com a alta na produção de petróleo.

Os analistas também destacam que a desalavancagem da companhia coloca a empresa no trilho para pagar mais dividendos. “Com os preços do brent variando entre US$ 65 e US$ 70 o barril, acreditamos que a Petrobras acionará a política de dividendos antes do final do ano de 2021 – embora não no segundo trimestre, uma vez que a valorização do real e o pagamento de dividendos aumentará a dívida”, apontam.

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Esse é um catalisador significativo na avaliação dos analistas uma vez que o dividend yield (dividendo sobre o preço da ação) pode ficar acima de 20% se a política de dividendos da companhia for aplicada.

Em outubro de 2020, cabe lembrar, a Petrobras revisou sua política de pagamento de proventos, com a proposta de que o pagamento seja compatível com a geração de caixa, mesmo em exercícios em que não for apurado lucro contábil, dependendo da redução da dívida líquida da estatal.

No cenário em que o endividamento bruto da companhia estiver acima de US$ 60 bilhões, poderá ser apresentada a proposta de distribuição de dividendos, sem apuração de lucro contábil, quando se verificar redução de dívida líquida no período de doze meses anteriores, “caso a administração entenda que será preservada a sustentabilidade financeira da companhia”.

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Já em casos excepcionais, a política de remuneração é igual a 60% x (vezes) o (Fluxo de caixa operacional – Investimentos de capital), quando o endividamento bruto estiver abaixo de US$ 60 bilhões, mesmo na hipótese de não verificação de lucro contábil.

Para os analistas do Credit o valuation da estatal atrativo, mas ainda arriscado. Os riscos incluem (1) a continuidade da política de preços atrelada à paridade internacional, particularmente para gasolina, diesel e GLP; (2) mudanças no plano de negócios, com potencial aumento nos níveis de investimentos em capital; (3) antecipação da incerteza política com as eleições de 2022; (4) potencial overhang (excesso de ações no mercado) caso ocorra venda das ações do BNDES; e (5) volatilidade do preço do petróleo, devido a um aumento potencial das exportações da commodity pelo Irã.  O Credit mantém recomendação neutra e preço-alvo de US$ 10 para o ADR, frente aos US$ 9,22 negociados na quinta pelos papéis PBR na Bolsa de Nova York.

O banco Morgan Stanley também afirma que a percepção crescente de intervenção do governo nos últimos meses elevou a preocupação de que a independência da gestão se reduza. Isso é central para uma política de combustíveis funcional, diz o banco. Assim, o banco diz que suas projeções mais otimistas e mais negativas parecem igualmente plausíveis. Mesmo se não houver um desvio material nos próximos meses, o sentimento e a volatilidade devem continuar a dominar o debate, afirma o banco.

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O Morgan mantém recomendação equalweight (perspectiva de valorização dentro da média do mercado) e preço-alvo de US$ 8,50, frente os US$ 9,22 de fechamento na quinta pelos papéis PBR na Bolsa de Nova York.

Mais otimista, o Itaú BBA elevou após o resultado a recomendação de PETR4 de neutra para “outperform”, com preço-alvo para a ação preferencial de R$ 38 (alta de 52% frente o fechamento de quinta), citando que “os riscos que levaram a uma visão mais cautelosa ficaram muito mais reduzidos”.

Além do resultado forte, o novo presidente-executivo, Joaquim Silva e Luna, sinalizou no release de resultados manter estratégias adotadas na gestão anterior.  “O time novo da Petrobras não trouxe surpresas negativas… JS.Luna se comprometeu a seguir o plano e seguir com venda de ativos”, disse o banco em comentário a clientes. Na visão do Itaú BBA, o “valuation” da Petrobras está muito baixo.

“Vemos a Petrobras sendo negociada com um grande desconto em relação à maioria dos players globais (e até mesmo para nomes russos), com um perfil de geração de caixa bastante sólido”, afirmaram em relatório os analistas liderados por André Hachem.

“Mesmo quando executamos cenários estressados, ainda enxergamos o valuation se mantendo em termos muito positivos”, apontaram os analistas.

Sinais positivos na teleconferência

Mais sinais foram dados pela nova gestão da companhia em teleconferência com investidores e jornalistas nesta sexta-feira, com sinalizações que foram consideradas positivas.

A Petrobras apontou que mantém a política de reajustes de combustíveis e que busca competitividade.

Cláudio Mastella, diretor de Comercialização e Logística, disse que não há mudança na maneira de a empresa gerenciar preços de combustíveis, cujos reajustes são pautados no mercado internacional, reafirmou ele.

A questão de reajustes, que levou a uma disparada dos preços dos combustíveis no Brasil na esteira da alta do petróleo, resultou na demissão de Roberto Castello Branco da presidência da estatal, após descontentamento de Jair Bolsonaro. O diretor ponderou que a empresa tem mantido preços de combustíveis em níveis competitivos, evitando volatilidades.

A Petrobras ainda destacou que os desinvestimentos neste ano até 11 de maio somaram US$ 2,5 bilhões, registrando ainda entrada de caixa das vendas de ativos de US$ 472 milhões.

Em meio a um processo de venda de refinarias, a estatal destacou que o custo operacional do refino de petróleo da empresa caiu para R$ 1,4 bilhão no primeiro trimestre, versus R$ 1,6 bilhão no mesmo período de 2020.

Joaquim Silva e Luna disse em mensagem gravada para a teleconferência de resultados, nesta sexta-feira, que a empresa está desinvestindo para investir “mais e melhor”, concentrando esforços em plantas de refino próximas ao pré-sal.

Pelo plano da Petrobras, ela deverá vender cerca de metade de sua capacidade de refino, mantendo os ativos no Sudeste, principal centro consumidor.

A principal venda de ativo fechada foi justamente a refinaria Landulpho Alves (Rlam) e seus ativos logísticos associados, para a Mubadala Capital, por US$ 1,65 bilhão. “Essa ação planejada de gestão de portfólio irá dobrar produção de diesel S-10 nos próximos anos”, afirmou ele, citando o combustível com menor teor de enxofre. As vendas de diesel S-10 já chegam a cerca de 55% do total comercializado pela empresa.

Assim, com resultados fortes e sinais positivos da administração, os analistas voltam a ficar mais otimistas com a Petrobras: porém, muitos ainda esperam por mais informações antes de voltarem a ficar realmente animados com a estatal.

(com Reuters e Estadão Conteúdo)

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