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SÃO PAULO – A grande maioria daqueles que nasceram para os negócios acredita que o sucesso pleno só é alcançado com uma marca que não apenas seja famosa mundialmente, mas que se torne um vício a milhões de pessoas ao redor do planeta. Como uma grande banda de rock ou um astro de Hollywood, essa marca deve ser seguida de perto por seus fãs, ansiosos pelos novos lançamentos, que surgem a uma velocidade recorde e geram fortunas aos seus detentores.
Mas, são poucos os que conseguem este feito. Personagens do Mercado desta vez fala um pouco da história e dos ensinamentos do dono da maçã mais cobiçada da Terra, Steve Jobs. De bebê renegado pelos pais biológicos a detentor da Apple e da Pixar, o 110º maior bilionário do mundo acredita que para fazer um negócio dar certo, o empresário não pode apenas saber administrar bem, mas tem que ter pleno conhecimento e participação em cada etapa de criação, produção e distribuição do produto vendido.
A descoberta da eletrônica
Filho de uma estudante universitária e um professor de matemática vindo da Síria, Jobs nasceu em 24 de fevereiro de 1955 em São Francisco, nos Estados Unidos. Alheio ao contexto puritano instaurado no país na década de 1950, o pequeno bebê foi colocado à adoção pelos pais biológicos, que vislumbravam um futuro mais promissor ao filho do que aquele que eles poderiam oferecer.
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O sonho de Joanne Simpson, mãe de Jobs, era que ele fosse adotado por um casal de ricos estudiosos que pudesse colocá-lo na faculdade. Os candidatos, porém, passaram longe disso. Paul e Clara Jobs formavam um casal de classe média baixa e procuravam por um bebê disponível à adoção, dada a impossibilidade biológica deles de ter filhos. Mesmo sem eles preencherem os requisitos, Joanne acabou sendo convencida e aceitou que o casal Jobs adotasse seu bebê, que recebeu o nome de Steven Paul Jobs.
Logo nos primeiros anos de vida, enquanto crescia na cidade de Los Altos, no Vale do Silício, na Califórnia, Jobs já se interessou pelos equipamentos eletrônicos imensos que ocupavam quase todas as garagens de seus vizinhos. Vendo o interesse do filho pelo assunto, o pai adotivo de Jobs foi quem o apresentou a eletrônica, comprando para ele um Heathkit – extenso manual que contém os princípios básicos da eletrônica.
“As coisas se tornaram muito mais claras de que eram objeto de criação humana e não algo obtido através de uma mágica qualquer”, afirmou Jobs em entrevista à Computerworld em abril de 1995. “Isso me deu uma tremenda dose de autoconfiança para saber que através da exploração e aprendizado da eletrônica eu poderia compreender a complexidade dos aparelhos presentes em meio ao dia-a-dia”, completou.
Frequentando aulas de eletrônica no colégio Homestead High School, em 1969, Jobs conheceu duas pessoas que teriam extrema importância em sua vida no futuro: Bill Fernandes, um vizinho que também compartilhava do interesse em desvendar os mistérios por traz dos equipamentos eletrônicos, e Stephen Wozniak, mais conhecido como Woz. Os dois novos amigos de Jobs estavam empenhados em desenvolver um pequeno computador, apelidado de “The Cream Soda Computer”, que logo caiu no gosto de Jobs.
Em 1973, Jobs entrou na faculdade de artes Reed College, onde não chegou a completar um único semestre. “Eu não tinha ideia sobre o que eu queria fazer com a minha vida e de qual forma a faculdade me ajudaria a resolver isso. E, mesmo assim, eu estava lá gastando todo o dinheiro que meus pais tinham juntado a vida inteira. Então, eu decidi desistir do curso e acreditar que no final tudo iria ficar bem. No momento esta decisão foi bastante assustadora, mas hoje quando eu me remeto ao passado eu vejo que esta foi uma das mais sabias decisões que eu já tomei na vida”, disse Jobs no Stanford Commencement Address, em junho de 2005.
Nascimento da Apple
Mas, assim como na infância, a tecnologia dava sinais naquela época de que seria algo constante na vida de Jobs. Pouco tempo depois de abandonar a faculdade, ele conseguiu um emprego na Atari, a então maior fabricante de video-games do mundo. Por conta de seu extenso conhecimento de eletrônica, apesar de não ter feito faculdade, Jobs foi enviado pela Atari para diversos países, onde ele pôde contribuir para melhorar a tecnologia da companhia, como Índia e Alemanha.
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Enquanto viajava, Woz, seu amigo, foi contratado pela HP (Hewlett-Packard), onde ele teve o primeiro contato com o Altair – um protótipo de computador que só teve sucesso depois que Bill Gates e Paul Allen inventaram o Basic Interpreter, da Microsoft, o qual interpretava os códigos emitidos pela nova máquina. Mas, Woz sabia que poderia fazer algo melhor do que aquilo. Por isso, ao mesmo tempo que trabalhava na HP, Woz se empenhou em desenvolver uma nova plataforma tecnológica. O resultado foi impressionante: um poderoso computador, para os padrões da época, que funcionava com um teclado e uma tela, não mais através de luzes piscantes.
Quando Woz mostrou sua nova invenção a Jobs, ele sabia que, apesar de não entender muito de engenharia, a demanda por aquele tipo de máquina estava aumentando. Estava aberta uma importante porta na vida dos amigos. Ambos resolveram então criar uma empresa que pudesse fabricar pelo menos alguns exemplares da nova invenção. Para conseguir os US$ 1 mil necessários para começar a construir os computadores, Jobs vendeu sua Van e Woz, sua calculadora HP 65.
Eles pensaram sobre como devereia se chamar a nova empresa, mas não conseguiram chegar a um nome em comum até que um dia Jobs disse que, caso continuassem não tendo nenhuma boa ideia, ela se chamaria Apple – maçã em inglês. E como eles não tiveram esta tão procurada boa ideia, nascia assim a Apple Computer.
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Surgimento do Macintosh
Depois de sua criação, em pouco tempo a Apple começou a fazer sucesso. Com um produto novo em um mercado crescente, não faltaram pessoas querendo investir na companhia. Assim, em dezembro de 1980, a Apple fez o maior IPO (Oferta Pública Inicial, na sigla em inglês) da história norte-americana desde a oferta da Ford, em 1956. A incrível maçã de Jobs captou com a operação nada menos que US$ 210 milhões, que foram somados aos US$ 7,5 milhões que já representavam o valor de mercado da empresa na época da oferta. Nada mal para uma companhia de apenas alguns poucos anos de idade.
Mas, a boa fase da Apple passaria logo em seguida, com a empresa enfrentando sua primeira crise. Diante do sucesso de Jobs, a concorrência correu para desenvolver produtos que superassem a tecnologia da Apple, especialmente por parte da IBM. A solução encontrada por Jobs foi trabalhar em um projeto conceitual, que desse personalidade a um computador tão potente quanto aos outros do mercado, nascendo assim o Macintosh, em 1982.
Mas, depois de ter encorajado uma onda de novos usuários, as vendas do Macintosh começaram a cair rapidamente. Os consumidores reclamavam da lentidão do processador e de sua incapacidade em interpretar interfaces gráficas. Além disso, a máquina criada por Jobs era um tanto quanto cara em relação aos projetos da IBM, custando em torno dos US$ 2,5 mil – US$ 1 mil a mais que o PC da IBM.
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NeXT e Pixar
Jobs não conseguiu lidar com a decepção com um de seus “melhores filhos” e anunciou em setembro de 1985 sua saída da presidência da Apple, mantendo-se detentor da maioria das ações da empresa. Nos anos em que esteve fora da companhia, Jobs criou outro negócio de sucesso: a NeXT. O primeiro objetivo da nova empreitada era criar uma empresa que desenvolvesse computadores pessoais, uma vez que as novas máquinas estavam começando a perder seu caráter de uso apenas corporativo. Mas, o empresário emfrentou uma série de empecilhos judiciais de seus concorrentes. O resultado foi que Jobs teve que ampliar a área de atuação da NeXT, que passou a ter até um pequeno estúdio de animação, a Pixar.
Embora Jobs e os outros executivos da NeXT acreditassem que o sucesso da companhia viria da venda de processadores para computadores pessoais, chegando inclusive a planejar uma parceria com a IBM, a qual acabou não dando certo, foi a Pixar quem surpreendeu ao chamar a atenção de ninguém menos que a Walt Disney. Depois de ter feito apenas pequenos comerciais para televisão, o responsável pelo pequeno estúdio de animação da NeXT, John Lasseter, ficou na mira do novo CEO da Disney, Michael Eisner, que tentou contratá-lo, sem sucesso.
Toy Story e o primeiro bilhão
Após muita insistência, Lasseter conseguiu aquilo que faria Jobs ganhar seu primeiro bilhão: um contrato da Pixar com a Disney para produzir um filme inteiro em animação, 100% feito pelos computadores da NeXT. O resultado? Toy Story, primeiro longametragem em animação da Pixar, foi lançado em 1994. Um verdadeiro sucesso. Lançado em pleno feriado do Dia de Ação de Graças daquele ano, o filme arrecadou nada menos que US$ 28 milhões somente nos três primeiros dias de exibição nos EUA.
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Prevendo que a Pixar faria grande sucesso, Jobs vinha trabalhando muito antes de Toy Story para abrir o capital da Pixar. As documentações ficaram prontas exatamente na mesma época em que o filme foi lançado. Assim, apenas uma semana depois da estreia da animação nos cinemas norte-americanos, a ação da Pixar começou a ser negociada na bolsa de Nova York. Na onda do sucesso do filme, os papéis subiram apenas em seu primeiro dia de negociação de USS$ 22 para US$ 49. Este foi o maior IPO daquele ano (US$ 123 milhões), batendo inclusive os números expressivos da oferta da Netscape.
Jobs conseguiu: ganhou seu primeiro bilhão. A cifra era mais que 10 vezes maior que todo o dinheiro ganhado nos primeiros anos da Apple. A esta altrura, Jobs já era especialista em fazer companhias de sucesso e, vendo a Apple se recuperar ao longo dos anos 1990, voltou a fazer parte da administração da companhia em 1995.
A criação de um visionário: os iPods
Depois de desenvolver diversas melhorias aos processadores Mac da Apple, Jobs teve mais um de seus momentos visionários: aproveitar o sistema Mac OS X para armazenamento de músicas em um MP3 revolucionário. Criou, então, o iPod em 2001 – um aparelho que logo fez sucesso com o público por seu design inovador e pelo botão em forma circular que permitia o usuário acessar rapidamente os arquivos armazenados no processador interno de até 5 GB. “Mil músicas em seu bolso”, foi o slogan de maior sucesso da Apple até então.
Para completar o suceso do iPod, a Apple passou a disponibilizar através de sua plataforma online – o iTunes – as músicas que poderiam ser transferidas para o novo MP3. As vendas de iPods foram um estouro na época, pois os consumidores estavam deslumbrados com a novidade e a facilidade de comprar músicas pela internet. A ferramente ganhou mais adeptos ainda quando a Apple passou a disponibizar o iTunes para todos os processadores existentes, não apenas para os Macs.
O sucesso dos iPods fez da Apple uma das marcas mais conhecidas mundialmente. A partir de então, diversas outras versões dos iPods foram lançadas, permitindo que os consumidores, além de ouvir músicas, pudessem ver videos, armazenar contatos, fotos, jogos e ter acesso a serviços como horário mundial e cronômetro. Um verdadeira febre que fez da já gigante maçã de Jobs ainda mais valiosa.
Em suas entrevistas recentes, o empresário da Apple destacou que o grande segredo do sucesso está na participação de cada processo dos produtos da empresa. Jobs gasta tanto tempo pensando em como deverá ser as caixas dos iPods quanto pensando em quais serão as tecnologias que estarão nele. Estes detalhes, segundo o bilionário, fazem toda a diferença para uma marca dar certo ou não.
Jobs hoje, na era iPad
Nesta semana, a revista norte-americana Forbes divulgou sua tradicional lista dos maiores bilionários do mundo. Jobs ocupou a posição de número 110º no ranking de 1.024 pessoas, com um patrimônio líquido que chega aos US$ 8,3 bilhões. De licença média para tratar de um câncer, Jobs, atualmente com 56 anos, reapareceu publicamente em 17 de janeiro deste ano para apresentar ao mercado a nova aposta da Apple: o iPad 2.
Em sua primeira versão, o aparelho que reproduz funções de um Mac convencional, só que em versão ultrafina e leve, com touchscreen, gerou um lucro à Apple de nada menos que US$ 9,5 bilhões. “Nunca tivemos um produto com uma arrancada assim”, disse Jobs a jornalistas na ocasião. Em apenas 11 meses de existência, o iPad já vendeu mais de 15 milhões de unidades ao redor do globo.
| Referências: biografia de Steve Jobs, por Romain Moisescot A cabeça de Steve Jobs, por Leander Kahney Crédito imagem: divulgação |