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SÃO PAULO – Na década de 1960, Nelson Bunker Hunt circulava como o homem mais rico do mundo. Bunker acumulava uma fortuna de aproximadamente US$ 16 bilhões, algo absurdo para a época. Um dos herdeiros do lendário H. L. Hunt, magnata texano do petróleo, Bunker havia movimentado ainda mais do que a fortuna de seu pai lhe proporcionara.
Apesar das raízes no petróleo, a saga de Nelson Bunker e seus irmãos William e Lamar aponta para outra matéria-prima. Em 1973, os irmãos Hunt começaram a investir em prata para se proteger da tendência de desvalorização do dólar. Como o investimento em ouro não era permitido nos Estados Unidos na época, os Hunt se juntaram a um grupo de investidores árabes e chegaram a adquirir quase metade do suprimento global do metal precioso.
Mais que hedge
Mas vamos partir do princípio. Pelo legado de seu pai, Nelson começou no setor de petróleo. Se destacou pelas descobertas de campos de exploração na Líbia, que posteriormente seriam nacionalizados por Muammar al-Gaddafi.
Mais que os esforços em petróleo, Nelson Bunker possuía uma veia nos investimentos. Sua atividade como especulador sobrepujava necessidades meramente de hedge nos mercados. Seu foco na prata começou a tomar proporções assustadoras quando criou um fundo de investimentos em união com seus irmãos, dois xeiques árabes e um investidor saudita.
Com o mercado na mão
A intenção era guiar o mercado da commodity. E foi o que aconteceu. Os primeiros investimentos dos Hunt pegaram a cotação da onça em US$ 1,95, em 1973. Com a continuidade das compras, o preço do metal já figurava em US$ 5 no início de 1979. O salto mais impressionante ocorreu na entrada da década de 1980, em que o valor da onça passou para US$ 50 e atingiu seu pico de US$ 54 logo no início de 1980.
A história dos Hunt é muito lembrada por correlações interessantes com o momento atual dos mercados. Naquela época, a onda de especulação na prata escondia um cenário de pouca regulação dos mercados, que exigia uma legislação mais específica para evitar episódios exatamente como o dos Hunt.
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Quando levaram a prata para US$ 54 por onça, os irmãos texanos detinham cerca de 200 milhões de onça do metal estocados, ou seja, poderiam controlar o fornecimento do insumo, tendo em vista que esta quantidade representava metade da oferta de prata disponível em todo o mundo na época.
A queda
Os Hunt e os árabes lucraram centenas de milhões de dólares com o mercado da commodity. O investidor Naji Nahas, que atuava no mercado brasileiro, foi apontado por sua relação com os investimentos da família Hunt. Os reguladores não viram outra saída senão frear o reinado dos irmãos.
Foram criadas diversas regras contra operações alavancadas e os preços começaram a embutir a incerteza dos investidores. Quando os Hunt não se mostraram capazes de cumprir com suas obrigações, o pânico se instaurou no mercado.
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Daqueles US$ 54, a onça da prata caiu gradativamente até chegar a US$ 21,6, em março de 1980. Quando o preço dos contratos futuros chegou abaixo da margem mínima requerida, uma chamada de margem de US$ 100 milhões não foi atendida pelos Hunt. Com a notícia, a cotação da prata caiu 50% no dia 27 de março daquele ano, a chamada Silver Thursday. Quando os Hunt liquidaram suas posições, a prata era negociada a cerca de US$ 10 a onça.
Para evitar o pior, um consórcio de bancos norte-americanos forneceu uma linha de crédito de US$ 1,1 bilhão aos Hunt. A fortuna da família conseguiria sobreviver ao episódio, mas em 1988, os Hunt declararam recuperação judicial.
Sempre mais
A especulação no mercado de prata comprometeu a história de uma das mais famosas famílias de magnatas dos Estados Unidos, mas apesar dos prejuízos, dos processos, da recuperação judicial, os Hunt seguem entre as grandes fortunas do mundo, mesmo que em proporções bem menores. Depois desta história toda, os Hunt ainda possuíam participação em cerca de 200 fundos, companhias e parcerias.
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Em matéria de 1987, o historiador texano A.C. Greene definiu como é fazer parte da família Hunt: “você nunca está rico o bastante”.