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SÃO PAULO – No Brasil, mais de 99% das 5,8 milhões de empresas são de micro e pequeno porte. Elas respondem por 52,6% dos empregos e movimentam mais de 20% do PIB. Se as empresas deste porte são tão expressivas, significativas, é de supor que as capacitações voltadas para elas também sejam predominantes no segmento de educação e que sobrem cursos, fóruns, palestras, seminários e especializações voltadas para esta realidade, certo?
É exatamente o contrário que ocorre, no entanto. Em média, nos cursos técnicos, faculdades, cursos de pós-graduação e outras capacitações, as lições e casos apresentados são os das grandes organizações, com marcas respaldadas e atuação nacional e internacional, e não aquelas voltadas para as empresas de pequeno porte.
A professora do Proced (Programa de Capacitação de Empresas em Desenvolvimento) da FIA, Dariane Castanheira, avalia que existe uma lacuna quanto à situação da capacitação voltada para pequenas empresas. “Temos uma situação de orientação para as empresas de pequeno porte, com o Sebrae, mas essa educação é voltada, sobretudo, para conceitos e análises mais introdutórias e generalistas. Não há muitas iniciativas em relação à capacitação também porque há necessidade de se arcar com esse custo”, avalia.
Segundo a docente, algumas instituições, como a própria FIA, desenvolvem pesquisas e capacitações específicas para a realidade de empresas que não têm grande porte. O próprio Proced desenvolve lições voltadas para a realidade das micro e pequenas empresas. “E sabemos que a capacitação é um dos principais desafios e uma das principais preocupações dessas empresas. Proporcionar maior conhecimento seria uma forma de combater o fechamento precoce dessas organizações”, defende Dariane.
Falta conhecimento
Mas qual a solução para atender a um perfil de profissional que busca mais conhecimento sobre a realidade das micro e pequenas empresas, mas que não dispõe de grande capital para investir em capacitação? “Acho que o governo deveria ajudar mais a criar condições para essa capacitação. Existe o Sebrae, mas é necessário gerar um contexto mais favorável de acesso a mais informações [em quantidade e qualidade] pelos micro e pequenos empresários e empresas em desenvolvimento”, diz a professora.
O coordenador do MBA em empreendedorismo da FGV, Marcus Quintella, lembra que o fato de o Brasil ser um dos países mais empreendedores do mundo não se reflete exatamente na oferta de formação acadêmica dos profissionais. “Existe uma média de empresas familiares, pequenos negócios, onde não necessariamente há uma preocupação com formação. Ainda percebe-se, na média, carência de aperfeiçoamento e conhecimento por parte dos profissionais”, analisa o docente.
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A maior preocupação, segundo Quintella, deve ser com a difusão do conhecimento e dos conceitos ligados a empreendedorismo entre os profissionais. “É importante disseminar a filosofia do empreendedor, técnicas de desenvolvimento de negócios, estudos de viabilidade, que são macroconceitos que servem desde as micro até as empresas maiores. O que falta mesmo é focar na construção de modelos de ensino que espalhem os conceitos de empreendedorismo em todas instâncias”, defende o coordenador do MBA da FGV.
Para o professor, a melhoria e o aumento das informações sobre a gestão e administração de pequenos e médios empreendimentos passam por criar uma cultura de ensino sobre empreendedorismo, desde a infância. “Essas lições devem começar na base da educação, não existe como resolver a carência de informações sobre empreendedorismo no curto prazo, é começar agora para colher bons resultados no futuro”, prevê.
Dariane vê um momento de melhoria da oferta de educação voltada para a realidade das micro, pequenas e médias empresas. “Estamos engatinhando nesse processo, mas a possibilidade de criação de uma secretaria voltada para as micro e pequenas empresas no governo federal, de aumento das atenções voltadas para a realidade dessas organizações, é um indicativo do aumento da preocupação com as lições sobre essas empresas”, avalia.