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Após o Copom (Comitê de Política Monetária) decidir nesta quarta-feira (1) manter a taxa básica de juros brasileira, a Selic, inalterada em 10,50% ao ano, especialistas traçam cenários de olho naquilo que foi exposto pelos diretores do Banco Central (BC). Para o UBS BB, o anúncio foi razoável e novos cortes no futuro dependerão de como o Governo Federal se comportará em relação às contas públicas.
Apesar de parte do mercado ter achado o direcionamento da instituição monetária brasileira um pouco “suave” (ou dovish), a visão do banco suíço é de que “a lição de casa foi feita”. Em entrevista ao InfoMoney, Alexandre Azara, economista-chefe do UBS BB, definiu a decisão do BC como razoável.
Como primeiro ponto, o especialista defendeu que a opção do BC de acompanhar a inflação nos próximos seis trimestres, até 2026, ao invés de apenas durante o ano-calendário foi algo correto. Se a instituição fosse ver apenas aquilo que acontece em 2024, provavelmente teria que subir a taxa básica. Expandindo o horizonte, porém, o cenário muda um pouco, acrescentou ele.
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“É preciso deixar claro porém que isso foi feito com um dólar, na média, a R$ 5,55. Hoje já está R$ 5,66. Se o câmbio for acima de R$ 5,70, uma alta de juros começa a ser mais necessária…”, pondera Azara.
“O BC disse, basicamente, que será guiado por dados e que depende bastante da taxa de câmbio. E, neste último ponto, é preciso ter noção de que essa taxa está sendo fortemente guiada pelo fiscal”, acrescenta.
No primeiro semestre, e também um pouco em julho, a moeda brasileira se desvalorizou frente ao dólar por conta de falas e sinalizações do Governo Federal. Algumas delas foram na linha de ataques ao BC e ao mercado e de contestar que um controle maior dos gastos públicos seria necessário.
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“Um corte de juros vai depender do Governo Federal, do Ministério da Fazenda, do Ministério do Planejamento. O fiscal vai impactar o câmbio e o câmbio vai impactar o modelo do Banco Central”, explica o economista do UBS.
Fiscal ditará próximos passos
O UBS trabalha com um cenário base de que o BC não realizará outra alta da Selic — e acredita até mesmo em cortes, seja próximo em dezembro de 2024 ou nas primeiras reuniões de de 2025. Mas para isso, o banco menciona que a resposta da política fiscal “tem de ser crível”.
Fora o fiscal, os próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), a questão da substituição do presidente do BC — Roberto Campos Neto, cujo mandato acaba no fim do ano — e a unanimidade das próximas decisões da instituição monetária brasileira também estão nos holofotes.
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“O Jerome Powell [presidente do Fed] já falou, ontem, que irá cortar juros”, disse. “Já quando o assunto é unanimidade, é importante porque é ela que dá potência para a política monetária. Ainda mais que acreditamos que o Gabriel Galípolo [diretor de política monetária do BC indicado pelo governo Lula] deve ser o próximo presidente. Se ele se comportar muito diferente, pode minar a credibilidade do BC. Mas não achamos que isso acontecerá…”.
Por fim, o especialista do UBS também trabalha, atualmente, com a visão de que a inflação brasileira pode vir menor do que o consenso espera atualmente. O banco enxerga a inflação em 2024 vindo em 3%, contra 3,8% do mercado, e justifica sua previsão com uma significativa desaceleração na inflação de alimentos em casa e de bens industriais.
Para os alimentos, o UBS aponta melhorias nas condições climáticas e um esperado enfraquecimento do fenômeno El Niño, que juntos devem moderar os preços. Já a inflação de bens industriais deve continuar a se corrigir devido ao realinhamento dos preços pós-pandemia e à resolução de gargalos de oferta.
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“Todas essas condições abririam espaço para uma queda”, defende Azura. “Mas tudo vai depender do grau de maturidade do Governo. Se entregarem um fiscal que ninguém acredita, o câmbio vai para R$ 5,70, R$ 5,80, e ai é ‘corra para as montanhas’ e vamos ter alta dos juros. Tudo depende do que o governo decidir”.