Para Pimco, análise individual de risco soberano é chave para escolher investimentos

Segundo gestora, diferenciação dos ritmos de recuperação pede mais atenção ao aumento do risco soberano de cada país

Julia Ramos M. Leite

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SÃO PAULO – O ano de 2010 começou bastante diferente de seu antecessor. Enquanto no início de 2009 a crise ainda estava a pleno vapor, este ano chega embalado em perspectivas de recuperação global. Se em 2009 as palavras de ordem eram “cautela” e “incerteza”, em 2010 elas são “otimismo” e “retomada”.

Mesmo com o cenário positivo a frente, Andrew Balls, da Pimco, alerta que os investidores devem estar atentos a dois temas no ano novo: diferenciação e risco soberano.

Fim da sincronia
De acordo com o executivo, enquanto a crise foi um momento em que as tendências macroeconômicas pareciam relativamente sincronizadas – em especial após a quebra do Lehman Brothers – uma recuperação não terá essa mesma característica. “É provável que tenhamos uma diferenciação muito maior em termos de performance econômica daqui para frente”, aponta o executivo, que cita como exemplo o avanço consideravelmente mais rápido dos mercados emergentes em comparação aos países desenvolvidos.

Risco soberano
Um segundo ponto que merece atenção – e que está ligado à diferenciação entre os países – é o risco soberano. “Quando a crise do mercado imobiliário norte-americano migrou para o setor de consumo e financeiro global, as instituições começaram a emprestar dinheiro, oferecer garantias, entre outras intervenções – o que deteriorou os balanços dos países de maneira considerável – e, consequentemente, do risco soberano”, afirma Balls em artigo.

Uma pesquisa da Organisation for Economic Co-Operation and Development estima que a emissão bruta de dívida pelos governos deve se estabilizar em US$ 16 trilhões em 2010 – em 2009, o número foi semelhante, enquanto em 2008 o valor foi US$ 12 trilhões.

Assim, os investidores estão absorvendo mais papéis com risco soberano. Com as estratégias de saída começando a se delinear no horizonte, Balls aponta que o foco maior em risco soberano é inevitável não só para economias menores ou mercados emergentes, mas para todos – inclusive os EUA.

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Segundo Balls, assim como os investidores podem escolher a companhia aérea em que voam, eles também podem escolher entre ativos com ou sem risco soberano. Essa decisão, contudo, está sendo afetada em algumas situações em que a linha divisória entre os dois tipos não está mais tão clara. “Com o aumento dos spreads de países como Grécia e Irlanda, surge uma convergência entre os spreads de CDS (Credit Default Swaps) de riscos soberanos europeus e o universo de investment grade da Europa”, diz Balls.

O foco em risco soberano é importante em todo o mundo, mas tem implicações especiais na zona do Euro. De acordo com Balls, a diferenciação dos países na região, incluindo suas condições iniciais, perspectivas de crescimento e perfil de dívida, bate de frente com a política monetária sincronizada e uma moeda comum. Assim, mesmo que aparentemente o Banco Central Europeu aparente ter uma tarefa mais fácil na formulação de sua estratégia de saída, já que não ofereceu amplas ajudas ao mercado, os desafios fiscais permanecem para os países da região – e podem ser ainda mais complexos em um ambiente de crescimento lento.

Análise individual
Assim, o executivo ressalta que os investidores devem tomar decisões com base em análises dos fundamentos de cada país, assegurando-se de que estão recebendo uma recompensa adequada pelo risco soberano de cada nação. “De maneira geral, vemos a zona do Euro como forte, mas os desempenhos macroeconômicos e retornos do mercado de renda variável devem ser diferenciados entre os países do grupo”, afirma Balls. “Apesar de ajuda externa não estar descartada, no final, cada país tem que cuidar de suas próprias questões fiscais”.