Para ex-presidente do BC, Brasil corre sério risco de tornar-se um “governo ingovernável”

Durante evento em São Paulo, Gustavo Loyola mostrou preocupação com o rumo do presidencialismo de coalizão no Brasil com o fim do financiamento privado para as próximas eleições

Thiago Salomão

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SÃO PAULO – Embora o Brasil sob o comando de Michel Temer traga mais expectativas favoráveis para a economia do que com a Dilma Rousseff, o sistema atual da política brasileira está em vias de criar um “governo ingovernável”, o que, somado à descrença da população com a política, pode aumentar consideravelmente o risco institucional do País. A avaliação é de Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio-diretor da Tendências Consultoria, e foi apresentada durante evento promovido pelo Instituto Millenium nesta quarta-feira (15) em São Paulo.

“Vejo o presidencialismo de coalizão ficando em vias de ficar ingovernável. É um governo ingovernável”, diz Loyola, atribuindo a isso dois fatores principais: a elevada fragmentação partidária e o avanço da Lava Jato, que apesar dos importantes avanços que está conquistando, “vem mostrando as estranhas do financiamento eleitoral do País”.

Para o ex-presidente do BC, uma consequência direta dos avanços da Lava Jato – que seria o fim do financiamento privado em campanhas eleitorais – está longe de ser a solução. “Será que proibir o financiamento eleitoral via Pessoa Jurídica é a solução, ou isso vai piorar os gastos públicos? Escuto dizerem que será a 1ª eleição sem financiamento privado. Eu digo que será a última também”, afirma Loyola. Já sobre o excesso de partidos, o que inibe reformas para coibir isso é o “medo” dos políticos em dificultar suas próprias reeleições, diz Loyola, e por isso a pressão da sociedade nesse sentido seria necessária.

O “risco” da Lava Jato
Associado a esses dois fatores, o ex-presidente do BC também comenta um efeito “negativo” que pode surgir com a Lava Jato, que é o afastamento ainda maior do brasileiro da política. 
“Esses escândalos trazem a ideia pras pessoas de que politica realmente é muito suja e afasta a população. Mas nos afastarmos da política seria muito ruim, pois aumenta amplamente o risco institucional”, afirma, citando como principal consequência a chance de aparecer um “salvador da pátria” nas próximas eleições, que seria um candidato sem envolvimento com a política.

O próprio Loyola acredita que a sociedade brasileira está mais ciente hoje dos riscos de eleger um salvador desse tipo questão de candidato, mas a carência de líderes no Brasil abre uma brecha perigosa.

Um consolo sobre esse risco: isso não é uma exclusividade do Brasil, diz Loyola. “Basta ver os Estados Unidos com o Donald Trump”, disse, arrancando risos dos empresários presentes.

Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers