Para depender menos de carros, Porto Seguro avança em diversificação

Além do recém-lançado braço de serviços, companhia testa nova conta digital e quer ganhar "share" em consórcios

Mitchel Diniz

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Depois de praticamente dobrar o lucro líquido em 2023, a Porto Seguro trabalha para fortalecer novas verticais de negócios e ganhar market share para continuar crescendo de maneira rentável. A tônica da diversificação vale até mesmo para os “núcleos duros” da companhia, como a parte de seguros para automóveis – que passou a contar com novos produtos, como seguros por mensalidade, com o objetivo de atrair um público mais amplo.

“O automóvel é e vai ser muito importante para a Porto Seguro por muito tempo ainda. […] Mas as nossas outras verticais estão crescendo bastante, e com resultados muito sólidos”, afirmou Celso Damadi, vice-presidente financeiro da Porto, em entrevista ao Por Dentro do Resultados.

Os prêmios emitidos na Porto Seguro Auto cresceram 2,7% no quarto trimestre de 2023 em relação ao mesmo período do ano anterior, para R$ 4,1 bilhões. “Acreditamos em recomposição tarifária para 2024, buscando rentabilidade compatível com o que foi entregue em 2023”, disse o CFO.

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A queda na taxa básica de juros (Selic) tende a impulsionar a venda de carros novos em relação ao ano passado, o que ajuda a manter os prêmios da seguradora em alta. “Carro novo tem um prêmio médio de seguro maior, e a Porto também tem uma boa penetração em seguro novo”, afirmou. “Temos uma perspectiva macroeconômica muito boa, principalmente para o segundo semestre, quando deve haver uma queda mais significativa na taxa de juros”.

Saúde e finanças

Em Saúde, a Porto terminou 2023 com uma base de 543 mil vidas, aumento de 40% nas receitas e queda de sinistralidade. A empresa vê espaço para que a base continue a aumentar, com rentabilidade, e os sinistros sigam caindo.

“Entendemos que é possível crescer com os atuais níveis de controle. Por isso não fomos para o Brasil todo, temos regiões estratégicas para fazer isso”, diz o CFO.

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Na vertical de negócios financeiros, a Porto Bank, a companhia reduziu o apetite por risco em concessões de crédito e conseguiu reduzir a inadimplência de 5,1% para 4,2% no intervalo de um ano. Para isso, concentrou o foco na própria base de clientes da Porto, que passou a responder por 88% da carteira de crédito direto e por 95% em cartões.

“São clientes que têm outro tipo de produto com a Porto. É uma base que conhecemos muito bem, e a inadimplência desse público é muito mais baixa”, afirmou Damadi. “A tendência para essa carteira, agora, é estabilizar e cair um pouco mais a inadimplência, além de recuperar a rentabilidade”.

Em consórcios, destaque da Porto Bank em 2023, com 160 mil cotas vendidas, a companhia vê espaço para superar a expansão do ano passado e ganhar market share. “Em automóveis, vendemos abaixo do que poderíamos vender. Nesse segmento temos um market share de apenas 12%. Pela marca que a Porto Seguro representa, acredito que poderíamos ser maior do que somos hoje em consórcios”, disse o executivo.

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A vertical financeira da Porto também se prepara para lançar uma nova conta digital, cuja versão beta está sendo testada por 15 mil clientes. “Este ano vamos emplacar a conta digital em definitivo, em uma nova plataforma muito mais robusta”, disse Damadi.

Resultado financeiro

O alívio nos juros tem efeito positivo nos prêmios, mas tende a impactar negativamente o resultado financeiro da companhia. No quarto trimestre, essa linha do balanço ficou em R$ 378,2 milhões, com expansão anual de 48% e rentabilidade de 106,7% do CDI.

“O nosso benchmark nem sempre é o CDI – o que não significa que a gente não mire o CDI. Tem algumas carteiras para nós, como Previdência, que garantimos IGPM mais 6%, ou capitalização, em que temos um ROE de 60% do produto. Nelas, é mais interessante travar a rentabilidade do que ter 100% do CDI ou não”, explicou o CFO.

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A rentabilidade real da Porto em 2023 foi de 6,6%, acima do IPCA. “O CDI em 2023 estava muito alto e por isso, nos dois primeiro trimestres, ficamos um pouco abaixo dele. Aplicamos uma fatia grande do nosso ativo em IPCA+, para proteger a carteira com inflação e porque gostamos muito de juro real”, disse Damadi.

De acordo com o executivo, ter uma estratégia conservadora ajuda em um momento de ciclo de baixa de juros. “As chances de bater o CDI é maior. Isso não quer dizer que vamos ganhar um juro real maior do que o obtido em 2023, mas o mercado talvez fique um pouco mais feliz se entregarmos 105%, 106% do CDI”.

Serviços

Em recente entrevista ao InfoMoney, o recém-empossado CEO da Porto, Paulo Kakinoff, afirmou que a nova vertical de serviços, lançada em dezembro de 2023, será foco da companhia em 2024. O segmento aposta em parcerias estratégicas para distribuição do portfólio de serviços (que, hoje, são mais de 130 na companhia).

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“Estamos bem preparados para atender às demandas dos nossos clientes e futuros clientes, que não possuem seguros, mas têm demandas por serviços de qualidade reprimidas”, endossou Damadi, em sua participação no Por Dentro dos Resultados.

Com a nova vertical, a Porto prevê um crescimento exponencial da sua base, que terminou o ano de 2023 com 16 milhões de clientes. A companhia também consegue oferecer, aos atuais segurados, serviços que antes não estavam disponíveis, como de manutenção de ar-condicionado e aquecedor elétrico.

Não foi da noite para o dia que a companhia ergueu seu braço de serviços. Em 2022 a Porto começou a se movimentar nesse sentido, fazendo uma joint venture com a CDF, prestadora de serviços de suporte tecnológico e digital. Em agosto do ano passado, adquiriu a Unigás, especializada em instalação e assistência de sistemas de aquecimento e gás.

A vertical de serviços já começa grande por ser resultado da cisão de uma unidade de negócios que ficava dentro da seguradora, a Porto Socorro. “A Porto Serviços já nasce com Ebitda e faturamento muito grande. Ela passa a ser a prestadora de serviços oficial para a Porto Seguro em automóvel e residência”, explica Damadi.

“Em três, quatro anos, a ideia é que a vertical de serviços dependa menos do faturamento do grupo Porto”, conclui.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados