Papel central do dólar na influência econômica dos EUA independe de oscilações

Moeda é canal de transmissão de políticas econômicas, mesmo em transações comerciais que não envolvem os EUA, diz estudo

Camila Schoti

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SÃO PAULO – A melhora nos fundamentos macroeconômicos de países emergentes, sobretudo nas suas contas externas, somada ao robusto e consistente crescimento econômico da China e à demanda mundial crescente são alguns dos fatores que embasam a tese de decoupling destas economias frente ao enfraquecimento econômico dos principais países desenvolvidos.

Todavia, a despeito de evidências que sinalizem a redução da influência da economia norte-americana sobre o resto mundo, sua relevância sobre as transações comerciais mundiais ainda é amplamente predominante, bem como a de sua moeda, que é um dos principais meios de troca, seja entre os Estados Unidos e demais países, seja entre relações comerciais que não envolvam a maior economia do planeta.

Não obstante a percepção de que economias emergentes estão menos vulneráveis às fragilidades da economia norte-americana ter ganhado força entre especialistas, estudos recentes reforçam a tese de que políticas econômicas adotadas nos Estados Unidos apresentam influência significativa nas demais economias através da relevância do dólar no contexto internacional.

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Flexibilização monetária pode estimular comércio

Em artigo intitulado “Macroeconomic Interdependence and The International Role of The Dollar“, os autores Linda S. Goldenberg, do departamento de pesquisa do Fed de Nova York, e Cedric Tille, do departamento de economia da Universidade de Geneva, descrevem alguns dos impactos de políticas econômicas adotadas por países considerados centrais cuja moeda tem influência relevante nas transações comerciais mundiais, sobre as demais economias.

De acordo com os autores, a influência da moeda de uma economia central pode se dar inclusive nas negociações entre países que não envolvem essa economia, mas transacionam em sua moeda. Neste contexto, políticas monetárias adotadas pela economia central têm impacto relevante sobre as economias periféricas.

Um dos efeitos pode se dar através de uma política monetária expansionista do país central (por exemplo, redução da taxa básica de juro). Isso porque, tal política tende a depreciar a moeda da economia central, reduzindo o custo das importações para as economias periféricas e, assim, impulsionar o fluxo comercial entre estes países, mesmo sem a participação da economia central.

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Efeito “desproporcionalmente grande”

O estudo publicado pelo NBER (National Bureau Of Economic Research) sugere que políticas monetárias adotadas pela economia central têm efeito “desproporcionalmente grande” no consumo mundial. Esta influencia se dá, inclusive, sobre as transações comerciais entre outros países, mesmo que estas não envolvam o país central.

Outro aspecto levantado pelo artigo sugere que o impacto de choques de produtividade no bem-estar de países diversos também é afetado pelo papel internacional da moeda. Isso ocorre porque os efeitos de medidas de políticas econômicas implementadas pelo país central podem se espraiar, em algum grau, para os demais países, podendo conduzir, inclusive, a um movimento ineficiente dos preços nesses países.

Externalidades podem levar a ganhos

Todavia, estas externalidades geradas pela economia central sobre as economias periféricas, geram a possibilidade de ganhos para os países no caso de haver cooperação entre as partes na condução de suas políticas monetárias.

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Ademais, o artigo destaca que, ainda que os movimentos da taxa de câmbio carreguem consigo algum grau de ineficiência, regimes de câmbio administrados (ou regimes cambiais sem flutuação livre), como o adotado no Brasil quando da implementação do Real, até o início de 1999, não são desejáveis.

O estudo, que altera o foco de pesquisas usuais para as assimetrias dos efeitos cambiais entre economias centrais e periféricas sobre os preços relativos, sugere que, embora a influência da economia norte-americana sobre o resto do mundo tenha se reduzido, sua dimensão e relevância estão longe de ser desprezíveis e um dos canais pelo qual essa influência pode se dar é a moeda.

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