Pacote do governo “tira” R$ 1,08 bi da Bolsa hoje; “novo” Fies anima educacionais

Confira os principais destaques de ações da Bovespa no pregão desta terça-feira

Paula Barra

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SÃO PAULO – O Ibovespa zerou os ganhos nesta tarde e voltou à indefinição que marcou o pregão da véspera, passado certo otimismo do mercado com o anúncio do pacote de concessões do governo nesta manhã. Apesar do otimismo na Bolsa visto mais cedo, as ações ligadas a infraestrutura – como de concessões rodoviárias e ferrovias – viraram e fecharam em fortes baixas. Os papéis da Rumo, por exemplo, que dispararam na véspera em meio à expectativa pelo anúncio viraram para queda e figuraram como a maior baixa do Ibovespa.

Na direção oposta, chamaram atenção as ações de educação, com a nova rodada do Fies no segundo semestre. Anúncios do governo que “tiraram” R$ 1,08 bilhão das empresas ligadas à concessões enquanto empurraram R$ 794,4 milhões às empresas de educação na Bovespa.   

Confira abaixo os principais destaques da Bolsa nesta segunda-feira: 

Petrobras (PETR3, R$ 14,05, +3,69%; PETR4, R$ 12,97, +3,18%)
As ações da Petrobras registraram forte alta hoje. O plano de negócios da Petrobras de 2015 a 2019 caminha para ser aprovado pelo conselho de administração da empresa no próximo dia 26, data marcada para ocorrer a próxima reunião do colegiado. A pauta do encontro ainda não foi divulgada, o que deve acontecer no dia 19, com uma semana de antecedência. Mas, conselheiros ouvidos pelo Broadcast disseram que foram avisados pela diretoria que, neste dia, vão analisar o orçamento da petroleira para este e os próximos quatro anos. Oficialmente, a Petrobras, por meio de sua assessoria de imprensa, não confirma a data.

Além disso, traz força para as ações da companhia a alta das cotações do petróleo lá fora. O barril do Brent, negociado em Londres, subiu 3,09%, a US$ 64,63. 

Vale (VALE3, R$ 19,98, -0,60%; VALE5, R$ 16,99, -0,35%)
Depois de esboçar uma alta mais cedo, as ações da Vale se firmaram no campo negativo nesta sessão, assim como as ações da Bradespar (BRAP4, R$ 11,11, -1,77%), holding que detém participação na mineradora, em meio aos dados fracos da China. 

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A China teve outra leitura fraca sobre inflação com o índice de preços ao consumidor recuando 0,2% em maio ante o mês anterior, colocando a inflação anual em 1,2%. Os números fracos de inflação alimentaram expectativas de que Pequim vai adotar mais estímulos de política. Investidores mesmo assim ficaram desanimados com este sintoma de demanda fraca e suas vendas tiraram as ações de máximas de sete anos, com o índice de Xangai fechando em queda de 0,4%.

Educacionais
Os papéis do setor educacional registraram forte alta nesta sessão, refletindo o anúncio do Ministro da Educação, Renato Janine, de que o Fies será reaberto no 2º semestre de 2015. Na Bolsa, avançaram as ações de todas empresas expostas ao programa: Kroton (KROT3, R$ 11,90, +2,15%), Estácio (ESTC3, R$ 18,95, +4,12%), Anima (ANIM3, R$ 22,47, +3,50%) e Ser Educacional (SEER3, R$ 14,20, +5,19%). Com a disparada, o setor “ganhou” R$ 794,4 milhões somente hoje na Bovespa em valor de mercado. 

Sobre a Ser, descola das demais na Bolsa nesta sessão, merece menção um relatório do Bradesco BBI, destacando que o valuation da empresa parece atrativo mesmo com os desafios econômicos. A recomendação do banco para a ação é outperform (desempenho acima da média), com preço-alvo de R$ 26,00.  

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Além disso, segundo o anúncio do ministro, a prioridade do Fies serão as regiões Norte e Nordeste – que a Ser possui forte exposição. 

Concessionárias
Por outro lado, as ações de empresas de concessões de rodovias e ferrovias caíram forte hoje, contrariando o início positivo, após o anúncio do tão aguardado plano de concessões do governo para a infraestrutura. A Rumo (RUMO3, R$ 1,30, -6,47%), resultado da fusão da Rumo com a ALL, é a que mais caiu hoje, liderando a ponta negativa do Ibovespa. Na esteira apareceram os papéis da CCR (CCRO3, R$ 15,35, -2,04%) e Ecorodovias (ECOR3, R$ 8,09, -3,46%). Fora do índice, a Cosan Logística (RLOG3, R$ 2,34, -7,87%) afunda, Arteris (ARTR3, R$ 9,75, -0,41%) tem leve queda e Triunfo (TPIS3, R$ 3,54, +1,43%), por sua vez, mostra leves ganhos.

O governo federal lançou nesta terça-feira mais um ambicioso plano de investimentos em infraestrutura, estimado em quase R$ 200 bilhões. Mais de 65% dos investimentos no programa, contudo, estão previstos para ocorrer apenas a partir de 2019.

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A equipe do UBS disse que o anúncio do novo plano de logística é positivo, mas ressaltou que pode levar algum tempo para que os projetos se materializem, avaliando um impacto neutro para as empresas no curto prazo. A corretora Brasil Plural também destacou que, apesar da grande quantidade de investimentos anunciados, o governo afirmou que a maioria dos projetos com aportes de curto prazo – como alterações e renovações de contrato e algumas novas concessões – estão em negociação.

Para a Brasil Plural, o lado mais relevante do anúncio para empresas como CCR, Ecorodovias e Arteris estava relacionado a alterações aos contratos de concessão e renovações antecipadas. Desse modo, a corretora decidiu não incluir ainda o valor potencial de futuros projetos no valor justo das empresas.

Bradesco (BBDC4, R$ 27,28, -1,09%)
As ações do Bradesco viraram queda após tentarem uma alta nesta sessão. Os papéis do Itaú Unibanco (ITUB4, R$ 32,80, -0,62%) e Santander (SANB11, R$ 15,55, -0,64%) também caíram, enquanto as ações do Banco do Brasil (BBAS3, R$ 22,52, +1,30%) registraram alta – único entre os grandes bancos afastados dos rumores de oferta pelo HSBC Brasil.

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Hoje, o HSBC confirmou que vai vender boa parte das suas operações no Brasil, assim como na Turquia, após alguns meses de especulação. E, segundo informações do jornal O Estado de S. Paulo e da Bloomberg, o Bradesco é o principal candidato para adquiri-la. Outras ações de bancos registram leve alta. 

E se o Bradesco comprar o HSBC? Qual seria o impacto no mercado?

Gerdau (GGBR4, R$ 8,62, +0,47%)
As ações da Gerdau registraram alta hoje. Segundo o BTG Pactual, o pacote de concessões anunciado pelo governo não tem força para fazer preço no papel, lembrando que a demanda por aços longos está fraca (caiu 10% no ano, contra premissa consevadora do banco para queda de 13% durante todo o ano). Ou seja, o pacote não pouca chance de gerar melhora no cenário dada a crise no setor de bens de capitais e construção civil, investigações em algumas companhias de infraestrutura e baixo nível de confiança. 

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Apesar disso, o banco segue com recomendação de compra para o papel, “apesar do call não vir funcionando”, principalmente porque vê o papel a um preço muito atrativo abaixo dos níveis de R$ 9,00. 

Alupar (ALUP11, R$ 16,75, +1,21%) e Copel (CPLE6, R$ 33,16, +2,09%) 
As ações da Alupar e da Copel subiram após terem a recomendação elevada para compra pelo BTG Pactual. Segundo os analistas do banco, a Alupar está sendo negociada a uma taxa interna de retorno de 9%, o que é bom o suficiente para um nome de perfil tão estável, enquanto a Copel, com um retorno de 11%, pode se beneficiar do fim do desconto na tarifa de distribuição. O banco ainda reitera que as tarifas das elétricas estão mais realistas.

O banco reiterou ainda que segue com preferência pelas distribuidoras. Equatorial (EQTL3, R$ 34,80, -0,14%), Eletropaulo (ELPL4, R$ 15,71, -3,91%) e Energias do Brasil (ENBR3, R$ 10,55, -1,22%) são as top picks do banco no setor elétrico. Segundo os analistas, a Equatorial e Eletropaulo podem se beneficiar do fluxo de notícias positivas a partir da conclusão de suas revisões tarifárias. Já Energias do Brasil ainda parece um dos cases mais baratos no universo de cobertura do banco.

Os analistas chamam atenção para o fluxo de notícias para o setor nos próximos meses, que deve envolver a privatização dos ativos da Eletrobras (ELET3, R$ 6,58, -1,94%; ELET6, R$ 9,41, -1,67%), discussões sobre o pagamento RBSE (receita permitida mensal), alguma ajuda do lado de GFS (fator de geração das hidrelétricas). 

AES Tietê
Desde a semana passada, as ações ordinárias e preferenciais da AES Tietê têm mostrado um desempenho divergente em Bolsa, em reflexo do anúncio da AES Holdings Brasil e BNDESPar sobre uma proposta de reorganização envolvendo a Companhia Brasiliana de Energia e a AES Tietê (GETI3, R$ 16,00, -1,30%; GETI4, R$ 17,24, -0,92%). 

Isso porque com a analistas apontavam que, com a operação, seria natural que o spread (diferença) entre as ações ONs e PNs se estreitasse. Do fechamento da última quarta-feira até esse pregão, os papéis GETI3 registram ganhos de 12%, enquanto as ações GETI4 operam praticamente estáveis no acumulado do período.  

A reorganização envolverá a cisão parcial da Brasiliana, que deterá diretamente o controle exclusivo da AES Tietê. Parte do acervo cindido irá para a Brasiliana Participações, que controlará, direta ou indiretamente, todas as demais empresas, como a Eletropaulo, AES Elpa, AES Uruguaiana Empreendimentos e AES Serviços. 

Valid (VLID3, R$ 47,79, -2,93%)
A Valid teve sua recomendação cortada pelo Bradesco BBI para market perform (desempenho em linha com a média), enquanto o preço-alvo foi revisado de R$ 47,00 para R$ 51,00 por ação. 

Prumo Logística (PRML3, R$ 0,70, -9,09%)
Depois de disparar nos últimos dias, as ações da Prumo tiveram queda nesta sessão. Nos sete pregões passados, os papéis dispararam 78%. Na quarta-feira, 
a Prumo Logística assinou acordo com a BG Brasil, da petroleira BG, para a contratação de serviço de transbordo de petróleo no Porto do Açu.

“O contrato prevê um acordo de ‘take or pay’ para a utilização do terminal de petróleo por 20 anos para um volume médio de até 200 mil barris por dia na operação ‘ship-to-ship’, de acordo com o cronograma de produção da BG”, disse a companhia de logística. Mas, desde 28 de maio, os papéis disparam: naquela data, a companhia informou que estava em negociações avançadas com potenciais parceiros societários e comerciais, envolvendo o seu terminal de movimentação de petróleo e multiuso, mas que não tinha conhecimento de ato ou fato relevante.