Ouro é a commodity com melhor potencial hoje para operar risco geopolítico, diz gestor da Legacy

Ao Stock Pickers, Ricardo Kazan destacou motivos para diminuir exposição ao petróleo que, segundo ele, pode ter alta desacelerada com "fator Irã"

Felipe Alves

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O ouro é a melhor opção no momento para o investidor que procura se expor a commodities diante da tensão internacional entre Rússia e Ucrânia, segundo o sócio e gestor de commodities da Legacy Capital, Ricardo Kazan. “É a commodity que tem se mostrado com o melhor potencial”, destacou ele no episódio 133 do Stock Pickers de quinta-feira (17) – assista na íntegra acima. 

Com um cenário de estoques em falta em praticamente todos os tipos de commodities, um possível conflito entre russos e ucranianos deve afetar diretamente a produção e os preços de ativos diversos como petróleo, gás, ouro, paládio, entre outros. Dada a importância que a Rússia tem para essas commodities, a expectativa é de mais inflação. Sozinha, vale pontuar, a Rússia produz cerca de 10% do ouro do mundo. 

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Com o conflito geopolítico, o ouro seria um “porto seguro” para os investidores. “Já estamos num cenário inflacionado por conta dos estímulos que foram feitos depois da pandemia. Mas essa crise [Rússia-Ucrânia] é muito inflacionária”, pontua o gestor da Legacy Capital.

Com essa visão, o fundo da gestora de recursos reduziu a exposição ao petróleo e, dentro das commodities, ampliou a posição em ouro. “Neste cenário geopolítico atual, não acho hoje o petróleo a melhor commodity”, afirma Kazan.

O gestor também pondera o potencial pela volatilidade. “O petróleo tem uma volatilidade muito maior do que a do ouro. Uma alta de 20% no petróleo é relevante. Para o ouro, uma alta de 5 a 10%, por sua vez, já é muito relevante, porque é uma commodity que se mexe menos”, além de contar com uma alta liquidez, respondendo por cerca de US$ 100 bilhões por dia de negociação. 

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Petróleo pode chegar a “preços inimagináveis”, mas há um fator de “esperança”

Com relação ao petróleo, Kazan destaca como fatores altistas as quedas de estoques ao redor do mundo e também a influência do possível conflito no preço da commodity. Contudo, há uma esperança que paira no ar para o petróleo, ancorada em um possível acordo entre Irã e Estados Unidos, o que pode levar a uma desaceleração dos preços, o que reforça a sua exposição menor à commodity. 

Isso por conta das expectativas de que haja um acordo entre Estados Unidos e Irã, de forma a reviver o pacto nuclear iraniano de 2015. Se as negociações avançarem, seria restabelecida a reintrodução de limites às atividades atômicas do país em troca do levantamento das sanções, incluindo as exportações de petróleo. Com expectativa de mais oferta iraniana, o preço da commodity pode arrefecer.

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Hoje há uma produção mundial de cerca de 100 milhões de barris por dia. O Irã, sozinho, pode colocar mais 1 milhão de barris por dia – o que já ajudaria a arrefecer o preço do petróleo e atenuar subidas aceleradas.

Ricardo Kazan destaca que a queda dos estoques de petróleo está caindo na casa de 10 milhões por semana nos EUA desde o ano passado. O Irã tem um estoque entre 50 a 80 milhões de barris.

Assim, mesmo em um cenário de conflito entre Rússia e Ucrânia, caso haja o acordo EUA-Irã, o sócio da Legacy acredita que o preço do petróleo tende a desacelerar. Porém, caso contrário, a commodity pode ser negociada a “preços inimagináveis”, segundo ele, chegando à casa dos US$ 120 ou até US$ 150 o barril. Nesta sexta-feira (18) o valor do barril tipo Brent está na casa dos US$ 93. 

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Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV, que também participou do Stock Pickers, explica que foi negociado um acordo que permitia que esses países monitorassem o programa nuclear iraniano. Em troca, a Rússia poderia participar da economia global e os EUA reduziriam as sanções ao Irã.

Mas em 2018, os EUA saíram do acordo, que era um legado geopolítico do governo Barack Obama. Agora, o atual presidente, Joe Biden, voltou a abrir a mesa de negociação com os iranianos. Segundo Stuenkel, a negociação está indo bem, mas o novo governo do Irã é ultranacionalista, e precisa apresentar para o seu povo um possível acordo com os EUA como uma vitória.

“O cenário mais provável é um acordo, mas pode demorar algumas semanas. E se a gente tiver uma piora na crise com a Rússia, junto com a incerteza com o Irã, vai ter um impacto grande”, prevê o professor.

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Diante deste cenário, como muitas commodities estão sem estoque, como o petróleo, e há demanda crescente, Kazan diz que pode haver reflexos em vários ativos, como petróleo, minério, gás, alumínio e cobre.

Possível guerra Rússia-Ucrânia pode trazer impactos para o Brasil

Com relação à tensão Rússia-Ucrânia, apesar da retirada de tropas russas da região da Crimeia na última quarta-feira (16), o clima negativo está longe do fim, na visão de Stuenkel. Segundo ele, não há solução permanente e o mercado deve ficar de olho. 

Ele vê três cenários que podem ocorrer no conflito entre Rússia-Ucrânia. Segundo o professor, o presidente russo Vladimir Putin deve apresentar alguma vitória ao eleitorado após a retirada das tropas da região ucraniana. Para isso, ele crê que pode haver uma invasão russa de territórios ucranianos já ocupados por rebeldes pró-Rússia. “Esse é o cenário que a gente considera mais provável. Por que isso seria uma vitória política para ele (Putin), mas a Otan não estaria na resposta, pois a Ucrânia já não controlava a região”, destaca.

Outros dois cenários, mais improváveis, consistem em conflitos bélicos maiores. O primeiro é uma invasão russa em metade da Ucrânia. Ou ainda a invasão completa do território. “Considero este pouco provável, porque as grandes potências têm péssimas experiências com ocupações”, destaca. Porém, caso isso ocorra, abre-se caminho para outro problema: uma onda de refugiados. Segundo Oliver Stuenkel, a guerra poderia levar de 1 a 5 milhões de ucranianos a deixarem o país rumo à Polônia e à Alemanha.

Para o Brasil, ele destaca que o país sofreria, assim como o restante do mundo, com o aumento global do preço da energia. A guerra seria “boa” para países que exportam energia, como a Rússia.

“A hipótese é de que isso sirva para elevar a inflação. Há um medo grande, por que com potências nucleares envolvidas, você tem impactos em todas as áreas. O custo da energia acaba impactando tudo. A Rússia e a Ucrânia são grandes exportadores de petróleo, gás, alumínio, fertilizantes e trigo. Isso tende a causar uma situação macroeconômica bastante complicada para o Brasil”, pontua o professor.

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