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SÃO PAULO – O Brasil está passando por um processo muito doloroso de de auto-conhecimento. O cenário de recuperação econômica que vinha sendo desenhado com a mudança de governo caiu por terra com um risco político de grande magnitude se materializando com a delação de Joesley Batista, em maio. Ainda assim, o País tem condições de chegar até a eleição de 2018 com alguns tímidos avanços, avalia o economista e escritor Eduardo Giannetti.
Para ele, a crise política que estourou no dia 18 de maio levou o País a voltar a tomar decisões curto-prazistas, táticas, mas agora é hora de pensar no que queremos para o longo prazo. E, para esse cenário, o Brasil precisa atacar 3 grandes frentes, defendeu o economista durante palestra de encerramento do evento Encontro de CEOs da Exame, em São Paulo, que ocorreu nesta semana. São eles: ambiente de negócios, controle fiscal e reforma política.
Entenda a importância de cada um deles abaixo:
1) Ambiente de negócios: Segundo ele, o Brasil precisa se integrar ao fluxo mundial de comércio. “É muito difícil imaginar o Brasil sair dessa armadilha sem integração ao comércio internacional e investimentos”, comenta.
Ele cita a modernização do parque produtivo, que já era baixa, caiu para algo “absurdamente baixo” com a crise. Além disso, há um atraso enorme em investimentos em infraestrutura, o que dificulta a ida da economia brasileira para o fluxo mundial de comercial.
“É incrível que, mesmo com um ambiente tão adverso, ainda seja possível termos exemplos de organizações que são capazes de fazer o trabalho crescer forma consistente e pensar em estratégias de negócios, em longo prazo”, disse.
2) Controle fiscal: Ele comenta a necessidade do País equilibrar a situação fiscal no longo prazo e que não leve a uma situaçao de descontrole, citando o problema que afeta atualmente o estado do Rio de Janeiro.
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“Quer um fato mais exorbitante de que hoje a carga tributária do País representa 35% do PIB (Produto Interno Bruto), contra 25% dos países de renda média; e o déficit nominal é de cerca de 10% do PIB, o que significa que 45% da renda nacional são drenadas pelo Estado. E o que é feito disso?”, questiona.
Segundo ele, dois itens das despesas representam 20% do PIB. São eles: Previdência (12%) e juros (8%), que são muito elevados, acarretando um serviço da dívida muito alto, mas que tende a melhorar um pouco em meio ao ciclo de queda da Selic. “Dessa conta, sobram livres nas mãos do governo 25% do PIB, que é a carga tributária média de um pais de renda média. Mas o que é feito? Ou seja, tem algo muito errado nas finanças públicas brasileiras, que nao é apenas Previdência e dívida. Vamos ter de abrir essa caixa-preta e reavaliar a maneira como é feita a distribuição de recursos”, comenta.
Para ele, o caminho vai ser menos Brasília, mais Brasil. “Vamos ter que pensar genuinamente no Pacto Federativo; Brasília vai ter que diminuir de tamanho”.
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3) Reforma Política (a governança do Brasil): O economista chama o último tema de “delicado”. “Como esperar uma reforma política dos políticos que lá estão?”, questiona.
Paira em Brasília uma minirreforma política, votada às pressas para a próxima eleição, mas que tem itens positivos, como a proibição das coligações, um teto para gastos em campanha em diferentes níveis, comenta.
Segundo ele, o mais importante de tudo isso é que o País está passando por um processo muito doloroso de auto-conhecimento e que o que faremos a partir disso, as decisões estratégicas que tomaremos, fará agora toda a diferença para o futuro do Brasil. “Nós nos extraviamos a tal ponto que devemos estar em um bom caminho”, finaliza, citando o escritor português Fernando Pessoa.