Os 3 fatores que derrubaram o Ibovespa e fizeram o dólar subir nesta terça

Mercado encerra o pregão com viés pessimista diante das notícias que decepcionaram investidores ao longo do dia

Ricardo Bomfim

(Shutterstock)
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SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em queda nesta terça-feira (6) com uma conjunção de três fatores que causaram pessimismo.

O primeiro deles foi a instrução do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a oficiais da Casa Branca para frear as negociações de um pacote trilionário de estímulos contra o coronavírus. Um acordo entre democratas e republicanos parecia próximo até o início desta semana. Trump defendeu no Twitter que os estímulos só serão aprovados depois que ele for eleito para um segundo mandato.

Mais cedo, outro fator de pessimismo foi a fala do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, de que a recuperação econômica dos EUA está longe de ser concluída e ainda pode cair em uma espiral descendente se o coronavírus não for controlado.

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“Nesta fase inicial, eu argumentaria que os riscos da intervenção da política monetária ainda são assimétricos. Muito pouco apoio levaria a uma recuperação fraca, criando dificuldades desnecessárias para famílias e empresas”, declarou o chairman do Fed.

Por fim, notícia do Globo destacou que o presidente Jair Bolsonaro deve deixar o anúncio do Renda Cidadã para depois das eleições municipais. Fontes teriam dito ao jornal que o presidente não quer avalizar medidas impopulares para o financiamento do programa antes das eleições.

Recentemente foi aventada a possibilidade de que o governo extinguisse o desconto de 20% na declaração simplificada do Imposto de Renda para poder abrir espaço no Orçamento para o programa, que entraria no lugar do Auxílio Emergencial.

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O Ibovespa teve queda de 0,49%, aos 95.615 pontos com volume financeiro negociado de R$ 26,784 bilhões.

Pela manhã, as bolsas mundo afora subiam porque Trump recebeu alta do hospital. O americano ficou internado por três dias para combater uma infecção por coronavírus. Com a melhora no seu estado de saúde, o cenário para as eleições presidenciais de novembro fica menos incerto.

A paralisação das negociações pelos estímulos anti-Covid e o balde de água fria do presidente do Fed nas expectativas mais otimistas para a retomada econômica, contudo, acabaram fazendo investidores correrem para se desfazerem de posições compradas. Os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq caíram 1,34%, 1,4% e 1,57% respectivamente.

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Enquanto isso, o dólar comercial subiu 0,52% a R$ 5,594 na compra e a R$ 5,595 na venda. O dólar futuro com vencimento em novembro registrava ganhos de 0,23%, a R$ 5,592 no after-market.

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 subiu seis pontos-base a 3,33%, o DI para janeiro de 2023 avançou oito pontos-base a 4,79%, o DI para janeiro de 2025 teve alta de sete pontos-base a 6,64% e o DI para janeiro de 2027 registrou variação positiva de seis pontos-base a 7,53%.

Ainda no radar, o Fundo Monetário Internacional (FMI) melhorou suas perspectivas econômicas de 2020 para o Brasil, mas alertou que os riscos permanecem “excepcionalmente altos e multifacetados” e que a dívida do governo está a caminho de encerrar o ano em torno de 100% do Produto Interno Bruto (PIB).

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Na política, depois de protagonizarem atritos nas últimas semanas, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro da Economia, Paulo Guedes, decidiram fazer as pazes. Ontem, eles jantaram juntos e pediram desculpas mútuas. Os dois defenderam a pacificação e a continuidade da agenda de reformas, de acordo com o Estadão.

Voltando ao noticiário americano, os médicos de Trump disseram ontem que a saúde do presidente continuou a melhorar nas 24 horas anteriores, embora o médico Sean Conley tenha alertado que ele ainda pode não estar totalmente fora de risco. Ao mesmo tempo, o mercado acompanha as negociações do governo dos Estados Unidos sobre um novo pacote de estímulos à economia.

Dívida pública

O tema do ajuste fiscal já era uma grande preocupação do mercado, mas ganhou força com os planos do governo para financiar o programa Renda Cidadã com precatórios, planos estes que estão sendo ajustados.

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Ontem, o senador Márcio Bittar (MDB-AC), relator do Orçamento de 2021 e da proposta do Pacto Federativo, afirmou que qualquer solução para criar o Renda Cidadã vai respeitar o teto de gastos e ter a chancela do titular da equipe econômica. Segundo a Folha de S.Paulo, o diálogo está “entrando nos eixos”, e uma nova proposta deve ser apresentada até amanhã (7).

A deterioração da confiança dos investidores pode ser percebida com o aumento dos gastos do governo com a dívida pública.

Segundo a Folha, o prazo médio prazo médio dos títulos da dívida pública brasileira emitidos desde janeiro de 2020 caiu à metade, de 4,7 anos para 2,4 anos. Com isso, em apenas um ano os vencimentos em doze meses praticamente dobraram, de R$ 553 bilhões para R$ 1,02 trilhão, atingindo quase 25% da dívida total.

Os juros exigidos pelo mercado para refinanciar o governo também aceleraram, sobretudo nas últimas semanas e dias, mesmo para os papéis com vencimento mais curto. Mesmo com a Selic a 2% ao ano, o Tesouro Nacional vem sendo obrigado a pagar mais que o dobro disso para vender títulos na praça com vencimento daqui a dois anos.

Guedes e Maia

Em reunião na noite da última segunda-feira, Maia disse que haverá união para dar andamento à agenda econômica no Congresso, enquanto Guedes voltou a defender a aprovação de um programa de renda básica para 2021 e uma medida de desoneração da folha salarial para gerar “empregos em massa”. Ele também reiterou compromissos com o envio de outra etapa da reforma tributária.

Ontem, o líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO) disse que o veto à desoneração da folha salarial para 2021 será derrubado pelos parlamentares.

Com isso, o benefício seria garantido para 17 setores da economia por mais um ano. No entanto, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), adotou uma manobra para adiar a votação e cancelar a sessão do Congresso Nacional. Segundo o Estadão, Alcolumbre vai se reunir hoje com líderes partidários para definir a data da sessão do Congresso.

Além disso, o presidente Jair Bolsonaro reafirmou que vai indicar um nome “terrivelmente evangélico” para a segunda indicação que fizer no Supremo Tribunal Federal (STF), em julho. Ele sugeriu que pode até alçar um pastor à corte.

Outro destaque é a notícia de que foi marcado para a próxima quinta (8), o julgamento de recurso da Advocacia-Geral da União (AGU) sobre o depoimento por escrito do presidente Jair Bolsonaro no inquérito que apura suposta interferência política na Polícia Federal.

Radar corporativo

Em destaque no noticiário corporativo, o Marfrig comprou a Campo del Tesoro, na Argentina por US$ 4,6 milhões, enquanto a BR Malls e a Multiplan investiram R$ 9 milhões e R$ 18,6 milhões, respectivamente, na Delivery Center.

Maiores altas

Ativo Variação % Valor (R$)
CVCB3 9.2669 15.8
GOLL4 7.5311 18.99
AZUL4 6.7873 25.96
ABEV3 4.9961 13.45
BRKM5 4.5131 22

Maiores baixas

Ativo Variação % Valor (R$)
IRBR3 -16.5318 7.22
MRFG3 -3.7874 14.48
B3SA3 -3.6771 53.7
NTCO3 -3.2686 47.35
BEEF3 -2.9956 11.01

Também chama atenção o dado divulgado ontem à noite pelo Banco Central sobre o primeiro dia do PIX. Até as 18h30, foram feitos 3,5 milhões de cadastros de chaves no sistema brasileiro de pagamentos instantâneos. Pode influenciar as empresas produtoras de carne a notícia de que o Ministério da Agricultura confirmou a ocorrência de um foco de Peste Suína Clássica (PSC) no Piauí, em um criatório de porcos para subsistência.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.