Onda de grupamentos de ações “centavos” revela-se uma grande cilada ao investidor

Em um primeiro momento, o grupamento de ações que valem quase um centavo traz a possibilidade destes papéis serem negociados na Bovespa; no entanto, o que temos visto é que essas operações apenas abriram espaço para que as ações caiam ainda mais

Marina Neves

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SÃO PAULO – Em uma resposta à “ameaça” da BM&FBovespa de banir ações que valem menos de R$ 1,00 na Bolsa de Valores, muitas small caps (empresas com baixo valor de mercado) têm anunciado grupamentos de ações, com o intuito de aumentar o valor de face de cada papel através da diminuição da quantidade de ativos negociados na Bovespa. A operação, em um primeiro momento, é vista como positiva no sentido de trazer maior liquidez para ativos que eram negociados próximos de R$ 0,01. Mas o que temos visto na prática é que os grupamentos têm aberto espaço para que aquelas ações que não tinham mais como cair simplesmente… voltassem a cair.

Se a explicação parece confusa, um exemplo real torna isso muito claro: a JB Duarte (JBDU3, JBDU4) realizou em maio de 2013 um grupamento de ações na razão de 100 para 1 – ou seja, cada 100 ações da empresa tornariam-se apenas 1, e o valor de face de cada papel seria multiplicado por 100. Assim, o total de ativos da produtora de bambu e eucalipto passou de 1.393.692.545 para 13.936.925 ativos, e o valor por ação passou de R$ 0,01 para R$ 1,00 – preservando assim o valor de mercado da empresa na Bovespa.

O intuito desta operação seria basicamente trazer ao acionista da JB Duarte a possibilidade de negociar estes papéis no mercado, já que nas cotações de R$ 0,01 a briga “oferta x demanda” praticamente inexiste. O problema foi que passados 19 meses do grupamento, os papéis JBDU4 praticamente voltaram ao valor mínimo de Bolsa, tendo fechado esta segunda-feira (15) valendo R$ 0,06. O motivo para esse “retorno” aos tostões reflete a manutenção do cenário negativo da empresa: após iniciar sua história produzindo produtos químicos para a indústria têxtil e veterinários, a empresa centenária mudou seu foco de produção para produtos sustentáveis após o “boom” das commodities entre os anos 90 e 2000. Após algumas tentativas falhas de novos negócios, a JB Duarte decidiu apostar sua atuação na plantação de bambu e eucalipto, na tentativa de ajudar no crescimento de um novo mercado no País.

Quem comprou a ação após o grupamento a viu cair 94% de lá pra cá. Pior ainda: quem comprou o papel a R$ 0,01 um dia antes do grupamento teria hoje uma ação que vale o equivalente a R$ 0,0006, a 4ª casa de centavo.

A história (de terror) se repete?
E por que estamos revivendo todo esse caso da Bovespa? Simplesmente porque nesta segunda-feira os acionistas da JB Duarte aprovaram mais um grupamento de ações, na mesma razão de 100 para 1. Então a partir de amanhã (terça-feira, 16 de dezembro), as ações JBDU3 e JBDU4, que fecharam a última sessão a R$ 0,08 e R$ 0,06, respectivamente, passarão a valer R$ 8,00 e R$ 6,00, nesta ordem.

Segundo comunicado da própria empresa, o grupamento tem como objetivo conferir maior liquidez às suas ações, atendendo às recomendações feitas pela Abrasca (Associação Brasileira das Companhias Abertas) e pela BM&FBovespa. A operação também diminui a volatilidade do papel: se uma ação cair 10 centavos quando vale R$ 8,00, a variação percentual será de apenas 1,25%; mas se ela vale R$ 0,80, um recuo no mesmo valor causaria uma desvalorização de 12,5%. Se o maior valor de face pode diminuir a volatilidade de curto prazo, ele por outro lado pode abrir espaço para que uma ação que não tinha mais como cair perca valor de mercado – como a própria JB Duarte já provou em um passado recente.

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Sem novidades no radar da empresa, seu principal desafio segue sendo atrair novos investidores, ou, ao menos, reter os que já tem. Até o momento, a companhia não foi encontrada para dar seu posicionamento.

Millennium segue os mesmos passos
Na mesma linha da fabricante de bambu, a Cristal Pigmentos Brasil – antiga Millennium (TIBR5) – também declarou que quer agrupar as ações na razão de 100 para 1. A assembleia com os acionistas será realizada nesta sexta-feira (19) e se a proposta for aprovada as ações, que são negociadas atualmente a R$ 0,08, passarão a ser cotadas a R$ 8,00.

Contudo, é importante mencionar que a Cristal Pigmentos já havia tentado agrupar as ações em dezembro do ano passado, porém não teve sucesso: pelo momento da empresa, ela resolveu desistir do grupamento. Na época, as ações valiam R$ 0,19. 

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A companhia é a segunda maior produtora de pigmento de Dióxido de Titânio (TiO2), um pó branco, inorgânico e de uso seguro, utilizado para dar cor, brilho e opacidade, usado para dar cor a objetos como tintas, plásticos, papel, borracha e cerâmica – do mundo. Ela conta com sete fábricas de TiO2 distribuídas em cinco continentes, sendo duas plantas nos Estados Unidos, uma na Inglaterra, uma na França, uma na Arábia Saudita, uma na Austrália e uma no Brasil.