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A aprovação da venda da Oi Móvel para a TIM (TIMS3), Vivo (VIVT3) e Claro ontem (9) pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) é um avanço importante para um dos mais complexos planos de recuperação judicial da história. Mas não tira os desafios que a ex “super tele” deve ter pela frente, ainda que melhorando o perfil de endividamento da companhia.
Em 2016, ao entrar com um pedido de recuperação judicial para evitar falência, a Oi (OIBR3,OIBR4) acumulava uma dívida de R$ 65 bilhões – montante que foi diminuindo com proposta de reestruturação. Hoje, a dívida líquida da empresa está em R$ 29,9 bilhões de reais, quase cinco vezes o valor de mercado da Oi (R$ 6,2 bilhões). Os ativos da Oi Móvel foram vendidos por R$ 16,5 bilhões.
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“Esse dinheiro chega para pagar os credores de acordo com o plano apresentado ao juiz. É comum esses planos preverem um prazo longo de pagamentos, mas isso não é interessante para as empresas”, explica Luciano Velasque Rocha, sócio Madrona Advogados, especialista em processos de recuperação judicial.
A companhia já havia vendido outros ativos para saldar a dívida: negociou torres móveis com a Highline Brasil (R$ 1,07 bilhão), data centers com a Piermonte Holding (R$ 325 milhões) e vendeu participação de 57,9% na V.tal (ex-InfraCo), para fundos do BTG e Globenet. Esta última operação foi aprovada pelo Cade mas ainda carece de anuência prévia da Anatel.
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A RJ da Oi já havia sido prorrogada. Inicialmente, era para ser concluída em 4 de outubro do ano passado, mas o prazo foi estendido para 31 de março. O juiz Fernando Viana, da 7ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, deu mais tempo para a companhia conseguir autorizações do Cade e da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) na venda de seus ativos de telefonia móvel.
“Com a obtenção de todas as aprovações regulatórias, a Oi precisa avançar com algumas etapas societárias para a transferência dos ativos para as três operadoras. O closing da operação deve acontecer até o início de abril”, diz análise da XP, assinada por Bernardo Guttman e Marco Nardini.
A venda dos ativos móveis era crucial no processo de saída do processo de recuperação judicial da companhia, que também será positiva para ações da Oi negociadas na Bolsa. Elas poderão ser acessadas por fundos de investimento que são impedidos de investir em empresas em RJ. Também poderá entrar em índices do mercado de ações. Mas será que a Nova Oi vai conseguir recuperar atratividade e sair de vez da casa dos centavos na Bolsa?
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Foco em fibra óptica
Até outubro do ano passado, a Oi tinha uma fatia de 16,4% do mercado de telefonia móvel, com 41,3 milhões de usuários, que serão distribuídos entre as compradoras dos ativos. Flávio Conde, da Levante Ideia de Investimentos, calcula que a receita média por usuário da Oi Móvel era de R$ 13,20, metade das concorrentes Vivo (VIVT3) (R$ 27,80) e TIM (TIMS3) (R$ 26,50).
Com a venda desses ativos, a Nova Oi fica com 5,2 milhões de clientes no mercado de banda larga (com 12,93% de market share) e 8,8 milhões de usuários da telefonia fixa. A Levante estima que essa base poderá gerar até R$ 5,7 bilhões em lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) para a companhia em 2022, contando com a entrada dos R$ 16,5 bilhões da venda da Oi Móvel em caixa.
“Com o recebimento dos recursos, a Oi deve endereçar seus compromissos de curto prazo, além de obter parte do funding necessário para investimento na fibra”, escreveram os analistas da XP.
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O negócio tem alto potencial de crescimento, segundo analistas. Com a substituição de fiação de cobre por fibra óptica, a Nova Oi aposta na construção da rede neutra – uma estrutura que também poderá ser utilizada por outras operadoras.
A V.tal, com foco no atacado, vai disponibilizar infraestrutura de fibra para essas operadoras e provedores de internet. Esse braço da Oi promete ter papel relevante em levar 5G para operadoras de telefonia móvel.
Luiz Guerra, CIO da Logos Capital, enxerga dois desafios para a Oi nesse sentido. Os investimentos nessa área demandam um alto grau de investimentos, com forte queima de caixa; além disso, é um mercado competitivo, em que a Oi vai disputar espaço com pequenos prestadores de serviço, a exemplo de Brisanet (BRIT3), Unifique ([ativo=FIQ3]) e Desktop (DESK3).
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“Vai ser desafiador para a Oi crescer em fibra, pois há a concorrência de empresas menores, que estão capitalizadas, mas a gente acha que ela vai ser vencedora”, afirma Guerra. Para ele, a Oi se antecipou nesse segmento em relação à concorrência e está sob boa gestão. Por enquanto, a Logos Capital não está posicionada no papel. A gestora investia em OIBR3 desde 2019, mas saiu da ação depois que o preço bateu R$ 1,75, no ano passado.
“A vantagem é que muitas residências no Brasil ainda não possuem fibra óptica, ao contrário da telefonia móvel, que todo mundo tem. A Oi tem uma avenida para crescer e tem a V.tal para dar suporte aos investimentos em fibra”, afirma Flávio Conde, da Levante.
E como fica o valor das ações?
Por conta das restrições da recuperação judicial, a maioria dos investidores dos papéis da Oi são do tipo pessoa física, uma vez que grandes fundos e investidores institucionais não podiam comprar ações da empresa nessa situação.
Isso trouxe bastante volatilidade aos ativos nas últimas semanas, por conta de incertezas quanto ao julgamento do Cade. Mas agora que a venda da Oi Móvel foi aprovada, a Levante vê potencial de valorização de 55% para os papéis OIBR3 da empresa em relação ao fechamento da véspera.
No cálculo do preço-alvo de R$ 1,57 ao final do ano, Flávio Conde levou em consideração um EV/ Ebitda (ou valor da empresa sobre o Ebitda) de 4,5 vezes.
Para Fabiano Vaz, da Nord Research, a aprovação do Cade destrava valor para ações da Oi, mas a empresa vai precisar continuar mostrando seu trabalho de reestruturação. “É uma tese de longo prazo. A Oi passa por uma reestruturação enquanto investe em fibra, deve continuar crescendo. As ações vão ser consequência”, afirma.
A Nord Research, que tem recomendação de compra para a ação, calcula que o valor de mercado da Oi hoje é menor que o da participação da empresa na V.tal. Por esse parâmetro, a Nord acredita que o preço de OIBR3 deveria estar em cerca de R$ 1,27 (ou cerca de 26% acima do fechamento da véspera).
Compilação feita pela Refinitiv com casas de análise que cobrem o papel mostra opiniões divididas. Das cinco casas que cobrem o papel, três recomendam compra e duas recomendam manutenção (hold).
Por outro lado, o preço-alvo médio para os ativos caiu nos últimos quatro meses. Em outubro a média desse preço-alvo era de R$ 2,58. Atualmente, está em R$ 1,63, ainda com um potencial de alta de 61% em relação ao fechamento da sessão passada.
Enquanto os fundos ainda estão impedidos de se posicionar no papel, resta saber se o investidor do varejo vai ter paciência para comprar a tese de longo prazo da Nova Oi.
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