Oi (OIBR3): com venda de torres, empresa pode abater dívidas e investir em expansão; mas o que falta para deixar recuperação judicial?

Somando todas as vendas de ativos dentro da recuperação judicial, a Oi receberá cerca de R$ 31 bi; decisão sobre fim da RJ está nas mãos do juiz

Mitchel Diniz

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Com a venda de mais 8 mil torres de telefonia fixa à subsidiária da Highline Brasil na véspera, a Oi (OIBR3;OIBR4) pode ter cumprido com sua última pendência antes da conclusão de sua recuperação judicial (RJ). Os sites foram à leilão depois de uma proposta vinculante feita pela NK 108, que acabou sendo a única proponente do certame, e adquiriu os ativos com um lance de R$ 1,697 bilhão  – mesmo valor proposto inicialmente.

“A venda das torres de telefonia fixa da Oi representa um marco que simboliza o final da sua recuperação judicial, a qual já perdura desde meados de 2016. Depois de tanto esforço, ela consegue finalmente se desfazer da grande quantidade de ativos que não fariam mais parte do seu core business”, diz análise da Levante Ideia de Investimentos.

A compra das torres pela Highline ainda precisa do aval da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). “A venda desses ativos não estava prevista pelo aditamento da recuperação judicial, não devendo interferir no processo. O máximo que se discutiu foi a possibilidade de se realizar o leilão e sua conclusão (o que foi feito) para que seja possível finalizar a RJ”, afirma Gabriel Tinem, analista do setor de telecomunicações da Genial Investimentos.

O administrador da recuperação judicial da Oi informou que o juiz Fernando Viana, da 7ª Vara empresarial do Rio de Janeiro, ainda vai examinar o caso para decidir se dará a sentença de conclusão da RJ antes do aval das entidades sobre a operação.

O controle do prazo para o fim do processo agora depende mais dele do que da companhia em si.

Oi vai continuar alugando torres que vendeu

As torres de telefonia fixa da Oi foram agrupadas em uma sociedade de propósito específico (SPE) chamada Torres 2. A Levante explica que os ativos foram vendidos seguindo um modelo de sale & leaseback, em que a operadora vende os ativos e depois os utiliza pagando um aluguel mensal para a nova detentora. A Oi precisa continuar prestando o serviço com as torres até o final de sua concessão.

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“A Oi vai diminuir o custo de um lado, mas vai ter o custo do aluguel do outro. É bem difícil falar se o negócio foi favorável. A empresa não divulgou os valores desse aluguel e o quanto ela tem especificamente de custo com essas torres. Mas acredito que seja algo relevante e faça parte da estratégia da Oi, que vai focar na fibra”, diz Fabiano Vaz, sócio e analista de ações da Nord Research.

A Highline pagará a primeira parcela de R$ 1,088 bilhão à Oi na data de fechamento do negócio, o que deve representar uma importante entrada no caixa da companhia, mesmo com o desconto da auditorias das torres sobre o valor. “A companhia segue precisando fazer investimentos e ainda não consegue gerar caixa. Esse R$ 1 bilhão acaba sendo bem interessante para uma empresa que está passando por esse momento. Mas não é algo que vai transformar a Oi”, afirma Vaz.

Menos dívidas, mais expansão

A segunda parcela da venda das torres é de R$ 609 milhões e pode ser paga até 2026. “Esses valores não necessariamente serão utilizados para abater as dívidas, mas possibilitará à empresa se expandir nas suas atividades cores, como fibra e serviços”, diz Tinem.

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A Levante destaca que, somando todas as vendas de ativos dentro da recuperação judicial, a Oi receberá aproximadamente R$ 31 bilhões. A cifra incluiu data centers, torres de telefonia fixa e móvel, a Oi Móvel e os assinantes de TV, além da venda de parte da V.Tal e do DTH, que ainda está em processo de aprovação pelo Cade. “Vale ressaltar que boa parte desse valor já foi destinado ao pagamento de dívidas”, escrevem os analistas da casa.

Em 2020, a Oi anunciou que o novo core business da empresa seria o negócio de fibra. No segundo trimestre deste ano, as receitas desse segmento foram de R$ 958 milhões, com crescimento anual de 38,7%. A Oi encerrou o período com 3,7 milhões de casas conectadas e uma adição líquida de 144 mil residências.

Segundo o CEO da empresa, Rodrigo Abreu, a Oi vê oportunidades para aumentar a base de casas conectadas com a infraestrutura implementada pela V.Tal (ex-InfraCo), da qual a Oi deixou de ser controladora, com a venda para a Globenet e BTG.

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“Com mais de R$ 30 bilhões de caixa recebidos durante o processo todo, a companhia ficará com a sua estrutura de capital melhor equalizada, dependendo apenas da melhora operacional para gerar caixa recorrente, assim permitindo investimentos de forma constante”, dizem os analistas da Levante. Na visão da casa, a empresa está com valuation “aparentemente descontado”, levando em conta o histórico da empresa. No entanto, a equipe de análise diz não se sentir segura para
recomendar o ativo, “nesse momento com tantas mudanças”.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados