Oi (OIBR3): Ao se desfazer de negócios estratégicos, empresa corre o risco de se igualar a operadoras regionais de banda larga

Plano de recuperação judicial prevê venda de mais uma fatia da V.tal e de unidade de soluções para empresas

Mitchel Diniz

Oi telecomunicações (Foto: Divulgação)
Oi telecomunicações (Foto: Divulgação)

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As ações da Oi (OIBR3;OIBR4) reagiram positivamente na última segunda-feira (22) ao segundo plano de recuperação judicial da companhia, apresentado no último sábado (20). Os papéis amenizaram os ganhos de até 11,21% registrados no intraday, mas ainda assim fecharam com alta de 3,73%, a R$ 1,11 (vale destacar o baixo valor de face do ativo, que leva com que variações de centavos virem expressivas variações percentuais).

Contudo, caso a empresa consiga vender os ativos que pretende para honrar a dívida com seus credores, seu futuro será ainda mais incerto, alertam os analistas. A Oi tem pelo menos R$ 44,3 bilhões em dívidas e, para pagá-las, pretende se desfazer de negócios que estavam no centro da nova estratégia da companhia, após a venda dos ativos de telefonia móvel para Tim (TIMS3), Vivo (VIVT3) e Claro.

“Na primeira recuperação judicial, a Oi estava super inchada, com telefonia móvel, fixa, serviços de dados. Vários ativos não faziam sentido para o novo core business e foram vendidos sem impactar a nova estratégia da companhia”, lembra Fabiano Vaz, sócio e analista de ações da Nord Research. A situação agora é diferente por envolver ativos-chave para a própria existência da chamada “nova Oi”.

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Um deles é a V.tal, rede neutra de fibra óptica da qual a Oi detém, hoje, uma fatia de pouco mais de 34%. No plano de recuperação judicial, a companhia prevê a venda de 14,6% dessa participação remanescente por R$ 14,4 bilhões em 2026 e 2027. Em junho do ano passado, a empresa já havia vendido uma parte de sua participação na V.tal para pagar dívidas e fundos geridos pelo BTG Pactual passaram a ter o controle do ativo.

“Era a nova joia da coroa da Oi. Ano passado, ela vendeu parte desse ativo, sem conseguir barganhar com os credores, e agora tudo indica que vão ter que se desfazer do restante”, afirma Vaz.

Empresa precisa de participação mínima na V.tal

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), no entanto, afirma que a empresa precisa manter, no mínimo, 20% de participação na rede neutra, para que tenha pelo menos um assento no conselho de administração da V.tal. Uma parte dos ativos da empresa veio de privatizações das “teles” estatais e são considerados bens reversíveis, utilizados na prestação do serviço público de telefonia fixa. Por esse motivo, a Oi não poderia se desfazer de toda a participação da V.tal.

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“A Oi já operava com um modelo de vender serviços baseado em fibra sem ter uma rede de fibra”, explica Eduardo Tude, sócio da consultoria Teleco e analista do mercado de telecomunicações. Segundo ele, esse modelo de negócios não mudaria, mesmo que a Oi reduzisse sua participação na V.tal, conforme prevê o plano de recuperação judicial. E caso quisesse vender toda sua fatia remanescente na rede neutra, precisaria deixar de ser concessionária de telefonia fixa para se tornar uma autorizada, o que depende de definição da Anatel.

“O grande problema é a concessão de telefonia fixa, manter a rede de cobre consome muito recursos. Essa é a questão que a Oi precisa resolver para iniciar realmente uma recuperação”, afirma Tude. A Oi tenta receber R$ 53 bilhões da União por prejuízos com a telefonia fixa, reivindicação que está sendo arbitrada pela Anatel. Porém, no começo deste mês, a agência abriu um processo que pode vir a cassar a concessão de telefonia fixa da operadora. A Anatel apura se a empresa, que possui 28,6% desse mercado, tem condições econômicas de manter a outorga.

Leia mais: Oi diz que recuperação judicial não impactou operações

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Fibra apenas para o varejo

Além da redução de participação na V.tal, o novo plano de recuperação judicial da Oi prevê a venda de suas subsidiárias no Brasil e no exterior. Entre elas está a Oi Soluções, unidade de negócios B2B que também faz parte do novo core da companhia e cujas receitas vinham crescendo em ritmo de dois dígitos.

“Sem esse ativo, a Oi será uma empresa de fibra para o varejo, que tem tido um avanço interessante, de expansão da rede, mas não é uma operação tão rentável assim”, diz Vaz, da Nord Research. Segundo ele, sem conseguir atender o cliente pessoa jurídica, a Oi poderia ser comparada a provedores regionais de internet, os chamados ISPs.

“Seria basicamente uma empresa de banda larga fixa numa rede de fibra, com alguns produtos associados, como várias empresas que estão fazendo hoje”, afirma Tude, da Teleco. A princípio, a Oi contaria com o diferencial o de sua sua base de 3,86 milhões de clientes de banda larga. Mas esse número pode diminuir quase à metade caso a recuperação judicial se concretize conforme o planejado.

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A Oi quer reunir a base de clientes dentro de uma nova empresa, a ClientCo, com ativos da Oi Fibra – e pretende vender 40% dela pelo valor de R$ 4,8 bilhões até 2025.

Vendendo tudo o que pode ser vendido

Ari Lopes, gerente para as Américas de mercados de telecom da consultoria Omdia, é mais pessimista e acredita que Oi pode até mesmo deixar de existir enquanto empresa que presta serviço a um consumidor final. “Ela está basicamente vendendo o que ela tem e consegue vender”, afirma. “ Na minha visão, a Oi tende a virar apenas um instrumento de gestão das dívidas que possui”.

Sobre a alta das ações da Oi no primeiro pregão após o detalhamento do novo plano de recuperação judicial, Lopes não vê fundamentos sólidos que justifiquem o movimento. “A empresa tem dificuldades financeiras fortes e muitas pessoas que entraram [na ação] foi para tentar buscar um lucro nessa volatilidade a um baixo preço de entrada”, diz.

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Fabiano Vaz concorda. “A gente gosta de empresas que conseguem crescer no longo prazo, e cujas ações vão subir acompanhando o resultado. A Oi, hoje, é o contrário disso. Ela já está com dificuldade para expandir receita e ainda quer se desfazer de ativos estratégicos, que já contribuem de maneira relevante com essa receita”.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados