Oi dá novo passo para venda do controle da InfraCo por R$ 12,9 bi, mas por que as ações caíram desde o anúncio?

Avaliação do valor da firma abaixo do esperado, saída de investidores especulativos e revisão da proposta foram fatores que pesaram para os papéis

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – Em uma operação bastante esperada pelos investidores, a operadora Oi (OIBR3; OIBR4) deu um novo passo na venda de ativos e para sair da recuperação judicial, processo que vive desde 2016, ao aceitar proposta vinculante para se desfazer do controle da empresa de fibra óptica InfraCo, segundo fato relevante divulgado na segunda-feira (12).

A companhia deve ficar com o BTG Pactual e a Globenet – desde fevereiro, as partes estavam em negociações exclusivas sobre o ativo. O total da operação é de R$ 12,9 bilhões.

A proposta vinculante prevê em 31 de dezembro deste ano o valor de firma (EV) da InfraCo de R$ 20,02 bilhões, considerando uma dívida líquida de R$ 4,107 bilhões, integralmente devida à Oi e a ser repaga em até 90 dias do fechamento da operação.

Após a incorporação da InfraCo, BTG e Globenet passarão a deter ações representativas de 57,9% do capital social votante e total do negócio; a Oi permanece como sócia minoritária no ativo.

No acordo, o fundo controlado pelo BTG irá pagar R$ 11,4 bilhões em dinheiro para que o fundo FIP Economia Real detenha 51%, também incorporando a Globenet Cabos Submarinos à transação, tendo seus ativos avaliados em R$ 1,52 bilhão, adicionando mais 6,8% do capital votante para o controle do banco.

Com essa resolução e a oferta inicial já negociada, o leilão dos ativos de fibra deve ocorrer em um prazo de 60 dias. O fundo do banco BTG Pactual possui o direito de cobrir qualquer oferta de um concorrente pelo montante adicional de 1%.

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De acordo com a equipe de análise da Levante Ideias de Investimentos, considerando esse direito preferencial e pouco tempo de estudo necessário pelos concorrentes para fazer um lance, é improvável que haja outra oferta.

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A venda do controle da subsidiária de fibra óptica é importante para dar fôlego financeiro à Oi, cujas dificuldades financeiras se arrastam por quase uma década. A antiga “super tele” nacional, criada na época do governo Lula com forte apoio de recursos oficiais, agora busca sustentar investimentos e honrar pagamentos.

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A operadora vê sua situação financeira piorar ano a ano. A dívida líquida da companhia, por exemplo, cresceu de R$ 15,9 bilhões, em 2019, para R$ 21,8 bilhões em 2020. A valorização do dólar pesou sobre os empréstimos em moeda estrangeira, mas a companhia também assumiu novos financiamentos, elevando o endividamento total.

Já pelo lado operacional, a Oi busca avançar em sua estratégia de transformação em uma grande operadora de fibra óptica. Dentro deste processo, a empresa assinou em dezembro a venda de seus ativos de telefonia celular para as três principais rivais, TIM (TIMS3), Claro e Vivo (TIMS3) por R$ 16,5 bilhões.

Nos últimos meses, a InfraCo iniciou o processo de separação do resto do grupo, recebendo as redes de fibra óptica da Oi, sistemas e equipes para funcionar de modo independente. Na sequência, fechou os dois primeiros contratos para atuar como uma rede neutra, prestando serviço a outros provedores de banda larga.

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A empresa resultante do acordo terá a maior rede neutra das Américas, com aproximadamente 400 mil quilômetros de fibra óptica e mais de 5 milhões de domicílios aptos a ser conectados. Adicionalmente a companhia terá os 23,5 mil quilômetros de cabos submarinos da Globenet, conectando a rede com os Estados Unidos.

Apesar da notícia aparentemente positiva e que deve dar fôlego para que a companhia faça investimentos em fibra óptica, as ações, que chegaram a abrir em alta na véspera, fecharam em queda na sessão de segunda-feira, com OIBR3 em baixa de 4,1% e OIBR4 com desvalorização de 2,9%. A baixa se seguiu na sessão desta terça-feira, de 3,72% para os ativos ON (R$ 1,81) e de 3,38% para os PN (R$ 2,57). Com isso, em dois pregões, OIBR3 caiu 7,65% e OIBR4 teve baixa de 6,20%.

Conforme destaca a equipe de análise da Levante, além da alta volatilidade que as ações da companhia possuem, a queda nos preços se deve em parte ao fato da parcela vendida ter sido acima dos 51% esperados pelo mercado e no início das negociações pela companhia.

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Além disso, alguns investidores mais focados nos eventos especulativos da companhia registram um menor interesse com esses gatilhos para a ação se concluindo.

Já na avaliação do Bradesco BBI, a princípio, o negócio foi negativo, uma vez que considerou o valor de firma abaixo dos R$ 28,4 bilhões que os analistas incluíram em suas estimativas. Por outro lado, houve o acordo proposto para incorporar o contrato da Globenet por R$ 1,6 bilhão. Com isso, no total, a oferta ficou R$ 2,9 bilhões maior versus a estimativa do BBI.

“Em suma, vemos o resultado do negócio como negativo, dado que a avaliação ficou aquém de nossa expectativa; no entanto, ainda precisamos de mais esclarecimentos sobre a estrutura da oferta, principalmente no que diz respeito à incorporação do contrato Globenet”, afirmam.

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De qualquer forma, os analistas seguem otimistas com o case, com a Oi sendo a top pick do banco no segmento de telecomunicações da América Latina, com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) e preço-alvo de R$ 3,50 [para os ativos OIBR3]. O preço-alvo configura um potencial de valorização de 86% em relação ao fechamento da véspera, de R$ 1,88 para os ativos ordinários da companhia.

Destaques da tele

Em teleconferência nesta terça-feira, Rodrigo Abreu, CEO da Oi, destacou que, a despeito da venda de uma fatia maior na companhia, a Oi continuará com uma importante participação na InfraCo e, ao mesmo tempo, pode se beneficiar da melhor capacidade de investimentos e oportunidades para expandir as operações. “Não vai apenas elevar o valor da companhia, mas vai trazer economia de alguns custos. Vamos ter certeza de fluxo de caixa nos próximos três anos, que serão mais importantes para a estabilidade da operação, e terá sinergias operacionais e estratégicas”, destaca.

Durante o evento, a companhia ainda destacou que, com a venda da InfraCo, espera a criação da maior companhia de infraestrutura da América Latina, com um investimento de até R$ 20 bilhões nos próximos quatro anos (entre R$ 4 bilhões e R$ 5 bilhões por ano) para a ampliação da operação de rede neutra.

Rodrigo Abreu apontou que cerca da metade dos investimentos  seriam para as casas passadas (homes-passed, ou casas com infraestrutura de cabeamento para fibra óptica), atingindo a meta de 32 milhões ao fim do período, “se não mais”, dependendo de como ficará a operação.

O valor restante será destinado a outros componentes, como as casas conectadas (HC, clientes que de fato pagam pelo serviço), que será executado pela InfraCo, a ser executado pela ClientCo, o que ficará com a Oi após todos os desinvestimentos, prestando o serviço ao consumidor final.

O leilão está previsto para acontecer no segundo trimestre deste ano. e a transação deverá estar concluída entre o último trimestre de 2021 e os primeiros três meses do próximo ano. Abreu destacou, durante a tele, esperar um prazo mais curto de conclusão da transação pelas autoridades regulatórias.

Concorrência no radar

A Levante também aponta os aspectos concorrenciais para ficar de olho. Enquanto a Oi vai utilizar somente a rede neutra, a concorrente Vivo fechou em março uma parceria com o fundo canadense Caisse de dépôt et placement du Québec (CDPQ) e Telefônica Infra (subsidiária da Telefónica Espanha, controladora da Vivo) para criação da sua rede neutra. No entanto, a operadora ainda vai manter a maior parte de seus ativos de fibra sob seu controle, fazendo apenas uma cisão parcial dos ativos para a parceria.

A TIM, por sua vez, negocia um acordo de exclusividade com a IHS, companhia provedora de infraestrutura de telecomunicações com presença na África, Oriente Médio e América Latina para criar parceria para os ativos de fibra. Apesar de também buscar uma parceira para ajudar nos investimentos, a companhia não pretende criar uma rede neutra para venda no atacado como a Vivo e a Oi.

“Os negócios de fibra têm chamado a atenção do mercado por seus altos valores e múltiplos elevados. O recente acordo com da Vivo com o fundo canadense teve um múltiplo EV/Ebitda [valor da firma sobre o Ebitda] de 16,5 vezes, enquanto a média do múltiplo de empresas de telecomunicações no mundo gira em torno de 6 vezes EV/Ebitda, evidenciando um potencial interessante de geração de valor para os acionistas do setor de telecom”, apontam os analistas.

Eles avaliam que as companhias de telecomunicações têm procurado parceiros para dividir o investimento no segmento mais atrativo para o mercado, banda larga fixa, enquanto se preparam para usar seu caixa para investimentos que serão necessários na telefonia móvel. Neste ano, é esperado o leilão das frequências de 5G, o que deve demandar muitos investimentos, além de vir acompanhado de uma série de condições para implantação da tecnologia no país, que por sua vez vai requerer mais investimentos por parte das companhias.

(com Estadão Conteúdo)

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