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SÃO PAULO – O início da temporada de resultados nos Estados Unidos, além de ajudar a mostrar o tamanho da crise pela qual o mundo está passando, pode também trazer indicativos para o que podemos ver nos números dos bancos brasileiros no início do ano.
Segundo a equipe do Bradesco BBI, tomando por base os balanços divulgados por JPMorgan e Wells Fargo, a mensagem que fica é que “a recessão será bem ruim”.
Os dois bancos fizeram provisões adicionais bilionárias para se preparar para o esperado grande aumento da inadimplência por conta da crise. E isso derrubou o lucro das instituições. Apenas o JPMorgan elevou sua reserva para US$ 8,29 bilhões, mais do que foi provisionado desde 2010, e mesmo assim a instituição disse que este valor pode não ser suficiente para cobrir o nível de inadimplência.
O Bank of America também seguiu os passos dos rivais: o lucro do banco encolheu 45% no primeiro trimestre de 2020 na base de comparação anual com provisões de US$ 4,76 bilhões para perdas com empréstimos, também o maior valor desde 2010.
Já o Morgan Stanley reportou uma baixa de 32% no lucro trimestral nesta quinta-feira, com seus negócios de assessoria e gestão de patrimônio atingidos pelas consequências econômicas da pandemia. O banco disse que o lucro atribuível aos acionistas ordinários caiu para US$ 1,59 bilhão no primeiro trimestre encerrado ante US$ 2,34 bilhões um ano atrás.
Segundo os analistas da Levante, “olhando-se apenas os números da última linha do balanço, os três primeiros meses do ano foram tenebrosos”. Apesar disso, eles afirmam que “um olhar mais atento aos números indica que essa queda dos resultados foi devido ao conservadorismo das instituições financeiras, e não à deterioração de seus negócios”.
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Eles apontam que, apesar das quedas acentuadas dos lucros, a receita operacional desses bancos foi boa e que os números mais fracos na última linha se deram exatamente por conta das grande provisões feitas no primeiro trimestre.
“Conservadores, os bancos consideraram arriscados muitos dos empréstimos que têm a receber”, explica a Levante destacando que só o Bank of America elevou suas provisões em 370%.
E estes números impactantes também devem aparecer para os bancos brasileiros. Para quem esperava que os reflexos da crise deviam começar a ganhar força no segundo trimestre, os analistas do Bradesco BBI apontam que isso já deve aparecer no primeiro trimestre, independentemente da “abordagem de provisionamento adotada (incorrida versus perda esperada)”.
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“Estamos trabalhando para refinar as estimativas para este e para os próximos anos. Mas, por enquanto, está claro para nós que as estimativas de mercado ainda não estão refletindo as consequências do surto de coronavírus nos resultados dos bancos”, dizem os analistas.
Por outro lado, a equipe de análise lembra que os bancos são bem líquidos e bastante capitalizados, estando preparados para aguentar antecipadamente as maiores despesas com provisões, para no futuro registrar queda nestes provisionamentos.
Em relatório comparando o cenário atual com o da última recessão no Brasil, entre os anos de 2015 e 2016, o Morgan Stanley aponta que desta vez deve haver uma “deterioração mais suave da qualidade dos ativos devido ao menor risco de crédito corporativo, menor exposição a pequenas e médias empresas e redução do risco da carteira de clientes”.
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Os analistas apontam que o custo do risco da maioria dos bancos deve aumentar entre 40 e 50 pontos-base este ano, valor bem menor que os 140 pontos base da última recessão.
Eles destacam que da última vez houve um grande aumento do custo de risco por conta da maior inadimplência corporativa, puxada, por sua vez, pelos casos relacionados à Operação Lava Jato. Desta vez, diz o Morgan, a exposição às empresas é muito menor (15% a 39% do total de empréstimos, contra 26% a 49% antes) e as grandes empresas estão em melhor forma para enfrentar uma recessão.
Sobre os números, os analistas do Bradesco BBI esperam que a desaceleração do crédito e a deterioração dos indicadores de qualidade de ativos devem ser vistas apenas no quarto trimestre deste ano e no primeiro trimestre de 2021.
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Do lado positivo, os analistas esperam que nos próximos meses ocorra uma alta na margem financeira líquida. “Naturalmente, isso não deve ser suficiente para compensar as provisões crescentes”, ponderam.
Como conclusão, o Bradesco BBI diz que, apesar da impressão de que os investidores estão esperando para resultados começando a se normalizar em 2021, a “realidade pode ser mais dura que isso”, com os balanços sólidos como os de 2019 só retornando em 2022.
Já o Morgan ressalta que a maioria dos bancos tem uma retorno sobre os ativos (ROA) antes de provisões e impostos tão alto quanto era em 2014, entre 3% e 4%, o que dá espaço para as instituições lidarem com o aumento da inadimplência.
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Os analistas esperam ainda um impacto menor no lucro líquido nesta recessão. Para o Itaú Unibanco, o Morgan espera uma leve queda de 1% em 2020, enquanto o Bradesco deve ver o lucro aumentar 3%. Já Banco do Brasil e Santander devem registrar recuo no lucro de 13% e 4%, respectivamente.
Já as estimativas de Taxa de Crescimento Anual Composta (CAGR) no lucro líquido de dois anos, apontam para ganhos de 7% para o Itaú (ITUB4), 8% para o Bradesco (BBDC3;BBDC4), 4% para o Santander (SANB11), enquanto o Banco do Brasil (BBAS3) deve ficar no zero.
Por fim, a projeção para o Retorno sobre o Patrimônio (ROE) mostra um cenário mais sólido, mantendo os níveis do ano passado: 20% para o Itaú (contra 21% em 2019), 17% para o Bradesco (ante 18%), 18% para o Santander Brasil (contra 20%) e 13% no Banco do Brasil (ante 16%).
A Levante se mostra otimista com o cenário apresentado por estes primeiros balanços, apontando que eles mostram “não apenas que o impacto do coronavírus sobre os resultados foi menos terrível do que se esperava, mas permite prever uma retomada mais rápida da economia assim que a pandemia for controlada”.
Os resultados dos próximos bancos estrangeiros serão importantes para balizar o que devemos ver para as instituições brasileiras. Em geral, analistas acreditam que o mercado ainda não precificou quão ruim serão os números. Mesmo assim, hoje os bancos se mostram mais bem preparados do que na última recessão e a situação deve ser melhor, ou menos pior, na visão dos analistas.
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