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SÃO PAULO – Mais um trágico episódio envolvendo o Carrefour Brasil (CRFB3) ganhou destaque nesta sexta-feira (20). João Alberto Silveira Freitas, um homem negro de 40 anos, foi morto ao ser espancado por seguranças de uma loja da rede de supermercados em Porto Alegre na noite da noite da última quinta-feira (19).
Enquanto o Ibovespa caiu 0,59% hoje, as ações do Carrefour fecharam em alta de 0,49%, levando a questionamentos sobre se os investidores estão realmente preocupados com a maneira como as empresas agem, ou se apenas os resultados importam.
“ESG, no Brasil? Conta outra”, afirmou Fábio Alperowitch, fundador da gestora Fama Investimentos, em sua conta no Twitter. Recentemente, houve um aumento de interesse por investimentos que seguem os critérios ESG (ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês).
“ESG está presente nos materiais de apresentação e para por aí”, completou o gestor (leia o artigo publicado hoje).
De acordo com uma analista ouvida pelo InfoMoney, analistas e investidores vão monitorar a maneira como o Carrefour atuará a partir de agora e como conduzirá o caso – e também a reação da sociedade.
“Se houver uma reação mais organizada da sociedade, levando a um boicote da marca, o efeito nas operações e, consequentemente, nas ações, deve ser maior”, avalia.
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Nesta sexta-feira, a empresa informou o fechamento temporário da unidade e o cancelamento do contrato com a Vector Segurança – os funcionários que assassinaram João Alberto eram da empresa terceirizada.
A companhia afirmou em nota que “se sensibiliza com os familiares da vítima e não tolera nenhum tipo de violência” e “iniciou os procedimentos para apuração interna”.
Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos e também responsável pela carteira ESG da corretora, destacou para a Bloomberg que os investidores esperam que o Carrefour faça de tudo não só para explicar, mas também para coibir esse tipo de acontecimento.
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Em nota, a Oxfam Brasil, organização da sociedade civil, destacou, por sua vez, que a resposta da empresa indicando que vai demitir funcionários e suspender contratos “não é uma resposta que busca uma transformação antirracista da instituição Carrefour. O racismo é estrutural e sistêmico, não se trata do comportamento moralmente condenável de um indivíduo ou outro. Se as instituições não se transformarem, os casos continuarão ocorrendo.”
Não é a primeira vez que o Carrefour se envolve em episódios trágicos. Em agosto deste ano, um homem morreu enquanto trabalhava em uma loja do mercado em Recife (PE), tendo o seu corpo escondido por guarda-sóis para que o Carrefour não fechasse.
Depois do ocorrido, em nota, a rede de supermercados se desculpou e afirmou ter “mudado as orientações aos colaboradores para situações raras como essa — incluindo a obrigatoriedade do fechamento da loja”.
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Em 2018, um cachorro foi morto por um segurança da empresa de uma unidade de Osasco, no interior de São Paulo. Em março de 2019, a rede de supermercados teve que pagar R$ 1 milhão como indenização pelo caso, conforme estabelecido pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP).
Leia a nota do Carrefour sobre o episódio na íntegra:
“O Carrefour informa que adotará as medidas cabíveis para responsabilizar os envolvidos neste ato criminoso. Também romperá o contrato com a empresa que responde pelos seguranças que cometeram a agressão. O funcionário que estava no comando da loja no momento do incidente será desligado. Em respeito à vítima, a loja será fechada. Entraremos em contato com a família do senhor João Alberto para dar o suporte necessário.
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O Carrefour lamenta profundamente o caso. Ao tomar conhecimento deste inexplicável episódio, iniciamos uma rigorosa apuração interna e, imediatamente, tomamos as providências cabíveis para que os responsáveis sejam punidos legalmente.
Para nós, nenhum tipo de violência e intolerância é admissível, e não aceitamos que situações como estas aconteçam. Estamos profundamente consternados com tudo que aconteceu e acompanharemos os desdobramentos do caso, oferecendo todo suporte para as autoridades locais”.