O que explica a queda de 7,6% do Ibovespa no primeiro semestre?

Juros nos EUA explicam boa parte da queda da Bolsa, mas questões internas, como revisão de meta de superávit e mudança na Petrobras, também pesaram

Vitor Azevedo

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O Ibovespa fechou o primeiro semestre de 2024 com uma queda de 7,66%, o pior resultado para um intervalo desde o primeiro semestre de 2020 e o quarto pior desde 2011. Já em junho, o principal índice teve uma alta de 1,48%

Os seis primeiros do ano foram marcados por várias questões. Mais para o começo de 2024, o principal fator que empurrava a Bolsa brasileira para baixo era o que acontecia nos Estados Unidos. Já nos últimos dois meses, porém, a ajuda veio mais do noticiário interno. 

Se no final de 2023 houve um rali motivado pela visão de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) cortaria os juros nos Estados Unidos de forma mais acelerada, com as projeções chegando a até sete cortes neste ano, janeiro e fevereiro trataram de acabar com essa crença. 

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Estados Unidos

Em janeiro, por exemplo, o dado de inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos Estados Unidos veio acima do esperado. A mesma coisa aconteceu também em fevereiro e em março, com a variação dos preços chegando a acelerar. Tudo isso — e também dados do mercado de trabalho — passou a alimentar a visão de que, com a economia mais aquecida, o Federal Reserve demoraria mais para cortar juros

“A gente vinha no início do ano com a expectativa de corte de juros ainda em março, nos Estados Unidos. Isso foi frustrado e foi sendo postergado e chegamos em um momento que alguns membros do Fed passaram a considerar nenhum corte ou ainda uma alta”, diz Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

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Juros mais altos nos Estados Unidos diminuem o fluxo de investimentos para todo o mundo, principalmente para países emergentes como o Brasil. Investidores, nesse cenário, passam a optar por deixar o dinheiro nos títulos do tesouro norte-americano, que pagam mais e que são considerados papéis “livre de risco”. 

Em parte, isso explica o fato de mais de R$ 40 bilhões de recursos de estrangeiros terem saído da B3 nos seis primeiros meses de 2024. Mas vale mencionar também que os ânimos de investidores com empresas ligadas à inteligência artificial também “roubaram fluxo” (e explicam majoritariamente o fato de o S&P 500 ter subido 14,4% no acumulado do ano até então).

Cenário externo

Mais para o final do primeiro semestre, porém, alguns dados passaram a aliviar a visão de juros mais altos por mais tempo nos EUA. Os treasuries yields para dez anos, para ilustrar, saíram de 3,86% do começo do ano, tocou um pico de 4,70%, em abril, e agora fecham o semestre em 4,382%.

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Desde maio, alguns números vêm vindo mais fracos, como o CPI e o Payroll de maio, o que criou a visão de que a economia norte-americana está desaquecendo. Junho acaba com a maioria dos investidores enxergando três cortes da fed funds no ano.

“Os dados demoraram para começar a demonstrar algum nível de fraqueza, mas passaram a trazer algo a partir de maio. Agora parece que os economistas e o mercado começam a se enxergar que a economia americana tende a ficar um pouco mais fragilizada daqui em diante”, pontua Lourenço. 

Problemas brasileiros pesam em Ibovespa

No entanto, a melhora no cenário americano não foi vista no Ibovespa e no Brasil. Quando os juros caem nos EUA, não raro os brasileiros acompanham, mas isso não aconteceu. Apesar de a curva de juros, por lá, ter recuado após o pico, a brasileira continuou avançando com investidores de olho nas questões políticas e fiscais. E ai entram os problemas locais. 

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“Tivemos o cenário local impactando muito”, fala Enrico Cozzolino, head de análise da Levante. “No fim do semestre até teve um arrefecimento, com a manutenção da meta de inflação e um discurso mais amistoso do presidente Lula, mas continua sendo algo monitorado de perto”.

Os seis primeiros meses do ano foram marcados, por exemplo, pela revisão das metas de superávit para os próximos anos, o que colocou em xeque o compromisso do executivo com o arcabouço fiscal (estipulado há menos de um ano) e com as contas públicas. 

Fora isso, ao mesmo tempo em que tenta compor suas receitas, o governo mudou a presidência da Petrobras (PETR4), prometendo mais investimentos e ameaçando os dividendos. Além disso, o governo vem enfrentando dificuldades em aprovar medidas para aumentar suas receitas, caso da MP das compensações. 

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Enquanto isso, algumas falas de Lula, atacando o mercado financeiro e sinalizando que pode colocar um presidente menos heterodoxo à frente do Banco Central, com o mandato do Roberto Campos Neto previsto para acabar no final do ano, também prejudicaram o Ibovespa.

O combo entre os juros nos EUA ainda altos e o risco fiscal local, portanto, explica o fato de os juros brasileiros terem subido muito no primeiro semestre. Os DIs para 2026 ganham 11,5% no ano, a 11,57%, os para 2029, 15,13%, a 12,33%, e os para 2031, 14,34, a 12,44%.

Por fim, a renda fixa brasileira pagando mais, com a Selic elevada, acaba também diminuindo a atratividade do Ibovespa.