O que esperar para o Natal das empresas de varejo e consumo da Bolsa?

Ações das companhias do segmento têm enfrentado uma verdadeira montanha-russa nos últimos pregões e analistas destacam preferências

Lara Rizério

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As ações das empresas de varejo e consumo têm enfrentado uma montanha-russa neste final de ano na B3, mais até do que um rali de Natal, com a volatilidade em linha com o ocorrido em boa parte de 2022.

Após quedas na semana passada com preocupações sobre o fiscal, o alívio com a PEC da Transição desidratada animou os papéis do setor entre segunda e terça, mas as companhias (especialmente as de e-commerce) tiveram forte queda na véspera, com investidores embolsando os lucros.

Apesar da alta no início da semana, a visão dos analistas é conservadora para ativos como Magazine Luiza (MGLU3), Americanas (AMER3) e Via (VIIA3), com a visão de que os juros vão demorar mais para cair e ficarão em alta por um tempo maior do que tinha sido precificado antes das eleições.  Nas últimas semanas, Goldman SachsMorgan StanleyBB Investimentos e Itaú BBA têm revisado para baixo as estimativas para uma ou mais empresas do setor.

Enquanto o cenário desafiador está no radar para 2023, analistas observam qual será o efeito das festas de fim de ano para as varejistas e empresas de consumo. Especificamente sobre o Natal, as notícias não são positivas para as companhias que vendem eletrodomésticos e eletroeletrônicos, uma vez que o elevado comprometimento da renda com dívidas e os altos juros dos financiamentos devem frear o consumo desses itens de maior valor, normalmente comprados a prazo. Por outro lado, a Copa do Mundo fora de época pode ter dado um impulso para o fim de ano das companhias.

Apesar da alta de preços dos alimentos, a expectativa é este seja o Natal da comida, da bebida e das roupas, itens de menor valor e normalmente pagos à vista ou, no máximo, parcelado no cartão. A volta das confraternizações em família deve dar um impulso extra às vendas dos básicos.

Os analistas da XP fizeram um mapeamento das nossas expectativas para as vendas de Natal e de final de ano, trazendo pesquisas com consumidores e notando um cenário de incerteza à frente, com uma temporada de compras como nenhuma outra, dada a citada sobreposição de eventos importantes (Black Friday, Copa do Mundo e Natal) combinada com um cenário macro desafiador.

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Os analistas apontaram que, apesar da intenção de compra dos consumidores ter caído de forma generalizada versus 2021, o menor volume de vendas pode ser parcialmente compensado por maiores tíquetes médios. Eles esperam que os varejistas de alta renda e alimentares se destaquem, enquanto as plataformas de e-commerce/bens duráveis devem se beneficiar por conta do evento anterior, a Copa do Mundo, e potencialmente também suportadas por suas estratégias de crédito aos consumidores.

De acordo com a Confederação Nacional do Comércio (CNC), as vendas do Natal em 2022 devem totalizar R$ 65 bilhões (estáveis na base anual), apresentando o primeiro crescimento real em dois anos mas ainda abaixo dos níveis de 2019, enquanto a Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Est de São Paulo (FCDLESP) estima uma queda de 5%.

Com a inflação e taxas de juros permanecendo em níveis recordes, uma pesquisa da Confederação Nacional dos Lojistas (CNDL) indica que a intenção de compra dos consumidores está menor este ano (queda de 4 pontos percentuais na base anual), com 73% dos respondentes dizendo que pretendem presentear alguém neste Natal.

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“Destacamos que essa tendência é vista até entre a classe de alta renda, com a intenção de compra entre as classes A e B caindo para 86% (versus 93% em 2021)”, avalia a XP. Neste sentido, a falta de renda disponível, desemprego e maior endividamento foram mencionados como as principais motivações para esta queda. Entretanto, o tom negativo pode ser parcialmente compensado pelo aumento do tíquete médio de R$ 133 por pedido, crescimento de 2% no ano em termos reais.

Moda, perfumes e cosméticos historicamente se destacam como as principais categorias procuradas para o Natal, e os analistas esperam que continuem sendo. Eles citam dados da CNC de que vendas de vestuário e acessórios devem totalizar R$ 22 bilhões, um aumento de 9% na base anual e 34% do total de vendas esperado, enquanto as vendas de eletrônicos e bens duráveis devem crescer 8%.

Além disso, esperam que as reuniões familiares e celebrações de ano novo retornem aos níveis de 2019, o que deve contribuir para as vendas das varejistas alimentares. Neste sentido, de acordo com uma pesquisa da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), 66% dos varejistas alimentares esperam que as vendas de Natal cresçam na comparação anual, suportadas pela restituição do imposto de renda e pagamentos do 13º salário.

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As varejistas de calçados e vestuário se mostraram as mais otimistas, segundo pesquisa do Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV), esperando que as vendas de dezembro cresçam 19% ano a ano. Assim, a XP destaca estar mais otimista com os resultados do quarto trimestre de 2022 das (i) varejistas de alta renda, por conta de suas marcas fortes, posicionamento de presentes e público-alvo mais resiliente; e (ii) varejistas alimentares, especialmente o atacarejo, por conta de seu posicionamento de custo/benefício melhor; enquanto (iii) as vendas das plataformas de e-commerce e de bens duráveis devem ser beneficiadas pela Copa do Mundo, potencialmente suportadas pelas suas estratégias de concessão de crédito.

A XP aponta preferir exposição a ações de empresas com forte posicionamento, sólido histórico de execução e com fundamentos específicos bem estruturados.

Em sua última atualização, a equipe de análise apontou que, nesse sentido, dentro do segmento de varejo alimentar, enxerga o atacarejo como uma combinação de uma proteção contra a inflação, resiliência e crescimento, sendo Assaí (ASAI3) e Grupo Mateus (GMAT3) as suas preferências.

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Do lado discricionário, apesar de ser um segmento mais exposto à deterioração macro, gosta de empresas focadas na alta renda, como o Grupo Soma (SOMA3) e Arezzo (ARZZ3), que oferecem uma maior resiliência e contam com um crescimento orgânico sólido. “Vemos farmácias como um setor resiliente para se ter e com alavancas positivas para frente, enquanto o e-commerce deve continuar a enfrentar maior volatilidade, especialmente frente ao aumento da competição e deterioração macroeconômica”, aponta.

Com abrangência para mais empresas de consumo, o JPMorgan, por sua vez, destacou suas perspectivas para a Ambev (ABEV3) no fim do ano, analisando dados e coletando feedback do setor sobre os efeitos da Copa do Mundo e das comemorações de fim de ano na indústria cervejeira do Brasil.

“Temos visto investidores cada vez mais pessimistas (considerando as expectativas muito altas em relação ao desempenho do quarto trimestre), com os dados fracos de produção alcoólica, o tempo chuvoso e a eliminação do Brasil da Copa do Mundo nas quartas de final como surpresas negativas neste mês. No entanto, o feedback da indústria aponta fortes
vendas”, ressalta o banco, avaliando que preços e dados de uso do Zé Delivery (empresa da Ambev que disponibiliza um aplicativo voltado para entrega de bebidas) não corroboram totalmente os sinais fracos de dezembro.

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“Dito isso, pode haver algum risco negativo para a nossa projeção de alta de 16% nas vendas de cerveja no Brasil pela Ambev no 4T22, mas ainda acreditamos que é provável um forte crescimento de dois dígitos, dada a fraca base de comparação”, avalia o JP, que tem recomendação overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) para a ação da fabricante de bebidas.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.