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As chamadas utilities, empresas de energia e saneamento conhecidas por serem boas pagadoras de dividendos e terem previsibilidade de geração de caixa, registram um momento de volatilidade de suas ações na Bolsa. A crise de algumas distribuidoras – notoriamente a Light (LIGT3) – e os rumores sobre mudança no modelo de concessão, além dos ataques do governo à privatização da Eletrobras (ELET3;ELET6), têm levado mais holofotes para o setor.
Neste cenário, tem início a temporada de resultados do quarto trimestre das companhias elétricas, com os investidores atentos também ao que será falado nas teleconferências das companhias e as expectativas nesse início de governo.
Olhando para os resultados, a Genial apontou ter uma expectativa neutra, com os principais pontos a serem observados dizendo respeito às estratégias na gestão dos seus portfólios das geradoras em meio a um cenário de sobre-oferta e preços baixos.
“No curto prazo, achamos que os resultados das mesmas não devem ser afetados à medida que praticamente todas seguem com alto grau de contratação ao longo de 2023. Em relação às transmissoras, temos a expectativa do anúncio de dividendos à medida que praticamente todas elas já atravessaram a fase mais aguda de investimentos e desenvolvimento dos seus projetos”, avaliam.
O Credit Suisse espera números neutros a positivos para a maioria das empresas como resultado do repasse da inflação, volumes moderados, novos ativos em operação e baixa base de comparação, com muitas empresas apresentando dividend yield (dividendo em relação ao preço da ação) atraente.
As distribuidoras devem ter um desempenho pouco animador, embora ajudadas por ajustes tarifários e controle de custos. Para geradoras, esperam um crescimento decente em uma base anual devido a menores custos de compra de energia e menor déficit hídrico, enquanto os portfolios eólicos devem se beneficiar de novos ativos (apesar da produção eólica moderada).
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No caso das transmissoras, esperam que os resultados IFRS (normas de contabilidade internacional) sejam moderados com IGP-M mais baixo e IPCA tímido acumulado no quarto trimestre de 2022 (4T22), enquanto o BRGAAP (normas nacionais) deve ser ajudado pelo ultimo reajuste da Receita Anual Permitida (RAP) definido em junho de 2022.
Neste contexto, os destaques positivos devem incluir geradoras, como a Engie (EGIE3), já que os custos de compra de energia devem ser menores neste trimestre e a Auren (AURE3), que pode surpreender caso reconheça os ganhos relativos ao valor final do ressarcimento da usina Três Irmãos.
Os resultados das empresas de saneamento também devem ser positivos devido a expectativa de melhor inadimplência e reajustes tarifários, apesar de custos operacionais pressionados.
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Do lado negativo, esperam que a Eletrobras seja impactada por provisões, os primeiros efeitos do aporte aos fundos setoriais, bem como preços à vista (spot) mais baixos.
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Com relação aos dividendos, os analistas do Credit acreditam que a CPFL (CPFE3) será o destaque positivo; assumindo um dividend payout (em relação ao lucro líquido) de 70% dos ganhos regulatórios, a equipe chegou a yield de 10,1%; mesmo usando 50% do IFRS reportado, ainda obtiveram um yield de 8%, portanto ainda muito atraente.
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Uma segunda opção que poderia surpreender positivamente seria a EGIE3, com potencial de yield adicional de 3,7% (total de 8% no ano). Caso a Auren reserve os ganhos da Três Irmãos, estimam que ela pode gerar um yield adicional de 6%.
Por fim, a equipe comentou ainda sobre os dados de consumo e volumes do trimestre.
O consumo de outubro, novembro e dezembro cresceu 0,9% na base anual em 2022. Já os volumes, no geral, foram fortes nas regiões Norte e Nordeste, crescendo 5,5% e 1,8% na base anual (melhor atividade econômica), respectivamente, enquanto Centro-Oeste, Sul e as regiões Sudeste apresentaram crescimento mais tímido (0,7%, 0,3% e 0,2%, respectivamente).
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O preço médio spot foi de R$ 56,52 megawatt/hora (MWh), inferior aos R$ 130,74 do 4T21. O déficit hídrico atingiu 22,4% no 4T22 no Brasil (versus 32,3% visto no 4T21).
Os analistas acreditam que a hidrologia pode ajudar as margens quando comparadas ao quarto trimestre de 2021 devido a preços spot muito mais baixos e déficit hídrico.
Engie e Energias do Brasil como destaques do início de temporada
Entre as empresas que inauguram a temporada de resultados para o setor, o Itaú BBA destaca que Engie e Energias do Brasil (ENBR3) devem se destacar positivamente, enquanto os resultados mais fracos devem vir da Omega (MEGA3).
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Sobre Energias do Brasil, os analistas estimam um enorme crescimento no lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) projetado de 40% em um ano, uma vez que os dados operacionais da empresa mostraram aumento de 1,5% no volume total de energia, liderado pela EDP concessão de SP, o que é positivo em comparação com a demanda geral de outras concessões.
“Além disso, esperamos ver perdas controladas de energia e o impacto ainda positivo do descasamento da inflação em uma base anual. Também prevemos melhores margens hidrelétricas em base anual diante de menores custos de compra de energia, enquanto o segmento de transmissão deve ser positivamente afetado pela entrada em operação de alguns ativos”, avalia. Os analistas ainda esperam que a EDP reconheça dois importantes efeitos não recorrentes neste trimestre: perda de R$ 1,2 bilhão referente ao impairment (reavaliação no valor de um ativo) de Pecém e ganho de R$ 708 milhões na venda da UHE Mascarenhas.
No caso da Engie, estima crescimento significativo de Ebitda de 34% em base anual. “Esperamos que o segmento hidrelétrico apresente custos de GSF (medida de risco hidrológico) bem menores, ajudando os resultados”, aponta.
Já na frente das renováveis, a empresa registou um aumento de 14% em relação ao ano anterior em geração efetiva,
favorecida também pela incorporação de Paracatu e Floresta, enquanto o Ebitda da transmissão deve ser impulsionado pela entrada em operação parcial da Gralha Azul e Novo Estado.
“Vemos espaço suficiente para a empresa anunciar sólidos dividendos neste trimestre, que, somado ao valor anteriormente anunciado, implicaria em um dividend yield de 8% referente aos resultados de 2022, assumindo 100% de payout (pagamento em relação ao lucro líquido”, aponta o BBA.
Por fim, para a Omega, estima resultados mais fracos na base anual, com queda de 13% no Ebitda. A empresa já divulgou seus números operacionais, que apontam um trimestre fraco em energia eólica, principalmente para os complexos Delta
e Bahia, avalia.