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Especialistas ouvidos pelo InfoMoney avaliam que o resultado da eleição presidencial aumenta a percepção de risco para parte dos investidores. O sentimento é estimulado, entre outros fatores, pela falta de sinalização de quem será o ministro da Fazenda do novo governo.
“Precisaríamos ter algo mais concreto do que vai ser feito [em relação ao ministro da Fazenda]”, pontua Felipe Simões, economista e diretor da WIT Asset. “Temos de esperar quem vai ser o ministro da Fazenda de um eventual governo Luiz Inácio Lula da Silva e isso vai ser bastante importante”, afirma.
Além disso, há um temor, ainda que tenha diminuído temporariamente, de contestação das urnas em meio a um resultado tão apertado: com 99,99% das urnas apuradas, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tinha 50,9% dos votos, ante 49,1% de Jair Bolsonaro (PL).
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A equipe do JPMorgan, liderada por Cassiana Fernandez, destacou em relatório preocupações com a tensão política. “Com um resultado tão apertado, reconhecemos que a tensão política pode aumentar no curto prazo, e estaremos monitorando de perto este risco nos dias à frente. Ainda assim, como sinalizamos há algum tempo, não vemos razão para acreditar Lula não tomará posse em janeiro de 2023.”
Pensando já na abertura dos mercados nesta segunda-feira (31), a expectativa é de uma reação negativa dos investidores.
Para Flávio Conde, analista de ações da Levante Ideias de Investimentos, os mercados devem abrir nesta segunda-feira (31) na defensiva, ou seja, dólar subindo de R$ 5,30 para R$ 5,45 a R$ 5,50, juros futuros (DI Futuro) aumentando em torno de 0,50% a 1,00% ao ano na maioria dos vencimentos.
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Em relação às estatais, Conde projeta que Petrobras (PETR4) e Banco do Brasil (BBAS3) sofram forte queda na retomada das negociações.
“[A projeção é de] quedas de 10% porque Lula falou na campanha que iria “abrasileirar” os preços dos combustíveis e o Banco do Brasil deixaria de atuar como um banco privado, mas sim mais social cobrando taxas de juros abaixo dos bancos privados”, projeta.
Ele pondera que, caso Lula anuncie o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles como ministro da Fazenda, as quedas podem ser amenizadas, já que há uma leitura positiva do mercado sobre o novo eleito.
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Na mesma linha, Fernando Siqueira, head de Research da Guide Investimentos lembra que a questão do teto de gastos do governo Lula também embute uma preocupação a mais no mercado, mas também pode ser reduzida em caso de indicação de um nome como Meirelles para o cargo de ministro.
“A nomeação de Meirelles seria bem-vinda porque ele criou o teto de gastos e seria um bom nome para realizar mudanças no limite de gastos do governo”, avalia.
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, vai na mesma linha dos demais especialistas e prevê que a volatilidade do mercado se estenda nas próximas semanas com o final da disputa eleitoral.
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Na medida em que os planos do novo governo comecem a ser divulgados, ele espera que o sentimento dê lugar a um ambiente menos tenso, abrindo inclusive oportunidades de bons negócios.
“As ações das estatais devem continuar voláteis, dada a persistente incerteza em relação às suas políticas futuras. No caso do Banco do Brasil, essas questões giram em torno das linhas de concessão de crédito subsidiadas. Para a Petrobras as principais questões são em relação à futura política de precificação de combustíveis, bem como seus programas de investimentos futuros”, afirma a equipe de análise da XP.
Para o Bradesco BBI, dentro do setor de petróleo e gás, que esteve em foco nessas eleições, as ações de maior risco e volatilidade, além de Petrobras, serão Braskem (BRKM5) e, em seguida, Raízen (RAIZ4).
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Os analistas do BBI lembram uma pesquisa recente com entes do mercado, que apontam uma alta probabilidade de que haja uma alteração de sua política de preços, aumento dos investimentos em capital e diminuição do pagamento ao longo dos anos.
Para Braskem, as chances de mercado atribuídas para que a empresa seja vendida devam ser reduzidas drasticamente. Já para os nomes de açúcar e etanol, o setor corre o risco de que as mudanças na política de preços afete o setor negativamente.
Setores beneficiados
Enquanto há apreensão com relação a estatais, outros setores podem se beneficiar com a vitória de Lula neste domingo, especialmente diante do que o político já mostrou no passado e durante a campanha eleitoral.
Considerando as gestões anteriores do agora presidente eleito, Idean Alves, sócio e head da mesa de operações da AçãoBrasil Investimentos, afirma que a expectativa é de uma política econômica que estimule a expansão do crédito e do consumo.
“O que beneficiaria o setor educacional, com destaque para Yduqs (YDUQ3) e Ânima (ANIM3)”, exemplifica. “[Se adotada a postura dos primeiros mandados] seria positivo para o varejo de bens duráveis, bem como de roupas e calçados”, pontua.
Neste sentido, Alves projeta um cenário positivo para empresas como Magazine Luiza (MGLU3, Via (VIIA3), Americanas (AMER3) e Multilaser (MLAs3).
Ele também destaca que as ações de companhias educacionais como Yduqs e Cogna (COGN3) também devem subir bem diante da promessa de Lula de que, em seu governo, voltaria forte com os programas FIES e PROUNI.
Construtoras focadas na baixa renda, como MRV (MRVE3), Direcional (DIRR3) e Tenda (TEND3) também têm perspectiva positiva por causa da afirmação recente de Lula de que turbinará o programa habitacional do governo, que voltaria a se chamar Minha Casa Minha Vida e não mais Casa Verde Amarela.
Volatilidade inicial, mas sem caos
Apesar da volatilidade inicial prevista, Andre Luzbel, head de renda variável da SVN Investimentos, sugere ao investidor manter a calma e não esquecer que foi uma eleição muito polarizada, disputa acirrada que estimula a percepção de que o Brasil acordará um caos. E não será bem assim, pondera.
Segundo ele, a política econômica no âmbito federal pode mudar, mas em relação aos Estados o padrão pró-mercado deve continuar diante da característica da maior parte dos governadores eleitos.
“Houve governadores eleitos que sinalizam a aceleração da privatização de estatais”, diz. Ele dá o exemplo principalmente de Tarcísio de Freitas, que venceu em São Paulo, e prometeu privatizar a Sabesp (SBSP3), empresa de saneamento básico do Estado.
Na renda fixa, títulos pós-fixados devem se beneficiar
A possibilidade de medidas fiscais expansionistas e a flexibilização – ou até a extinção – do teto de gastos podem gerar aumento nos spreads dos títulos de renda fixa prefixados e atrelados à inflação, prevê relatório da Toro Investimentos, assinado por Lucas Carvalho, Paloma Brum e Lucas Serra.
Com o impacto dessas possíveis medidas sobre a inflação, pode ser necessário manter a taxa de juros em patamares mais elevados por aqui, diz o estudo.
“Por isso, acreditamos que, neste primeiro momento, os títulos com prazo entre 1 e 3 anos pós-fixados, que devem se beneficiar de um patamar mais elevado de CDI (certificado de depósito interbancário), saem com vantagem em relação aos prefixados e atrelados à inflação, que podem passar por um aumento nos spreads ao longo dos próximos meses”, projetam os analistas da Toro.
Segundo eles, garantir um retorno real atrativo para prazos entre 2 e 5 anos pode se mostrar interessante, considera o relatório. “Pois assegura uma proteção contra uma possível alta da inflação”.
“Para alguns títulos atrelados ao IPCA mais longos, apesar dos prêmios atuais não serem desprezíveis, acreditamos que, dado o maior duration, o aumento nos prêmios (na parte prefixada) desses papéis traria um impacto negativo superior ao ganho que um IPCA mais alto traria”, complementa o texto.