O que esperar do Euro para agosto?

Corte de juros pelo BCE, economia mais fraca do Velho Continente e taxas inalteradas no Brasil influenciam taxa de câmbio

Vitor Azevedo

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O Euro se valorizou frente ao real em julho, acumulando, até o final da tarde desta terça-feira (30), uma alta de cerca de 1,5%, a R$ 6,08. Com isso, a moeda da União Europeia ganhou, no mês, mais força do que o dólar, que subiu cerca de 0,8%. Para agosto, porém, a visão de especialistas é de que a divisa europeia, assim como a americana, possa enfraquecer frente ao real. 

O que embasa essas visões de especialistas são principalmente as perspectivas de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) e o Banco Central Europeu (BCE) passarão mensagens mais brandas em suas políticas monetárias — com o primeiro sinalizando um primeiro corte em setembro e o segundo dando continuidade no seu ciclo de baixa (apesar de ter, na última, mantido os juros inalterados). 

“A gente já vem vendo, no Euro, uma antecipação desses cortes da taxa de juros na União Europeia. Eles estão, diferentemente dos Estados Unidos, com uma economia mais fragilizada, não tão resiliente”, diz Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.

Euro em agosto

Quando os juros em países como os Estados Unidos ou os da União Europeia estão mais altos, investidores usualmente buscam os títulos dos tesouros dessas nações para investir, já que, por serem economias mais consolidadas, oferecem mais segurança. Quando há quedas das taxas, buscando incentivar a economia, no entanto, é normal haver fluxo de saída de capital, gerando maior apetite a risco.

Enquanto isso, a visão é de que as taxas no Brasil continuarão inalteradas nas próximas reuniões, aumentando o diferencial dos juros.

Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo Corretora, expõe que a divisa da Europa deve sofrer ainda mais do que o dólar com os cortes de juros, já que as economias da maior parte dos países do Velho Continente estão mais fracas do que a norte-americana. O produto interno bruto (PIB) da Zona do Euro, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), por exemplo, deve crescer 0,9% neste ano, contra 2,5% dos EUA.

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Quando um país exibe um PIB mais fraco indica que sua economia está crescendo lentamente ou encolhendo, o que pode diminuir a confiança dos investidores na estabilidade econômica e nas perspectivas de investimentos. Além disso, um PIB fraco pode levar, como já mencionado, a políticas monetárias mais frouxas, como a redução das taxas de juros pelo banco central, o que torna a moeda menos atrativa para os investidores.

Por fim, especialistas também destacam que as Olímpiadas ajudaram a impulsionar o Euro em julho. Turistas com destino a Paris compraram mais a moeda, o que aumenta a demanda e fortalece a divisa. “O fim das Olímpiadas pode ajudar a despressurizar o valor da moeda”, diz Avallone. 

Moeda europeia

A moeda brasileira, assim como as demais de países emergentes, se enfraqueceu mundialmente principalmente por conta de dois fatores: a desvalorização das commodities e o desmonte de posições do chamado carry trade.   

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No primeiro ponto, das commodities, o real vem sofrendo pela perspectiva de desaceleração econômica das maiores economias do mundo — Estados Unidos e China. Com isso, a visão é de que elas consumirão uma quantidade menor de matérias-primas, ou seja, as commodities, que são os principais produtos exportados pelo Brasil. Como consequência, se reduz o saldo da balança comercial e a arrecadação de impostos.

Fora as economias mais fracas nos Estados Unidos e na China, algo que está acontecendo no Japão também afetou o real. A moeda japonesa tem acumulado ganhos contra a divisa norte-americana em meio a suspeitas de intervenção cambial das autoridades e à especulação de que o Banco do Japão elevará os juros em sua reunião na próxima semana.

Um iene valorizado ante o dólar e a possibilidade de diminuição no diferencial de juros entre Japão e Estados Unidos levam investidores a reverterem operações de “carry trade”, quando tomam ativos em locais com juros baixos para rentabilizar em outros com juros mais altos. Isso provoca uma fuga de capitais de emergentes para sustentar essa reversão no mercado japonês.

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Risco fiscal

Já no Brasil, o risco fiscal, por fim, também deve continuar nos holofotes. Julho foi marcado por falas mais brandas do executivo do Governo Federal, que durante parte do primeiro semestre ajudou a desvalorizar o real com ataques, por exemplo, ao Banco Central e com relativizações da necessidade de conter gastos públicos. Fora isso, houve também o anúncio de corte de gastos e contingenciamento. 

“O governo vem promovendo uma reforma fiscal que aos olhos do investidor estrangeiro trás um sentimento de comprometimento com o mercado, isso acaba favorecendo a entrada de moeda estrangeira no país, favorecendo a valorização do real perante a moeda americana”, diz Avallone. 

“Em contrapartida, o presidente já vem a algum tempo criticando o banco central brasileiro, dizendo que não há motivos para manter a taxa de juros em patamares tão altos. Estas falas estão provocando um certo desconforto no mercado que teme um retrocesso”, pondera. 

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Apesar da tendência de queda do Euro no exterior, esses outros fatores também devem ser acompanhados, de perto, pelo mercado.

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