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As criptomoedas podem não parecer guardar qualquer relação com vacinação, mas foi graças ao Bitcoin (BTC) que o Ministério da Saúde conseguiu criar um sistema de rastreamento de dados usado para registrar, em meio digital, as informações que aparecem no cartão em papel entregue ao cidadão vacinado.
Na Rede Nacional de Dados de Saúde (RNDS), que alimenta o Data SUS, todas as informações são gravadas em blockchain, tecnologia que surgiu com o Bitcoin, em 2009.
A blockchain é uma base de dados que armazena informações em cadeia com uso de criptografia, criando um histórico inviolável: dados podem até ser modificados, mas o rastro dessas modificações fica salvo no sistema para sempre e pode ser consultado por quem tem acesso — seja por técnicos do Ministério ou pela Polícia Federal, no caso que investiga a suposta inserção de dados falsos de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro e de pessoas do seu entorno, incluindo a filha caçula, Laura.
O funcionamento da tecnologia blockchain, segundo Rafael Nasser, doutor em Informática e coordenador Técnico do Departamento de Informática da PUC-Rio, é viável por causa de mecanismos de consenso que, na prática, são algoritmos que estabelecem algumas regras.
“Eu diria que a blockchain é uma engrenagem que estabelece relações de confiança no ambiente online, e essa confiança, por ser descentralizada, viabiliza relações não só com quem eu confio, mas com qualquer um, pois eu confio na tecnologia e na rede que sustentam essa distribuição”, disse Nasser.
Ao contrário de uma base de dados comum, como as usadas até 2019 pelo Ministério da Saúde para armazenar o histórico de vacinação dos brasileiros, a blockchain faz o registro distribuído de tudo o que guarda. Vários computadores armazenam, simultaneamente, uma cópia atualizada dos dados, e funcionam como vigilantes para o caso de tentativa de adulteração.
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Isso significa que, se alguém tenta maquiar o histórico em um dos computadores, os demais podem flagrar o erro e evitar eventual manipulação. O sistema pode ter seus problemas se a rede tiver poucos participantes, mas fica praticamente infalível quando há uma grande quantidade de máquinas fazendo o trabalho, na casa dos milhões.
“Para você hackear um computador centralizado é uma dificuldade. Agora, conseguir hackear milhares ou milhões de computadores ao mesmo tempo, como é o caso da blockchain do Bitcoin, é praticamente impossível. Portanto, [as blockchains] são altamente seguras”, explicou José Artur Ribeiro, CEO da corretora Coinext.
A tecnologia começou a ser testada pelo Ministério ainda em 2019, com objetivo de facilitar a troca de informações entre hospitais e unidades de saúde dos estados de maneira segura, de modo a facilitar o trabalho dos médicos.
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A rede estava sendo aplicada em modo experimental em Alagoas no começo de 2020, quando veio a pandemia. Rapidamente, os técnicos da pasta trabalharam para colocar o projeto no ar e organizar os dados de vacinação enviados para a “nuvem” do Data SUS sem correr o risco de perdas no meio do caminho.