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O que acontece com os mercados? Os pontos que explicam forte aversão ao risco global

Como no acontecimento de 1987, inúmeras razões explicam a queda histórica da Nikkei nesta segunda-feira, como risco de recessão nos EUA e alta dos juros no Japão

Equipe InfoMoney

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A sessão é de forte aversão ao risco do mercado, com disparada de mais de 100% do “índice do medo” VIX e com destaque para a derrocada de 12,4% do índice de japonês Nikkei no pregão, na maior baixa diária desde o crash de 1987 e queda de 25% em relação à máxima histórica vista em julho.

As ações do setor bancário do Japão lideraram as perdas, o que empurrou o Nikkei para território baixista, devido à sua queda de 27% em relação ao pico de 42.426,77 pontos em 11 de julho.

Em outra segunda-feira sombria para o mercado japonês, em 19 de outubro de 1987, o índice caiu cerca de 22,6%. Lá atrás, a causa mais citada para a queda foi a venda automática de papéis por programas de computador, embora analistas ainda debatam até hoje as reais razões do episódio.

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Queda das bolsas

Saiba mais:

As ações europeias caíam para mínimas de quase seis meses, enquanto os futuros do índice de ações dos Estados Unidos tinham fortes quedas, com os índices vinculados à Nasdaq recuando quase 4%. Os rendimentos dos títulos caíram, já que os investidores correram para ativos portos-seguros e apostaram que o Federal Reserve dos EUA precisaria cortar as taxas de juros rapidamente para estimular o crescimento.


Todas as ações megacap e de crescimento, os principais impulsionadores dos índices que atingiram recordes de alta no início deste ano, caíram acentuadamente nas negociações pré-mercado.

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E dessa vez, o que aconteceu com os mercados globais? Como lá atrás, a explicação também aparece multifacetada.

De acordo com Fernando Ferreira, estrategista-chefe do Research da XP, o acontecimento atual se explica por alguns fatores. Dados fracos nos EUA, que sugerem maiores chances de recessão, somados a alta de juros nos Japão e aumento de tensões políticas no Oriente Médio. Além disso, investidores têm (como sempre) acompanhado de perto a movimentação da Berkshire Hathaway, companhia de Warren Buffett.

Nas últimas semanas, a Berkshire vendeu 50% da sua maior posição (Apple) e aumentou sua posição em caixa para US$ 277 bilhões (uma das maiores de sua história). “O que Buffett está vendo? Adicionaria uma 5ª razão: Posição técnica do mercado frágil – boa parte da alta no ano vindo de algumas ações de tech americanas”, comentou o estrategista em sua conta no X (antigo Twitter).

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Parte da explicação das quedas dos índices Topix e Nikkei 225 diz respeito aos investidores fugindo em meio a um aumento do iene, uma política monetária mais rígida e preocupações econômicas dos EUA, de acordo com a Bloomberg. Vendas forçadas de margem entre os investidores de varejo foram vistas como exacerbando a queda.

De acordo com fontes ouvidas pela Bloomberg, a liquidação de posições longas e de participação de fundos de hedge estão impulsionando as vendas no país. “Avaliações e estratégias fundamentais não são aplicáveis em algumas áreas devido ao aspecto de vendas em pânico do mercado”, disse Rina Oshimo, estrategista sênior da Okasan Securities Co., à Bloomberg.

Homem em meio às cotações dos mercados japoneses (Foto: REUTERS/Issei Kato/File Photo)

“O rápido movimento do iene está pressionando as ações japonesas para baixo, mas também está levando a uma liquidação de um grande carry trade – investidores alavancaram-se tomando empréstimos em iene para comprar outros ativos, principalmente ações de tecnologia dos EUA”, comenta Rafael Nemet-Nejat, gestor de portfólio sênior na Jin Investment Management Pte.

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Em relação ao impacto da economia dos EUA, analistas se mostram preocupados e movimentos de aversão ao risco refletem no mundo inteiro, com primeira demonstração no Japão hoje.

“No momento, o índice de surpresa econômica dos EUA está mostrando uma tendência negativa (piorando), e os investidores estão se tornando cada vez mais cautelosos com o agravamento dos indicadores econômicos dos EUA. Além disso, a reunião de Jackson Hole está chegando este mês e a reunião do FOMC no próximo mês”, explicou Jumpei Tanaka, estrategista da Pictet Asset Management.

Efeito global

Os mercados acionários da Ásia à Europa sofreram uma queda e os rendimentos dos títulos caíram, já que os investidores correram para ativos portos-seguros e apostaram que o Federal Reserve dos EUA precisaria cortar as taxas de juros rapidamente para estimular o crescimento.

Todas as ações megacap e de crescimento, os principais impulsionadores dos índices que atingiram recordes de alta no início deste ano, caíram acentuadamente nas negociações pré-mercado.

A Apple caía mais de 8% depois que a Berkshire Hathaway participação na companhia em quase 50%, sugerindo que o investidor bilionário Warren Buffett está cada vez mais cauteloso em relação à economia mais ampla dos EUA ou às avaliações do mercado de ações que se tornaram muito altas.

A Nvidia recuava 6,8% após relatos de um atraso no lançamento de seus próximos chips de inteligência artificial devido a falhas de design.

Um relatório fraco sobre empregos e a retração da atividade manufatureira na maior economia do mundo, juntamente com previsões desanimadoras das grandes empresas de tecnologia, levaram o Nasdaq 100 e o Nasdaq Composite a uma correção na semana passada.

Os dados fracos sobre empregos também desencadearam o que é conhecido como a “Regra Sahm”, considerada por muitos como um indicador de recessão historicamente preciso.

Os dados levaram os investidores a atribuir uma probabilidade de 91,5% de que o banco central dos EUA cortará os juros em 50 pontos-base na reunião de setembro e verá as taxas de final de ano entre 4 e 4,25%, em comparação com os atuais 5,25% e 5,50%, de acordo com a ferramenta FedWatch da CME.

As grandes corretoras de Wall Street também revisaram projeções de taxas do Fed para 2024 para mostrar uma maior flexibilização da política do banco central.

“Estou relutante em acreditar que o Fed iniciaria o processo de flexibilização com um corte de 50 bps, mas se os dados das próximas sete semanas forem consistentes com os desta semana, o Fed deverá ser agressivo”, disse Ronald Temple, estrategista-chefe de mercado da Lazard.

(com Bloomberg e Reuters)