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SÃO PAULO – Aswath Damodaran, conhecido como papa do valuation, não concorda com a visão predominante de que o mercado financeiro global foi irracional durante o crash do coronavírus. Na dúvida, questiona ele, “apenas abra a janela e se pergunte se você tem alguma clareza sobre quando a vida voltará ao normal”.
Para o professor de finanças indiano, que leciona na Universidade de Nova York, a queda que ocorreu nas bolsas mundiais entre o dia 14 de fevereiro – data que ele marca como início do impacto da pandemia nos mercados – e 20 de março, quando começou a retomada, deveu-se a uma situação excepcional de falta de previsibilidade sem precedentes.
Essa racionalidade na queda, de acordo com Damodaran, fica clara ao se analisar quais foram as companhias mais impactadas desde o início da crise. “As empresas que mais sofreram foram as mais endividadas ou mais expostas ao impacto na economia”, afirmou, durante painel nesta sexta-feira (17) na Expert XP.
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Por região, ele mostrou com dados de valor de mercado comparados que companhias africanas, sul-americanas, indianas e do Reino Unido foram as que mais sofreram, ao passo que empresas dos Estados Unidos já retomaram ou até superaram seus patamares pré-pandemia.
“Tirando o Reino Unido, que somou Brexit à incerteza provocada pelo coronavírus, são todos países emergentes, que historicamente estão mais vulneráveis a grandes impactos no emprego e na renda”, diz.
Já por setor, ele mostra que os mais afetados foram o financeiro, pois os bancos dependem muito do nível geral de renda na economia para crescerem, de Óleo & Gás, que além de ser muito exposto à demanda global ainda teve de lidar com a disputa de preços entre Rússia e Arábia Saudita, de Turismo e o de grandes empresas de infraestrutura com alto grau de endividamento.
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“O que mais explica as diferenças entre o desempenho das empresas nesta crise foi a dívida que cada uma possui”, sentencia. “Ou seja, em meio a todo o caos houve ordem. O mercado não está louco, a crise do coronavírus foi a mais organizada que já tivemos.”
Damodaran explica que da mesma forma como o crash foi racional, a retomada também foi, e tem tudo a ver com a medida tomada pelo Federal Reserve na segunda metade de março de anunciar que compraria os títulos da dívida corporativa das empresas. “Com esse anúncio, o Fed conseguiu destravar todo o mercado de crédito privado dos EUA e garantir que as companhias teriam a quem recorrer para se financiarem”, destacou.
O especialista ainda lembrou que essa crise desmontou o mito de que o Bitcoin funcionaria como “ouro dos millenials”. “O ouro subiu 9% durante o crash, enquanto o Bitcoin desabou 50%. A criptomoeda retomou boa parte das perdas agora, porém isso só mostra o quanto ela se comporta como um ativo de risco e não de proteção.”
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Uma outra lição tirada da crise, na avaliação de Damodaran, é que a noção de smart money (dinheiro inteligente) e stupid money (dinheiro estúpido), representando respectivamente o investidor institucional e a pessoa física, foi subvertida.
“Apostadores sem experiência no mercado ganharam mais dinheiro nos últimos 4 meses do que hedge funds. Isso mostra que a verdadeira distinção é entre investidores humildes e investidores arrogantes”, declarou.
Para Damodaran, o investidor que segue os princípios do value investing (investimento de longo prazo em empresas de valor) como um texto rígido escrito na pedra se frustrou durante essa crise.
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“As empresas que tinham menor múltiplo [valor de mercado dividido pelo lucro] P/L estão se saindo piores do que as com mais P/L. Acredito que isso mostra o quanto é necessário ser mais flexível e reconhecer que, quando falamos de empresas de tecnologia, por exemplo, muitas estimativas dos resultados no futuro terão que ser revisadas constantemente. E é importante reconhecer quando você estiver errado para poder refazer sua análise.”
Damodaran apela para que, de posse dessas informações, o investidor aprenda a confiar mais em dados e menos em especialistas. “Tenha fé, encontre o seu lugar seguro e continue analisando o básico dos fundamentos, mas não ignore a realidade.”
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