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SÃO PAULO – Muitas lições podem ser tiradas da história. Uma delas é que as epidemias afetam os mercados no curto prazo, mas não são capazes de mudar a tendência no longo prazo. É justamente isso que o gráfico postado no Twitter pelo estrategista-chefe da Charles Schwab, Jeffrey Kleintop, demonstra.
O gráfico mostra o impacto de diversas epidemias que abalaram o mundo nas últimas cinco décadas. Em todas elas, as bolsas internacionais, no caso representadas pelo índice Morgan Stanley Capital International (MSCI) global, caíram e depois se recuperaram.
A grande preocupação dos investidores é com o impacto econômico da disseminação do coronavírus, que resultou no isolamento da província de Hubei, na China. Em relatório, a equipe de análise da XP apontou que as medidas tomadas até agora geraram uma queda de 42% no número de passageiros no sistema rodoviário no primeiro dia do ano-novo chinês.
Da última vez em que isso ocorreu, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, na sigla em inglês), em 2003, fez as vendas do varejo da China caírem pela metade. O Produto Interno Bruto (PIB) do país diminuiu de 8% para 5% durante o surto.
Porém, a XP recorda que a ruptura econômica na época terminou assim que a doença foi controlada, fazendo com que o país voltasse a crescer no mesmo ritmo pré-SARS. “Depois disso, a economia global ainda se beneficiou com a liberação da demanda reprimida”, escreve a equipe de análise.
No Brasil, os setores mais impactados por enquanto são os de mineração e viagens, que sofrem com a queda nos preços de metais e a suspensão de vendas de pacotes turísticos na China. “Caso os impactos do surto se prolonguem no médio prazo, poderemos continuar vendo pressão nos preços de ações brasileiras ligadas à demanda chinesa, como empresas de commodities (Suzano, Vale), frigoríficos exportadores (JBS, Marfrig), além de companhias aéreas e de turismo (Gol, Azul, CVC)”, destaca o relatório.
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Os analistas da Rico Investimentos, Lucas Collazo e Thiago Salomão, apontam que seguem otimistas com a bolsa brasileira apesar do coronavírus. Para eles, o cenário que se desenha no ambiente doméstico é bastante favorável ainda por três fatores: “juro estruturalmente baixo por muito tempo; avanço da agenda de reformas e expansão de lucros das empresas, que sobreviveram aos anos de crise no Brasil e vão surfar a retomada da economia”.
A equipe da Rico destaca que é importante monitorar as notícias sobre o coronavírus e saber quais setores podem ser mais impactados, como companhias aéreas, serviços de viagem e itens de luxo, por exemplo, mas os fundamentos estruturais da visão otimista que têm do mercado não mudaram.
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Alberto Bernal, estrategista global da XP Investimentos, acredita ser pouco provável que o coronavírus afete a economia global. “A China pode até sofrer uma desaceleração de 1% no primeiro trimestre, mas vai se recuperar no próximo. Os mercados de países emergentes vão continuar atrativos em 2020 para o investidor buscar oportunidades em termos relativos.”
Já Débora Santos, da XP Política, analisa que a tendência é de diminuição no número de casos do coronavírus em cerca de três semanas, levando em conta o período de incubação do vírus. Para ela, se isso realmente ocorrer podemos esperar uma recuperação dos mercados diante do alívio nos temores de uma pandemia global.
Também adotando tom positivo, a equipe de análise do JPMorgan defendeu que a turbulência global é um ótimo momento para comprar ativos com desconto. Os estrategistas do banco contam que por mais que a onda vendedora possa continuar antes que os temores se dissipem, no passado, os grandes surtos levaram a uma desvalorização de 4,7%, em média nas bolsas.
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Mais cauteloso, Júlio Fernandes, gestor da XP, argumentou ao InfoMoney que está tentando mapear e entender a extensão do impacto econômico do coronavírus antes de dar um veredicto. “Nós acompanhamos o desenvolvimento da doença e aguardamos uma estabilização, que deve demorar um ou dois meses. Por enquanto, estamos protegendo a nossa carteira”, revela.
Fernandes, entretanto, entende que o longo prazo segue positivo, com boas perspectivas de crescimento para a economia brasileira diante da agenda reformista implementada pelo governo. “Estamos otimistas porque não vemos a recuperação como algo de um ano. No curto prazo há diversos ruídos e as ações ligadas a commodities sofrem porque são expostas à China, porém o cenário para o futuro não mudou”.
Correção
Durante o programa Analistas sem Censura desta terça-feira, transmitido pela InfoMoneyTV, Cesar Crivelli, analista da Nord Research, explicou que nos Estados Unidos a maior parte dos ativos em bolsa estão negociando a uma razão P/E – preço de mercado empresa dividido pelo lucro gerado por ela – em torno de 18 vezes – e isso explica em parte a forte queda dos mercados por conta das notícias recentes. “A média histórica recente é de 14 vezes, então precisa de uma correção. O mercado às vezes escolhe algo para depurar os múltiplos. Atualmente é o coronavírus”.
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Ricardo Schweitzer, também da Nord, aponta que quem chegou ao mercado nesse momento de exuberância de bull market pode se assustar com quedas bruscas como a de ontem, mas a correção foi até pequena diante do tanto que a Bolsa subiu nos últimos meses.
Outro ponto destacado por Schweitzer é que o principal impacto econômico do coronavírus é justamente a medida tomada pela China para controlá-lo. Os chineses anunciaram a extensão do feriado de ano-novo lunar até o próximo domingo, com bolsas fechadas até 3 de fevereiro e empresas proibidas de retomar as atividades até o dia 10.
“Como teve uma extensão do feriado, talvez tenha algum impacto no volume de produção do país no primeiro trimestre”, comenta o analista. Todavia, Schweitzer lembra que geralmente o governo chinês atua para mitigar os impactos de grandes desacelerações na economia.
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“O Partido Comunista Chinês deve compensar de alguma forma, talvez com investimento público em obras de infraestrutura. Desse modo, os efeitos talvez sejam até positivos para o setor de mineração”, avalia.
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