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SÃO PAULO — No dia 8 de novembro de 2007, a bolsa brasileira amanheceu com um fato novo que colocou o país em posição de destaque no mercado internacional. Pela primeira vez o mundo olhou para o Brasil como a próxima potência do petróleo.
A descoberta do potencial do campo Tupi, na camada pré-sal, levou o governo aos noticiários e os acionistas da Petrobras à euforia. Para as ações da estatal, este fato novo foi tratado como um divisor de águas.
O estudo inicial da estatal apontava para um volume recuperável de óleo leve estimado entre 5 e 8 bilhões de barris de petróleo e gás natural. Para se ter uma ideia, as reservas totais da empresa acumulavam 13,7 bilhões de barris no final de 2006.
O leilão de abertura daquela quinta-feira apontava expressiva valorização de 6% para as ações da estatal, com os investidores tentando mensurar a descoberta. No fim do dia, o fechamento marcou impressionante disparada de 14,16% das ações preferenciais da Petrobras, que sozinhas movimentaram R$ 3,3 bilhões na sessão.
Mais impressionante que a resposta da ação foi a movimentação no mercado de derivativos. Os comprados em calls viram suas posições dispararem mais de 1.800%. Por outro lado, os vendidos em opções da estatal amargaram prejuízos impressionantes.
O Ibovespa acompanhava as perdas de Wall Street e caía naquele dia, mas a disparada da Petrobras fez o índice destoar do exterior e fechar em leve alta 0,11%.
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A descoberta do potencial de Tupi, no pré-sal, é o tema do décimo primeiro episódio de Os Pregões que Fizeram História. É possível seguir e escutar o programa pelo Spotify, Amazon Music, Google Podcasts, Spreaker, Deezer, Apple Podcats (iTunes), Castbox e Podchaser. Se preferir, faça o download do episódio clicando aqui.
“O primeiro anúncio de sucesso na camada do pré-sal foi em 2006, julho de 2006. Depois em outubro de 2006, você teve o anúncio de que os volumes seriam significativos, mas nem tinha ideia do tamanho, que seria tão significativo. Aquele anúncio de 2007 foi um marco, foi uma mudança de paradigma. Era uma nova fronteira exploratória, como eles gostam de comentar”, disse Vinicius Canheu, sócio da gestora Equitas e que na época trabalhava como analista do setor de petróleo no Credit Suisse.
“Risco de exploração, já tinha uma consciência ali de que o risco de exploração era muito baixo no sentido de que o petróleo estava lá. O risco era como você ia produzir, como isso seria feito ao longo do tempo. Mas não é aquela questão que é o risco número um e o risco mais tradicional da indústria do petróleo, que é você ter uma área, uma sísmica e você precisa perfurar, gastar dinheiro ali para saber se vai ter petróleo ou não. Esse risco exploratório era bastante baixo já na época. Então, para a Petrobras, era um anúncio muito significativo por ser uma reserva muito grande, uma mudança de paradigma exploratório no Brasil e que colocaria o Brasil entre os principais países”, completou.
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“Nesse dia específico, vivemos um momento ímpar porque como tínhamos muitas pessoas físicas como clientes, boa parte deles tinham Petrobras em suas carteiras de custódia. Analisando a composição do Ibovespa em 2007, a participação de Petrobras no índice, a PN era mais ou menos 13% e a ON era mais uns 5% ou 6%, estamos falando entre 15% e 20% de participação no Ibovespa. Todo mundo ganhou dinheiro naquele dia. Todo mundo ficou eufórico. Diria para ti que talvez foi o dia que mais o telefone tocou na corretora ou o dia que mais clientes foram visitar a corretora”, disse Rossano Oltramari, ex-analista-chefe e sócio da XP, hoje sócio e estrategista da gestora 051 Capital.
Canheu e Oltramari contam os bastidores daquele dia nas mesas de operação, histórias de quem ganhou e perdeu dinheiro com o anúncio da Petrobras e quais foram as mudanças que aquilo representou para a empresa, para o país e para o mercado de ações brasileiro. Ouça o episódio acima.
Em 2007, as ações preferenciais da Petrobras acumularam ganhos de 80%, enquanto o Ibovespa subiu 43,5%. Só entre 8 de novembro e 30 de dezembro daquele ano, o avanço das ações preferenciais da Petrobras foi de cerca de 26%.
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Sobre o podcast
Os Pregões que Fizeram História é o podcast do InfoMoney que conta bastidores de dias emblemáticos para os mercados, seja por uma queda drástica ou por uma disparada, através da voz de quem estava lá — ou de quem entende muito do assunto. Ele vai ao ar toda semana, sempre às sextas-feiras.
O Plano Collor e o congelamento da poupança em 1990, a mudança para câmbio flutuante e a maxidesvalorização do real em 1999, o investment grade do Brasil em 2008, a crise do subprime naquele mesmo ano que colapsou os mercados do mundo inteiro, o Joesley Day e a delação dos irmãos Batista em 2017. Esses e muitos outros momentos marcantes para a Bolsa brasileira estarão na série.