Números das locadoras de veículos foram bons, mas uma se destaca: confira as opiniões de analistas sobre os resultados

Surpresa na geração de caixa e a valorização menor desde a fusão fazem com que uma companhia do setor tenha as melhores perspectivas

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – As três locadoras de veículos principais com capital aberto na B3 já divulgaram resultados e todos foram bem recebidos pelos analistas. Alguns pontos em comum foram o aumento na receita com a venda de seminovos, compensando os impactos da pandemia no segmento rent-a-car (aluguel de curto prazo de carros).

No entanto, qual teria tido o melhor desempenho entre as três?

Apesar de nenhuma das três empresas ter apresentado números realmente fracos, a disparidade ocorreu e se refletiu nas cotações de suas ações. Enquanto os papéis da Movida (MOVI3) dispararam 8,55% na esteira do seu resultado no dia 29, a Unidas (LCAM3) viu suas ações se desvalorizarem em 0,99% depois de soltar balanço (sessão do dia 28) e a Localiza perdeu 7,36% de valor quando divulgou seus números (pregão do dia 30).

Segundo Flávio Conde, analista da Levante Ideias de Investimento, o setor inteiro tem boas perspectivas e serve como uma ótima aposta no chamado call de reabertura, que é a compra de ações de companhias que se beneficiam com a retirada das medidas de isolamento social tomadas para conter a Covid-19, no entanto a Movida tem dois trunfos que as outras não possuem.

Em primeiro lugar, Conde lembra que as ações da Localiza e da Unidas subiram muito desde que as duas companhias anunciaram fusão. A Localiza se valorizou em 29,8% do anúncio no dia 23 de setembro do ano passado até o resultado, enquanto a Locamerica teve alta de 37,7%. No mesmo período, a Movida subiu 24%.

“A Movida é a mais barata das três. O múltiplo [valor da empresa dividido pelo Ebitda] EV/Ebitda da Localiza está em 18 vezes, da Unidas está em 9,8 vezes e da Movida está em 8,7 vezes. Isso ajuda a explicar por que a Movida foi a que mais se valorizou”, comenta.

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O segundo motivo para ficar otimista com a Movida é que ela apresentou uma geração de caixa no segundo trimestre bem acima do esperado. Com R$ 3,4 bilhões no caixa no final de junho, Flávio Conde diz que a empresa pode investir muito em expansão geográfica, aumento de frota, mais lojas e mais vendedores.

No mais, o analista espera que o segundo semestre seja ainda melhor para as locadoras, visto que com a reabertura total da economia as pessoas devem usar mais aplicativos de carona ou alugar carros para se locomover pelas grandes cidades.

“Com a decisão do João Doria de chamar de volta os funcionários vacinados a partir de agosto, foi dado o sinal verde para as empresas privadas fazerem o mesmo”, destaca. Conde ressalta que o preço de um carro novo está muito caro devido à crise das montadoras e que o custo dos combustíveis também não atrai consumidores a comprar carro, de modo que o aluguel, o uso de aplicativos e a aquisição de um seminovo se tornam opções bem mais em conta, justamente três segmentos em que as locadoras ganham.

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Leia também: Análise de balanços: o que Warren Buffett avalia nas empresas investidas?

Por outro lado, ele acredita que um risco de médio a longo prazo seja a entrada das montadoras no ramo de aluguel usando a infraestrutura das concessionárias. “A Toyota já faz isso no mundo e isso pode ser um desafio bem grande, mas não para agora. Não é algo que vai impactar as ações de seis meses a um ano.”

Especificamente sobre Localiza, a Genial Investimentos comenta que o resultado veio sem brilho e ficou abaixo dos concorrentes. “Com uma base de comparação mais fraca, a empresa conseguiu evoluir seus indicadores, mas com alguns números em linha com a nossa projeção (receita líquida) e outro levemente superior (Ebitda e lucro líquido), diferente dos seus competidores, que apresentaram resultados mais positivos”, destacou a corretora.

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Já Ricardo Oliboni, sócio e chefe de Mesa da Axia Investing, faz bons prognósticos para o setor como um todo, apontando que com a flexibilização das restrições à mobilidade e a retomada da economia as águas a navegar ficarão mais calmas do que em trimestres como abril, quando o pico da Segunda Onda da Covid prejudicou as operações das empresas.

Confira abaixo o compilado das recomendações de analistas de bancos, corretoras ou casas de análise para cada uma das empresas segundo dados compilados pela Refinitiv.

Empresa Ticker Recomendações de compra Recomendações neutras Recomendações de venda Preço-alvo médio Valorização (uspide) esperado
Localiza RENT3 9 4 1 R$ 72,46 16,59%
Movida MOVI3 7 3 0 R$ 25,57 12,76%
Unidas LCAM3 7 2 0 R$ 34,13 25,52%

Leia abaixo em detalhes como foi o resultado de cada uma.

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Localiza

A Localiza registrou um lucro líquido de R$ 447,9 milhões no segundo trimestre de 2021, o que representa um crescimento de 398,2% em relação ao reportado no mesmo período do ano passado.

Já o Lucro Antes de Juros, Impostos, Depreciações e Amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) da companhia totalizou R$ 769,7 milhões, uma expansão de 77% ante o segundo trimestre de 2020.

Por fim, a receita líquida da Localiza atingiu R$ 2,696 bilhões, alta de 71,7% na comparação anual.

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Os analistas Victor Mizusaki, André Ferreira e Pedro Fontana, do Bradesco BBI, escrevem em relatório que a receita veio em linha com as estimativas refletindo o forte desempenho no setor de rent-a-car na comparação com o segundo trimestre de 2020 apesar da segunda onda do coronavírus ter resultado em uma contração de 8% no volume na base trimestral.

Além disso, a gestão de frotas também teve uma performance considerada sólida pela equipe do Bradesco, com crescimento de 30% em relação ao segundo trimestre de 2019 e de 5% ante o primeiro trimestre de 2021.

Os principais destaques do resultado, na opinião dos analistas, são a redução no número de carros vendidos pelo terceiro trimestre consecutivo, para 26.600 unidades, contra 29.000 no primeiro trimestre e 32.000 no quarto trimestre do ano passado. O objetivo é priorizar o serviço de aluguel, dado que as dificuldades das montadoras para normalizar a produção de veículos continua.

“Preços crescentes de carros novos e, consequentemente, preços mais altos de carros usados ​​combinados com a frota já depreciada explicam a redução de 29% na depreciação por carro para gestão de frota”, explica a equipe do Bradesco.

De acordo com os especialistas, as despesas menores com depreciação, combinadas com os resultados mais fortes de seminovos e a tímida expansão da frota se traduziu em um ROIC (lucro operacional menos impostos dividido pelo capital total investido) de 14,1%, que é 6,1 pontos percentuais maior que o do segundo trimestre do ano passado e 1,8 ponto percentual acima do registrado no segundo trimestre de 2019.

“No segundo trimestre de 2021, a empresa reportou uma frota de 274,3 mil carros com a aquisição de 28,7 mil carros, número relativamente baixo se comparado à Unidas e Movida (já que essas empresas reportaram frotas de 177,2 mil e 134,2 mil carros e 26,6 mil e 23,3 mil carros comprados). Em nossa opinião, a Localiza está tentando evitar o aumento da exposição às montadoras com baixa participação no mercado de rent-a-car e também reduzir o preço médio dos carros novos”, conclui o relatório.

O Bradesco BBI tem recomendação outperform (desempenho esperado acima da média do mercado) para as ações RENT3 com preço-alvo estimado de R$ 86,00, o que representa uma alta de 38,4% em relação ao valor de fechamento dos papéis na sexta-feira (30).

Conforme destaca a equipe de análise da Levante Ideias de Investimento, o crescimento de 35% no volume de carros vendidos, combinado ao aumento de 31,3% no preço praticado, levou a um aumento de 77,2% nas receitas de seminovos.

Por outro lado, a margem Ebitda (Ebitda dividido pela receita líquida) da operação rent-a-car foi de 38,6% no trimestre, representando uma redução de 14,6 pontos percentuais em relação ao segundo trimestre de 2020.

Os analistas da Levante entendem que foi um bom resultado em termos de lucro líquido e receita líquida, com números abaixo das expectativas apenas em termos de Ebitda. “Os números da locadora mostram a forte recuperação do setor de locação de veículos, à medida que a economia do país volta gradualmente à atividade normal”, avaliam.

Também em destaque, a equipe lembra que a Localiza manteve a estratégia de postergar a desativação dos carros do aluguel de carros, prolongando a vida útil da frota, o que resulta em um ritmo de venda de seminovos abaixo de sua capacidade.

Para a Levante, o principal catalisador para o preço das ações da Localiza continua sendo a evolução da aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) na fusão com a Unidas, que vai criar a maior empresa de mercado com liderança no segmento de aluguel de veículos.

A companhia ainda tem avançado em importantes frentes como a locação de carros por assinatura e para motoristas de aplicativo. “O Localiza Meoo já se encontra em um processo bastante maduro, entregando uma boa experiência aos clientes e confirmando o potencial desse mercado de carros por assinatura.”

Movida

A Movida reportou um lucro líquido de R$ 174 milhões, alta de 6.556% na comparação anual e de 58% na trimestral.

Já o Lucro Antes de Juros, Impostos, Depreciações e Amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) consolidado foi a R$ 388 milhões, número 27% maior que o do primeiro trimestre e 157% superior ao do mesmo período do ano passado.

A receita líquida totalizou R$ 1,2 bilhão, um aumento de 15,6% na comparação anual e de 50,5% na comparação trimestral, com receita líquida de aluguéis de R$ 538 milhões, recordes para um trimestre.

Segundo os analistas do Bradesco BBI, as receitas vieram 3% acima do esperado pelo banco e 10% superiores ao que o consenso do mercado esperava, refletindo um recorde de receita de gestão de frota de R$ 196 milhões (alta de 57% na comparação com o segundo trimestre de 2020 e de 80% em relação ao segundo trimestre de 2020).

O banco destaca ainda o recorde nos preços de carros usados, que subiram 5% em relação ao primeiro trimestre, algo que ofuscou o impacto da pandemia de Covid-19 no segmento de aluguel. Os resultados de seminovos também levaram o Ebitda a bater em 13% as projeções do Bradesco e em 14% o consenso, uma vez que o Ebitda dessa operação chegou a R$ 120 milhões (contra R$ 11 milhões no segundo trimestre de 2019).

A gestão de frota, por sua vez, reportou uma margem Ebitda de 65%, valor 4,9 pontos percentuais acima do registrado no trimestre anterior conforme a empresa está diluindo com sucesso custos fixos no produto de arrendamento operacional (Movida Zero km).

Por outro lado, a margem Ebitda do segmento rent-a-car caiu a 41,1% (queda de 5,1 pontos percentuais na base trimestral) devido ao impacto do coronavírus.

Na opinião do Bradesco BBI, os fatores mais importantes do resultado da Movida são as entregas de novos carros de 23 mil unidades, acima das 10.900 unidades entregues no primeiro trimestre de 2021, o que resultou em uma adição de 12 mil carros apesar dos problemas que enfrenta a cadeia de oferta da indústria automotiva desde o início da pandemia.

“A Movida está adicionando mais modelos de carros premium, mas a empresa aumentou com sucesso o preço médio do aluguel diário em rent-a-car para R$ 84 (alta de 41% na comparação anual e de 6% contra o segundo trimestre de 2019)”, analisa a equipe do banco.

Para os analistas, a companhia foi bem sucedida em reduzir o gap de receita líquida com a Unidas para 18%, de 28% anteriormente, e da frota de carros para 10%, de 24% antes. “Portanto, com base nos sólidos resultados do segundo trimestre de 2021 e na aprovação unânime dos acionistas minoritários para concluir a aquisição da CS Frotas, esperamos que o desconto de 20% no múltiplo [valor de mercado dividido pelo lucro líquido] P/E 2022 da Unidas reduza gradualmente para 11% nas próximas semanas.”

O Bradesco BBI tem recomendação outperform para as ações MOVI3, com preço-alvo estimado em R$ 32,00, o que representa uma valorização de 42,8% sobre o valor de fechamento dos papéis na sexta-feira.

Já os analistas Regis Cardoso, Henrique Simões e Alejandro Zamacona, do Credit Suisse, exaltam também o desempenho da operação de seminovos, porém lembram que o resultado não é “totalmente” recorrente.

“Os altos resultados de seminovos são consequência dos elevados preços de venda de carros usados ​​para carros comprados a valores muito mais baixos, o que não é recorrente e deve se normalizar para margens baixas de um dígito no final de 2022 ou 2023”, apontam.

Um risco a ser monitorado, segundo os analistas, é o de depreciação, que deve ocorrer em consequência do envelhecimento da frota. “No segundo trimestre de 2021, rent-a-car e gestão de frota tiveram incrementos na depreciação de 21% e 26% ante o primeiro trimestre respectivamente, apesar de sobre uma base baixa”, explicam.

Unidas

A Unidas teve um um lucro líquido recorrente de R$ 241,2 milhões no segundo trimestre de 2021, ante R$ 1,7 milhão no mesmo período do ano passado.

Já a geração de caixa medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) recorrente alcançou R$ 557,2 milhões de abril a junho, alta de 167,1% na comparação com igual período do ano anterior. A margem Ebitda foi de 75,4% no segundo trimestre, avanço de 32 pontos porcentuais ante o mesmo período de 2020.

A receita líquida consolidada da companhia atingiu R$ 1,6 bilhão no segundo trimestre, alta de 74,7% ante igual intervalo de 2020.

Os analistas Pedro Bruno, Gabriela Ferrante e Lucas Laghi, da XP, destacaram que a gestão de frotas teve uma combinação positiva de crescimento de volumes (22% maior na comparação com o mesmo período do ano passado) e aumento médio de 15% da tarifa na base anual, o que se traduziu em um aumento de 40% na receita neste segmento na mesma base de comparação.

Isso se somou à forte operação de Gestão e Terceirização de Frotas (GTF), que totalizou 15,6 mil veículos em novos contratos, incremento de 36% em relação ao primeiro trimestre deste ano. Ao mesmo tempo, também no caso da Unidas a venda de seminovos teve uma dinâmica bastante sólida, com uma margem Ebitda de 19,3%, que corresponde a um avanço de 14,7 pontos percentuais ante o segundo trimestre de 2020 e 2,1 pontos percentuais acima do esperado pela corretora.

Do lado negativo, os analistas da XP elencam a desaceleração nos negócios de rent-a-car, com a receita líquida caindo 3% na base trimestral, o que pode refletir os efeitos da segunda onda da Covid-19 ao longo do segundo trimestre de 2021 e o desabastecimento da indústria automotiva.

Outro ponto a se atentar é o aumento de 8% na depreciação por carro no segmento rent-a-car e de 30% no GTF, algo que a XP atribui ao “conservadorismo da Unidas em relação às vendas de carros usados ​​no médio-prazo”. Por fim, também é vista como negativa a contração de aproximadamente 4 pontos percentuais na margem na base trimestral para o negócio de gestão de frotas.

A XP tem recomendação de compra para as ações LCAM3 com preço-alvo de R$ 34,00 por papel, o que representa uma valorização de 25,05% sobre o fechamento da sexta.

Em teleconferência, a Unidas afirmou prever nos próximos trimestres ter patamares de receita similares aos registrados no segundo trimestre. A companhia contratou um executivo para liderar sua divisão de veículos pesados, no qual a locadora já conta com perto de mil unidades.

“Não é segredo para ninguém que temos uma operação em pesados, mas nos próximos trimestres passaremos a divulgar também de forma separada nosso desempenho no setor em que temos muita ambição”, disse o presidente da Unidas à agência de notícias.

Confira abaixo o compilado das recomendações de analistas de bancos, corretoras ou casas de análise para cada uma das empresas segundo dados compilados pela Refinitiv.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.