Número de investidores em LCA sobe 50% em 6 meses; também isentos, CRIs atraem 30% mais até junho

Dados são reflexo do crescimento do agronegócio durante o período; estudo da B3 também mostrou alta no número de CPFs alocados em CDBs e LCIs

Bruna Furlani

Publicidade

O avanço da Selic – da mínima histórica de 2% ao ano para os atuais 13,75% – provocou uma mudança na cabeça de quem tinha deixado de lado investimentos conservadores para buscar retornos maiores em ativos de maior risco. Com a renda fixa mais viva do que nunca, cresceu também o número de investidores pessoa física alocados em títulos dessa classe. O maior destaque está no avanço visto em Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs).

Números da B3 divulgados nesta semana apontaram que 1,03 milhão de investidores pessoa física detinham aplicação em LCAs em junho deste ano, 50% mais do que os 689 mil vistos em dezembro de 2021. Esse foi o produto de renda fixa com maior crescimento em número de CPFs, e de valor total investido, que passou de R$ 176,6 bilhões, no fim do ano passado, para R$ 266,7 bilhões em junho deste ano.

Segundo a B3, os números são reflexo do crescimento do agronegócio durante o período. Sem esquecer da ajuda da isenção tributária para pessoas físicas, como ocorre também com as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), o que favorece a atratividade do investimento.

Continua depois da publicidade

Na sequência, a maior alta no número de investidores foi registrada entre os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), que viram o montante de CPFs passar de 116 mil, no fim de 2021, para 151 mil em junho deste ano – um aumento de 35 mil investidores. Ao mesmo tempo, o saldo total investido chegou a R$ 33,8 bilhões no fim do segundo trimestre deste ano, o que representa uma alta de 30% em relação aos R$ 25,9 bilhões vistos em dezembro de 2021.

Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e LCIs também foram destaque: o número de investidores pessoas físicas subiu 21% em junho na comparação com 2021. No caso dos CDBs, o número saltou de 7,2 milhões para 8,7 milhões, enquanto o número de investidores alocados em LCIs passou de 1 milhão para 1,2 milhão no mesmo período.

Leia mais:
CDBs de inflação pagam até 8,63%, enquanto teto de pós-fixados é de 110% do CDI; veja destaques de retornos

Continua depois da publicidade

O saldo total alocado também subiu de R$ 140,0 bilhões para 178,1 bilhões agora em junho, no caso de LCIs. Já no caso de CDBs, o número saiu de R$ 490,2 bilhões para R$ 562,8 bilhões.

Entre os ativos de renda fixa que também registraram altas de mais de dois dígitos no número de CPFs estão as debêntures, com alta de 20% em junho na comparação com o fim de 2021, além de Certificados de Operações Estruturados (COEs) e de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), ambos com aumento de 19% no mesmo período.

O único produto que ainda não parece ter caído nas graças dos investidores pessoa física são os Recibos de Depósito Bancário (RDBs), que viram um avanço de apenas 5% no número de CPFs que investem no produto entre junho deste ano e o fim do ano passado.

Continua depois da publicidade

Já na renda fixa como um todo, o total de investidores pessoa física saltou de 10,1 milhões, no fim de 2021, para 11,9 milhões em junho deste ano, o que representa uma alta de 17%. Também houve alta no saldo total investido que passou de R$ 1,04 trilhão para R$ 1,33 trilhão em junho deste ano, um aumento de 27%.

Em contrapartida, o saldo detido por investidores, em média, recuou 7%, ao sair de R$ 8,6 mil para R$ 8,0 mil entre o fim do ano passado e junho deste ano.

Já na comparação com os últimos 12 meses, o número de investidores pessoa física em renda fixa subiu 27%, saltando de 9,4 milhões para 11,9 milhões agora.

Continua depois da publicidade

Tesouro Direto

O incremento no número de CPFs também pôde ser visto no Tesouro Direto, que registrou forte aumento das taxas entre dezembro do ano passado e junho deste ano, acompanhando o avanço da Selic.

Conforme mostra o levantamento da B3, o número de investidores chegou a 2 milhões no segundo trimestre deste ano, 29% maior do que os 1,6 milhão vistos no mesmo período do ano passado.

Leia mais:
• Tesouro Direto: reviravolta na curva de juros leva títulos prefixados a valorizar até 6,5% em agosto; entenda

Continua depois da publicidade

Já o saldo médio investido recuou, de R$ 2,5 mil para R$ 2,4 mil entre o segundo trimestre de 2021 e o mesmo período deste ano. Por outro lado, houve leve aumento na comparação com o primeiro trimestre deste ano, em que o saldo mediano foi de R$ 2,1 mil.

Os dados também mostraram que mais de 70% do saldo em custódia estava em títulos atrelados à inflação (Tesouro IPCA+) e títulos atrelados à Selic (Tesouro Selic) no segundo trimestre deste ano.

Com o aumento da Selic, é possível notar também que houve um aumento na procura por títulos públicos atrelados à taxa básica de juros, que respondiam por 27% da posição em 2021, e que agora representam 32% das alocações.

Da mesma forma, a perspectiva de que o ciclo de aperto monetário poderia ir para além de setembro – visão defendida por analistas até o meio deste ano – ajudou a fazer com que investidores reduzissem a posição em prefixados sem juros semestrais (LTN).

A explicação é que, ao comprar um título prefixado, o investidor “trava” a taxa. Logo, se a Selic subir para além do retorno travado, a pessoa corre o risco de ficar com juros defasados. Portanto, a alocação não costuma ser indicada quando há sinalizações de que o Banco Central deve seguir no processo de alta de juros, como ocorreu no primeiro semestre deste ano.

Apenas para se ter uma ideia: no fim de 2021, os prefixados sem juros semestrais representavam 15% das posições. Agora, em junho deste ano, a posição era menor e eles respondiam por 12% das alocações.

Renda variável

Apesar do juro elevado, a renda variável mostrou resiliência e manteve o ritmo de crescimento nos últimos 12 meses. Entre julho de 2021 e junho de 2022, a entrada de 1,25 milhão de novos investidores fez a quantidade de CPFs saltar 40%, de 3,15 milhões para 4,40 milhões de pessoas. A quantidade de contas de pessoa física, por sua vez, aumentou 37%, para 5,18 milhões de contas. Essa diferença se dá porque um mesmo investidor pode manter contas em mais de uma corretora.

O número de investidores em ações também cresceu 15% no último ano, passando de 2,8 milhões para 3,2 milhões de CPFs. Em paralelo, houve recuo de 61% no saldo mediano em custódia, que caiu para R$ 3 mil.

Chama a atenção também a evolução vista nos fundos que investem nas cadeias produtivas agroindustriais (Fiagros), que viram o número de CPFs passar de 8 mil em outubro de 2021 – quando os primeiros produtos foram negociados – para 65 mil em junho de 2022, um salto de 712,5%. Dados da B3 mostram também que o produto tem sido bastante procurado por investidores pessoa física, que representavam 94% do volume investido no ativo em junho deste ano.