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A escolha de um novo presidente para a Petrobras (PETR3;PETR4) após apenas 40 dias de José Mauro Coelho na posição surpreendeu agentes de mercado e é lida de maneira negativa, uma vez que evidencia mais uma vez a insatisfação do governo com a política de preços da estatal e aumento os temores de interferência na companhia.
Caio Paes de Andrade, atual secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital no Ministério da Economia, foi indicado para o cargo, conforme informou nota divulgada pelo Ministério das Minas e Energia na noite da véspera. Próximo ao ministro Paulo Guedes, ele já tinha sido considerado como um candidato para liderar a companhia.
O novo CEO é nomeado num contexto de alta pressão política sobre os preços dos combustíveis e depois que Adolfo Sachsida assumiu o comando como o novo Ministro de Minas e Energia, no início de maio. “Embora essas mudanças ainda precisem ser votadas e aprovadas, acreditamos que esses anúncios provavelmente serão recebido negativamente pelo mercado devido a preocupações de interferência política”, apontam os analistas do Credit Suisse.
Ações em queda
Com isso, as ações tiveram um dia de queda durante toda a sessão, ainda que fechando longe das mínimas. PETR3 fechou em baixa de 2,85%, a R$ 34,40, enquanto PETR4 teve queda de 2,92%, a R$ 31,60, após chegarem a cair 4,77% e 5,65%, respectivamente, no intraday.
A baixa foi bem menor também do que a queda que os ADRs (na prática, as ações de empresas de fora dos EUA negociadas em Nova York) chegaram a registrar no pré-market na Bolsa de Nova York, durante a manhã. Às 7h05 (horário de Brasília), os ativos PBR (referente às ações PETR3) registravam baixa de 12,72%, a US$ 13,11, enquanto os PBR-A (equivalentes aos PETR4) tinham baixa de 11,56%, a US$ 14,38. Cabe destacar que os papéis da companhia ficam ex-dividendos a partir desta terça-feira, também levando a um ajuste no valor dos ativos. Após a abertura das bolsas americanas, com o ajuste aos proventos, os ativos tiveram baixa menos expressiva. Os papéis PBR fecharam com baixa de 3,86%, a US$ 14,22, enquanto os PBR-A tiveram queda de 4,22%, a US$ 12,98.
Em nota, a Petrobras informou que recebeu ofício do Ministério das Minas e Energia solicitando providências a fim de convocar Assembleia Geral Extraordinária, com o objetivo de promover a destituição e eleição de membro do Conselho de Administração, e indicando Andrade em substituição a Coelho.
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O ofício solicita ainda que Andrade seja posteriormente avaliado pelo Conselho de Administração da Petrobras para o cargo de presidente. Tendo em vista que Coelho foi eleito pelo sistema do voto múltiplo na Assembleia Geral Ordinária realizada em 13 de abril, caso aprovada pela assembleia geral, sua destituição implicará na destituição dos demais membros do conselho eleitos pelo mesmo processo, devendo a companhia realizar nova eleição para esses cargos.
De acordo com o estatuto da Petrobras, a nomeação de um novo CEO não pode ser feita diretamente pelo acionista majoritário, devendo ser solicitada e aprovada pelo Conselho de Administração. Além disso, o novo CEO precisa primeiro ser eleito como membro do Conselho de Administração da empresa. O nome deve ser aprovado pelo Comitê de Pessoas, para cumprimento de diversas regras de elegibilidade, antes de ser submetido à votação.
Se aprovado pelo Conselho de Administração da Petrobras, Paes de Andrade será o terceiro CEO da Petrobras apenas em 2022. Coelho assumiu o comando em 14 de abril, e foi nomeado após a Petrobras anunciar aumentos de preços tanto na gasolina quanto no diesel em 11 de março. “Coincidentemente, o anúncio da véspera também seguiu outro aumento de preço no diesel (de 8,87%, anunciado em 9 de maio)”, destaca o Credit.
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Ao anunciar o último reajuste, a Petrobras citou a necessidade de reajustar o preço para equilibrar o mercado e assim garantir o abastecimento por outras companhias, uma vez que o Brasil é importador de derivados.
Paes de Andrade, indicado a novo CEO, é graduado em Comunicação Social pela Universidade Paulista, pós-graduado em Administração e Gestão pela Harvard University e mestre em administração de empresas pela Duke University. Antes de ser secretário Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia, foi empresário do setor de tecnologia, dos setores imobiliário e agroindustrial.
O Credit ressalta que a Lei das Empresas Estatais Brasileiras (Lei das Estatais) exige que os candidatos ao cargo de CEO tenham: (i) dez anos de experiência no setor da empresa, ou (ii) quatro anos em posição de liderança de uma empresa
de tamanho equivalente, ou (iii) quatro anos com direito a um cargo de confiança no setor público, ou (iv) quatro anos de experiência como professor ou pesquisador em áreas equivalentes às da atividade da empresa, ou (v) quatro anos como profissional em atividades direta ou indiretamente relacionadas ao setor da empresa. O Comitê de Pessoas da Petrobras certamente irá considerar todos os requisitos estabelecidos pela lei, avalia o banco.
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“O indicado reúne todos as qualificações para liderar a companhia a superar os desafios que a presente conjuntura impõe, incrementando o seu capital reputacional, promovendo o contínuo aprimoramento administrativo e o crescente desempenho da empresa”, disse o ministério no comunicado.
O ministério ainda ressaltou que, para que sejam mantidas as condições necessárias para o crescimento do emprego e renda dos brasileiros, é preciso fortalecer a capacidade de investimento do setor privado como um todo.
Bolsonaro chegou a ser questionado na última semana passada sobre uma eventual troca no comando da Petrobras e foi taxativo ao dizer que a decisão caberia ao novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida. Sachsida, que tem agenda marcada com o Bolsonaro para esta terça-feira, é favorável à mudança na fórmula de preços da estatal e já solicitou estudos para verificar a viabilidade de uma eventual privatização da companhia.
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Já José Mauro Coelho, desde que assumiu o cargo de CEO da Petrobras, seguiu defendendo a política de preços adotada anteriormente.
Assim, a demissão de José Mauro Coelho do comando da Petrobras é a primeira de uma série de mudanças que o governo pode fazer na estatal, segundo matéria do jornal O Estado de S. Paulo. Além de demitir Coelho, o ministro de Minas Energia deve fazer mudanças no Conselho de Administração da estatal, que foi montado pelo ex-ministro Bento Albuquerque, demitido por Bolsonaro logo após o anúncio do reajuste do óleo diesel. A saída de Coelho também pode antecipar mudanças na diretoria da empresa, abrindo caminho para alterar a forma de reajuste dos preços, como quer Bolsonaro.
Para o Credit, no curto prazo, não são esperadas mudanças significativas na política de preços da Petrobras ou na estratégia da empresa focada em exploração e produção em águas ultraprofundas e pré-sal. “No entanto, a nosso ver, as mudanças recorrentes para o cargo de CEO aumentam substancialmente a percepção de riscos para o caso de investimento da estatal, particularmente porque as mudanças foram anunciadas após os ajustes nos preços dos combustíveis domésticos”, avaliam os analistas.
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O Credit, contudo, mantém a recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para o ADR PBR, com preço-alvo de US$ 17, uma alta de 5% em relação ao fechamento da véspera.
O Goldman Sachs aponta reconhecer que o curto período antes de substituir o atual CEO contribui para o ruído negativo em torno da viabilidade das ações e da política de preços de combustíveis da empresa. “No entanto, acreditamos que, no curto prazo, os estatutos da Petrobras e a legislação brasileira reduzem a probabilidade de intervenção governamental nas políticas da empresa”, avaliam.
Os analistas do banco permanecem com recomendação de compra para a Petrobras, pois, apesar do fluxo de notícias anterior sobre as ações, veem a ação como um nome atrativo, com um rendimento de dividendos (dividendos sobre o preço da ação) previsto de cerca de 35% em relação a 2022, e que há espaço limitado para intervenção do governo nas políticas da empresa a curto prazo. O preço-alvo para os papéis PBR, contudo, é de US$ 15,50, um valor 4,7% menor frente o fechamento da véspera.
Pontos de interrogação
“Acreditamos que a mudança traz sinais negativos para o mercado, uma vez que simboliza (novamente) o desconforto do acionista majoritário com a forma como a Petrobras vem tocando a sua política de preços”, aponta o analista da corretora Ativa Ilan Arbetman.
“Ademais, a chegada de Caio poderá significar a aplicação de política de preços de derivados ainda mais espaçada, abrindo espaço para a vigoração mais perene de preços defasados frente aos praticados no mercado internacional.”
Para o Citi, o principal ponto de interrogação é o que pode mudar com o novo CEO, apesar do banco enxergar a forte governança corporativa e leis que protegem os acionistas minoritários contra possíveis intervenções externas.
Analistas também acreditam que a interferência externa significativa à empresa cria um risco em torno da continuidade de sua estratégia de longo prazo. O Citi, contudo, mantém recomendação de compra para Petrobras e preço-alvo de US$ 16,10 para o ADR PBR (um valor 1% abaixo da véspera).
Já a XP, apesar de ver a mudança no comando como negativa, pois tal rotatividade não é saudável para nenhuma empresa, não vê isso como uma mudança na política de preços.
Primeiro, porque ainda enxerga a Lei das Estatais e o estatuto da Petrobras blindando a empresa de subsidiar combustíveis como no passado, independentemente de quem é o CEO. Em segundo lugar, Caio é fortemente ligado a Paulo Guedes, que não é a favor de mudanças na política de preços de combustíveis da Petrobras. XP reitera recomendação de compra para as ações PN e ON da Petrobras, com preço-alvo de R$ 47,80.
Na mesma linha, está o UBS BB. O banco avalia que, “apesar de ser o 41º CEO da Petrobras em 68 anos e o terceiro CEO este ano, não esperamos mudanças na estratégia ou nas políticas da Petrobras e sinalizamos a governança interna e a independência da empresa, com espaço limitado para influências externas, apesar das mudanças contínuas na alta administração”.
Influência de Guedes
A XP aponta que esta não foi a primeira vez que o ministro da Economia tentou emplacar seu aliado, sendo que agora a mudança se efetivou. Quando da substituição de Silva e Luna, em fevereiro, Guedes lançou o nome de Andrade, que foi vetado pelo então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.
“Agora, com Adolfo Sachsida no comando da pasta, Guedes consegue voltar a ter influência sobre a empresa — algo que perdera desde que Castello Branco foi demitido ano passado. Uma troca que tem mais a ver com a relação de confiança entre esses atores do que uma sinalização de que algo irá mudar”, avaliam os analistas da casa.
Porém, para os analistas, a princípio, a mudança deve ter os mesmos efeitos que no comando do Ministério de Minas e Enegia: trocam-se os chefes, mas as políticas permanecem as mesmas. “No que depender de Paulo Guedes e Sachsida, a solução para combater a volatilidade dos preços dos combustíveis não passará por uma alteração na política de preços da Petrobras”, destacam.
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Os analistas do UBS BB também veem a nova nomeação como um movimento politicamente motivado de Bolsonaro, à semelhança da recente substituição do ministro de Minas e Energia, como tentativa de responder às preocupações da sociedade sobre os preços dos combustíveis. Do ponto de vista da governança, é negativo dada a alta rotatividade, mas não são esperadas grandes mudanças. “Esta opinião é ainda apoiada pelo mandato potencialmente curto (dadas as eleições presidenciais a serem realizadas ainda este ano), e achamos improvável que Paes fará grandes mudanças na estratégia da empresa”, ressaltam. O banco tem recomendação de compra para os ativos da companhia, com preço-alvo de US$ 17,30 para o PBR (potencial de alta de 6,40%).
O Morgan Stanley, por sua vez, tem exposição equalweight (exposição em linha com a média do mercado) para o ADR PBR, com preço-alvo de US$ 15, um valor cerca de 8% menor em relação ao fechamento da véspera. Os analistas do banco apontam que o modo de intervenção parece estar se intensificando antes das eleições. Mas o time de análise do banco americano afirma que, além de enviar uma mensagem ao eleitorado, não entende completamente o que pode ser alcançado de forma diferente desta vez.
O Bradesco BBI aponta que a mudança não significa que algo concreto será feito agora, evidenciando mais a insatisfação de Bolsonaro com a política de preços dos combustíveis da Petrobras. Contudo, o mercado deve ficar atento à reformulação do Conselho para entender se pode haver alguma tentativa de modificação da política de preços. Oito dos onze membros precisarão ser eleitos novamente, com a reunião provavelmente ocorrendo em meados de julho.
Alguns jornais já especularam que os preços da gasolina/diesel poderiam ser congelados por 100 dias ou só seriam alterados dentro de uma faixa permitida, o que ainda deve ser monitorado pelo mercado. “Por outro lado, o fato de Caio Paes de Andrade ser provavelmente o CEO da Petrobras mais próximo de Guedes é interpretado por parte do mercado como um primeiro passo para uma potencial privatização caso o presidente Bolsonaro seja reeleito”, avalia o BBI.
(com Reuters)
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