NFTs de música surgem como ameaça ao reinado do Spotify

NFTs já estão sendo usados para comercializar músicas sem (ou com menos) e intermediários, e acendem o alerta de grandes plataformas de streaming

Paulo Barros

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O Spotify é a principal plataforma de streaming de música do mundo, com mais de 380 milhões de usuários, mas seu reinado pode estar caminhando para o fim – ao menos se depender da tecnologia NFT, que já começa a ser abraçada por artistas como alternativa para incrementar a remuneração pelo trabalho.

O NFT vem sendo explorado no ramo da música por conferir autenticidade e exclusividade a um ativo emitido digitalmente – no caso, uma faixa musical disponibilizada via Internet.

O DJ e produtor musical Deadmau5 e a banda de indie rock Portugal The Man protagonizaram a iniciativa mais recente nesse sentido ao anunciar, na quinta-feira (2), o lançamento de um milhão de cópias digitais em NFT de seu novo single, “This is fine”.

Os itens foram disponibilizados na plataforma Mint Base, construída na blockchain Near Protocol (NEAR). Cada NFT está à venda por 0,25 NEAR, ou cerca de US$ 2,20. O objetivo é tornar a faixa a mais rápida da história a atingir um milhão de cópias vendidas.

Música descentralizada

Além de garantir a autenticidade, os NFTs permitem que itens digitais sejam compatíveis com diferentes serviços ou carteiras, funcionando como arquivos em MP3 que não podem ser copiados. O único requisito para isso funcionar é usar uma mesma blockchain ou acessar pontes entre diferentes blockchains, como acontece entre o Ethereum (ETH) e a Polygon (MATIC).

Para especialistas, esse caráter independente representa a maior ameaça ao Spotify. Segundo um estudo do banco dinamarquês Saxo Bank o mercado musical está prestes a passar por uma revolução no modo de comercialização em meio à popularização de plataformas de NFTs, e o maior perdedor deverá ser o Spotify.

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O principal motivo, segundo o banco, é o modelo de negócios descentralizado permitido por plataformas de nova geração, que eliminam intermediários e entregam mais valor ao artista.

“O caso de uso de NFTs pode ser particularmente atraente na próxima etapa para a tecnologia de geradores de conteúdo na indústria musical, já que os músicos se sentem injustamente tratados pelos modelos de compartilhamento de receita das plataformas de streaming atuais, como Spotify e Apple Music”, apontou um dos analistas do banco.

Uma das soluções promissoras nesse ramo é a Audius (AUDIO), que oferece uma plataforma descentralizada onde artistas podem divulgar seu trabalho sem o intermédio de gravadoras e com a possibilidade de colocar mais dinheiro no bolso. A tecnologia NFT tem um espaço importante nessa estratégia, servindo de certificado de autenticidade para a música adquirida.

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A promessa atraiu grandes nomes do mercado. Artistas como Katy Perry, The Chainsmokers e Jason Derulo toparam investir no negócio junto com o ex-CEO da Sony Music. Além disso, o negócio já captou US$ 8,6 milhões com fundos como Coinbase Ventures e Pantera Capital. Neste ano, a solução ainda fechou parceria com o Tiktok.

Já o projeto Vezt vai por um caminho diferente, e utiliza a tecnologia blockchain para fazer uma espécie de IPO (abertura de capital) de canções – um processo chamado de Oferta Inicial de Canção (ISO, na sigla em inglês).

Brasil

Iniciativas brasileiras também tentam correr atrás dessa que parece ser uma oportunidade de mercado promissora. O All Be Tuned, criado pela fintech Moeda Semente, arrecadou R$ 60 mil em 24 horas com a venda de sua primeira música em NFT, em março deste ano.

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Mais nova, a Muzicoin pretende ir além e oferecer criptomoedas como pagamento ao usuário que se mantiver ativo na plataforma. Depois, ele pode utilizar as moedas dentro da plataforma para comprar produtos e serviços. Permite ainda que o artista registre sua música junto com contratos fechados com empresários e gravadoras.

“A blockchain da MUZi é inviolável e imutável. Isso elimina a possibilidade de adulteração por parte de um indivíduo mal-intencionado, construindo um livro-razão de transações onde todos os membros da rede podem confiar”, conta Emmerich Ruysam, CEO da Muzi.

Para o Saxo Bank, o crescimento de alternativas descentralizadas fará o Spotify desvalorizar até 33% em 2022. Neste ano, as ações da empresa já apresentam forte queda: de cerca de US$ 300 no começo do ano para atuais US$ 229.

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Paulo Barros

Jornalista pela Universidade da Amazônia, com especialização em Comunicação Digital pela ECA-USP. Tem trabalhos publicados em veículos brasileiros, como CNN Brasil, e internacionais, como CoinDesk. No InfoMoney, é editor com foco em investimentos e criptomoedas