Natura: os sinais positivos que fizeram NTCO3 saltar 6% mesmo após prejuízo triplicar

Balanço foi marcado por despesas extraordinárias e fortalecimento da marca Natura; foco de 2024 seguirá sendo Onda 2

Camille Bocanegra

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A Natura&Co (NTCO3) reportou seus resultados do quarto trimestre de 2023 na noite de ontem e, apesar de ter apresentado prejuízo quase 200% (ou o triplo) maior em relação ao mesmo período de 2022, analistas consideram que as tendências demonstradas pela companhia são positivas e que os números foram favorecidos pela simplificação da operação (considerando a venda da The Body Shop e da Aesop em 2023).

As ações da companhia iniciaram o dia em alta e fecharam com ganhos de 6,64%, a R$ 18,48. Nos últimos 12 meses, o papel apresenta alta de mais de 17%.

O Goldman Sachs considerou que os resultados trouxeram tendências encorajadoras, em especial pelo crescimento de dígito alto da marca Natura no Brasil. Além disso, o balanço foi positivamente marcado por ganhos gerais de margem motivados tanto pela otimização do portfólio, aumento de preços e controle de despesas gerais, na visão do banco americano. Pelo lado negativo, a análise destaca os altos gastos com despesas de reestruturação e únicas (em cerca de R$ 500 milhões, principalmente não monetárias) e com custos de transformação (na ordem de R$ 225 milhões).

Nesse momento, segundo o Goldman, o foco continua na implementação da Onda 2 (processo de integração entre as marcas Natura e Avon na América Latina), uma vez que fatores de risco seguem existindo. Por isso, o banco considera o nome como neutro, com preço alvo estabelecido em R$ 18,00. Outro ponto destacado na análise sobre o balanço foram os dividendos de R$ 980 milhões anunciados e os ajustes de exposição e operação da empresa na Argentina

“A Argentina, que no passado representava quase 15% dos nosso resultados, agora representa menos que 8%, então obviamente a desvalorização da moeda do país trouxe um impacto”, considerou o CFO da companhia, Guilherme Strano Castellan, na teleconferência sobre os resultados apresentados.

De acordo com o Research da XP, os dados demonstraram margens melhores em função de ajustes no portfólio e controle de despesas gerais (G&A, na sigla em inglês). As vendas líquidas apresentaram pressão em reais em função de ajustes contábeis na Argentina, contudo, na análise da XP, as vendas líquidas em moeda constante cresceram 5% nos últimos 12 meses (ainda que tenham caído 17% em reais).

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O avanço nas vendas foi motivado pelo sólido desempenho da Natura Brasil (que subiu 8,6%), compensado pelos números mais fracos da Avon tanto no Brasil quanto na América Latina Hispânica (que caíram 12% no mercado doméstico e subiram 0,7% no exterior). Os esforços de simplificação recaíram principalmente sobre a Avon Internacional, que teve sua gestão focada em duas principais regiões (das quatro anteriores).

Na visão da XP, os desafios operacionais da chamada Onda 2 foram superados, como organização de liderança, atrasos nas entregas e falta de estoque. Ainda, a companhia encerrou o ano com posição líquida de caixa e, de acordo com o relatório que divulgou o balanço, o foco de 2024 seguirá na geração de caixa, com investimentos direcionados para marca e tecnologia.

Para o Bradesco BBI, os resultados foram considerados mistos, com destaque negativo para os números da Natura na América Latina. A surpresa positiva, para a divisão de análise do banco, foi a margem de lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) ajustada para Avon Internacional, em 11,3%. O crescimento da receita da Natura&Co Brasil em um dígito alto também foi destaque nos números, ainda que a falta de disponibilidade de produtos seja um problema ainda presente.

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“Olhando para o futuro, permanecemos otimistas em relação à empresa enquanto aguardamos mais detalhes sobre a possibilidade de alternativas estratégicas para a Avon International. Além disso, como a empresa provavelmente ainda manterá uma posição de caixa líquido, ainda vemos potencial para mais pagamentos de dividendos, o que proporciona um retorno seguro enquanto a empresa implementa melhorias operacionais com a Onda 2”, considera o BBI, que classifica o nome como outperform (desempenho superior, similar à compra), com preço alvo estabelecido em R$ 23,00.