Natura (NTCO3) é destaque de queda do Ibovespa em abril após venda da Aesop; analistas se “dividem” sobre ação

Apesar da redução da alavancagem com a operação, foco do mercado se volta agora para segmentos que seguem no âmbito do grupo de cosméticos

Lara Rizério

Publicidade

Desde o anúncio da venda da Aesop para a L’Oreal, em 3 de abril, as ações da Natura&Co (NTCO3) acumulam queda de 14%, versus alta de 5% do Ibovespa, apesar de muitas avaliações positivas de analistas sobre o case. Com esse desempenho, os papéis NTCO3 estão entre os destaques de queda do mês.

A transação proposta reduzia efetivamente a alavancagem da Natura e forneceria à empresa a flexibilidade financeira necessária para conduzir mudanças estruturais em marcas que atualmente não geram caixa, destaca o Goldman Sachs.

“No entanto, essa reviravolta também traz riscos, pois essas marcas representam boa parte das vendas do grupo ex-Aesop. Cortar operações deficitárias e mercados é, em última análise, necessário para melhorar a lucratividade, em nossa opinião, mas também vemos desafios na redução do negócio”, apontam os analistas Irma Sgarz, Felipe Rached e Gustavo Fratini.

Em relatório, o banco apontou o perfil de resultados da Natura&Co excluindo a Aesop.

“Nossa análise de sensibilidade sugere que a Natura poderia gerar lucro líquido de cerca de R$ 740 milhões a R$ 1,04 bilhão em 2024, assumindo que a venda da Aesop seja concluída no 3T23 e com base em diferentes premissas sobre tributação de ganhos de capital”, avalia. Este cenário implica em uma faixa de múltiplo para o grupo de cosméticos ex-Aesop de 15,2 vezes-21,5 vezes o preço sobre lucro (P/L) esperado em 2024.

Os analistas mantêm a recomendação neutra para a NTCO3, pois buscam sinais de uma recuperação bem-sucedida na lucratividade, mas também uma melhor visibilidade no futuro para o crescimento orgânico da Avon Latam, TBS e Avon International.

Continua depois da publicidade

Eles questionam os motivos para a ação ter reagido tão negativamente após o anúncio da venda. “Acreditamos que a fraqueza do preço das ações desde o anúncio (-3% no dia) reflete a mudança do foco do investidor para o negócio principal. Além disso, os investidores, principalmente no Brasil, se posicionaram para o anúncio esperado; desde o início do ano até 3 de abril, as ações da NTCO3 tinham se valorizado 28%, enquanto o Ibovespa caiu 5%”, afirmam os analistas.

Com um valor de venda de US$ 2,5 bilhões, o preço da operação ficou no topo da faixa relatada em artigos de notícias nas semanas anteriores (US$ 2 bilhões a 2,5 bilhões). O múltiplo implícito para a Aesop foi de 21 vezes o EV/Ebitda (EV = enterprise value, ou valor de mercado + dívida líquida”; Ebitda = lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) em 2023 em comparação com a negociação NTCO em 9 vezes em 2023 (em suas estimativas e usando o preço da ação no momento do anúncio).

A entrada de caixa da venda também desalavancaria imediatamente a empresa de cosméticos. No entanto, como observaram no dia, esperavam que a conclusão dessa etapa trouxesse os holofotes de volta às operações remanescentes da companhia, onde ainda veem risco de queda nas estimativas de consenso.

Continua depois da publicidade

O que focar na operação subjacente. Com a ajuda da flexibilidade financeira renovada, os analistas esperam que a administração da NTCO se concentre em obter maior lucratividade e geração de fluxo de caixa na Avon LatAm, The Body Shop (TBS) e Avon International.

Juntas, essas operações representaram 57% do faturamento da NTCO em 2022. Excluindo a Aesop, elas respondem por 60%.

“Acreditamos que as ações necessárias para melhorar essas operações vêm com risco de execução relativamente elevado, bem como certas despesas iniciais. Eles também provavelmente exigirão que a NTCO reduza o pool de receita, especialmente para Avon Latam e International, saindo de produtos e mercados que pesam nas margens e na geração de caixa”, afirmam os analistas.

Continua depois da publicidade

Em resumo, os analistas avaliam os principais pontos a avaliar nas subsidiárias:

Avon LatAm: melhorar a economia de pedidos, subindo o valor mínimo do pedido para o mesmo nível praticado pela marca Natura e integrando a oferta comercial para alavancar oportunidades de vendas cruzadas. Além disso, o catálogo de moda e casa, intensivo em capital de giro, está em processo de eliminação gradual.

Avon Internacional: saída de mercados adicionais de baixo desempenho, especialmente em países mais desenvolvidos onde o canal de venda direta tem menor aceitação, além da racionalização do catálogo.

Continua depois da publicidade

TBS: melhorar a rentabilidade através da redução do canal at home e racionalização das despesas gerais e administrativas. “De fato, a gestão anunciou recentemente uma reestruturação da sua estrutura, com uma redução dos cargos de chefia em 25%, bem como uma redução de 12% no restante quadro de pessoal global”, aponta.

Os analistas têm uma visão dividida sobre as ações NTCO3. De acordo com compilação da Refinitiv, de 14 casas que cobrem as ações NTCO3, seis têm recomendação de compra e oito têm recomendação neutra, com preço-alvo médio de R$ 16,59. O preço-alvo do Goldman para a ação é de R$ 14, ou potencial de valorização de 11,7% frente o fechamento de sexta-feira (14).

Analistas do JPMorgan, por sua vez, reiteraram sua visão positiva para a ação logo após a transação, ainda que também destacando os pontos sensíveis que levaram a uma fraqueza maior dos ativos.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.