Não é o fim do mundo: “Copa poderia ter sido muito pior para o Brasil”, diz FT

Colunista do jornal britânico, que havia destacado "vitória brasileira na Copa", fala sobre a organização do evento e sobre o legado do torneio; já WSJ diz que Brasil ficará bem da derrota e que País não é só futebol

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A goleada aplicada pela Alemanha no Brasil na última terça-feira (8) na Copa do Mundo, por 7 a 1, abalou muito os brasileiros e deve demorar muito para a ferida cicatrizar.

Porém, o jornal britânico Financial Times ressaltou que, apesar do fracasso brasileiro na Copa, o País poderia ter tido uma Copa do Mundo muito pior. O colunista Simon Kuper, co-autor do livro Soccereconomics e que havia dito em coluna na semana passada que o “Brasil já havia ganhado” destacou que a derrota não é o fim do mundo.

Ele inicia o seu artigo dizendo que, no começo do torneio, pegou um metrô do Rio de Janeiro para uma partida no estádio do Maracanã. “Eu nunca tinha estado em um transporte como aquele. Por minutos, era difícil respirar. Quando chegamos ao estádio, afinal, todos saíram vivos. Poderia ter sido diferente”. Ele continua citando alguns contratempos que teve no dia, como a chegada ao Maracanã. Posteriormente, esteve a queda do viaduto em Belo Horizonte que culminou na morte de duas pessoas

“Com um pouco de sorte, o Brasil se saiu bem na Copa do Mundo – pelo menos no quesito organização. Agora vem a pergunta: qual é o legado? O torneio não vai aumentar a riqueza dos brasileiros, ainda que tenha mudado o País”, afirma Kuper.

O governo do Brasil passou anos prometendo que a Copa do Mundo traria uma bonança econômica. Mas, conforme ressalta Stefan Szymanski, professor de economia da Universidade de Michigan, e com quem Kuper escreveu o livro Soccernomics , “a literatura acadêmica substancial, mostra que o inverso também é verdadeiro: sediar grandes eventos esportivos são uma carga econômica.

“O Brasil gastou cerca de US$ 11 bilhões em novos estádios. Cerca de metade deles já são elefantes brancos. Teria sido mais inteligente economicamente ‘jogar o dinheiro fora’, porque, então, pelo menos, o País não teria necessidade de gastar milhões com a manutenção de estádios inúteis. […] Já os projetos para realizar novos terminais de aeroportos em cidades que não precisam deles, só por um mês de futebol na Copa, felizmente, nunca foram executados”, disse Szymanski a Kuper.

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Por outro lado, algumas pessoas se beneficiarão dos estádios: principalmente, as empresas de construção e os clubes de futebol brasileiros que vão jogar neles, ressalta o colunista do FT.

Szymanski e o economista francês Bastien Drut têm demonstrado que, nos cinco anos depois que um país abriga uma Copa do Mundo ou Campeonato Europeu, o público das ligas aumenta entre 15% e 25%. Espera-se um impulso ainda maior no Brasil, que passou do fato de possuir alguns dos piores estádios do mundo para ter alguns dos melhores. “Finalmente os fãs brasileiros podem ser capazes de levar seus filhos para assistir a jogos com segurança”, afirmou.

Mas, ressalta Kuper, o maior impacto fora de campo da Copa do Mundo no Brasil está, em primeiro lugar, na política. Esta, para ele, é a Copa do Mundo com mais consequências políticas, uma vez que é realizada num País apaixonado por Copa três meses antes das muito disputadas eleições presidenciais.

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O torneio se tornou um item político em junho de 2013, quando “a raiva sobre o dinheiro queimado em estádios levou aos maiores protestos da história do Brasil. Os manifestantes ficaram inicialmente irritados com o aumento das passagens de ônibus, mas o futebol deu a energia para os protestos e angariam o interesse dos meios de comunicação”. Kuper destaca o último Datafolha mostrando uma recuperação de Dilma, atribuída à Copa, mas considera que mesmo a derrota por 7 a 1 não deve afetá-la. “Os brasileiros não devem torná-la responsável pela não conquista da Copa, apenas por organizá-la bem”.

No entanto, no longo prazo, a Copa do Mundo fez do Brasil um lugar mais difícil para presidentes. O torneio ajudou a empurrar milhões de brasileiros até então “dóceis” para a consciência política. Durante a Copa, quase todo mundo parou de protestar e gostou do futebol, mas o desafiante canto de massa à capela do hino nacional antes dos jogos do Brasil foi uma declaração de que o País é dos brasileiros, e não dos políticos.

Outro legado é a felicidade, mesmo após a derrota por por 7 a 1. Quando Szymanski e Georgios Kavetsos da London School of Economics estudaram os anfitriões europeus de torneios de futebol, descobriram que a felicidade autorrelatada dos habitantes subiu depois. Após as Copas do Mundo, o ganho foi bastante persistente: até dois e quatro anos após o torneio, cada subgrupo estudado ainda estava mais feliz do que antes. A chave para essa felicidade parece ser a experiência comunitária. Mesmo a experiência comum de vergonha brasileira esta semana com a derrota é uma experiência de ligação.

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Em 2016 o Brasil sediará os Jogos Olímpicos Rio, que irá prolongar todos estes efeitos: gastos desnecessários, política nacional e do sentimento comunitário. “Esta era esportiva não vai fazer do Brasil um país mais rico – apenas melhor”, finaliza Kuper.

Wall Street Journal reforça coro e diz que Brasil ficará bem
Já para o Wall Street Journal, o Brasil ficará bem e vai se recuperar do baque. “[Após a tormenta], o Sol apareceu. As pessoas iam para o trabalho. Eles dirigiram os táxis, abriram supermercados, ligaram os seus computadores para lidar com assuntos financeiros. Médicos curaram os doentes. Os assistentes sociais enfrentaram os problemas da grande pobreza neste País de cerca de 200 milhões de habitantes. A vida continuou”. 

“E adivinhe o que não aconteceu? As cidades não queimaram. Os distúrbios em massa não entraram em erupção. Torcedores não se atiraram de prédios, porque sua amada Seleção foi constrangida pela Alemanha, por 7 a 1, na semifinal da Copa do Mundo de terça-feira”.

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O brasileiro ainda se sente estranho para dizer que a Alemanha aplicou uma goleada de 7 a 1 sobre a seleção. No passado, o Brasil já perdeu um jogo oficial em casa, em 1975, mas nada parecido. “Se eu fosse um nativo, estaria abalado”, ressalta o jornalista norte-americano Matthew Futterman.

O repórter ressalta que os brasileiros amam o futebol nacional mais do que qualquer esporte, com o governo decretando feriados em dias em que a seleção joga. “Ainda assim, não compre a narrativa que esta perda vai deixar alguma cicatriz indelével nacional em um país tão desesperadamente tentando prosperar em uma série de áreas que não têm nada a ver com o futebol. Essa idéia é um pouco humilhante para os brasileiros que eu conheci”, afirma. 

Ele diz que está aqui há um mês e que isso dificilmente o qualifica como um especialista de cultura brasileira. O repórter ressalta saber mais sobre os problemas brasileiros, como o crime e a pobreza e que tem uma amostra pouco limitada para hotéis, restaurantes, estádios de futebol e pistas de corrida ao lado de praias do Rio, Natal, Recife e algumas outras cidades-sede. 

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“Mas eu também sei que este é um país incrível, diverso”, ressaltando as diferenças entre a Amazônia e São Paulo, passando por Salvador. Ele diz que o Brasil é um País de beleza natural impressionante e possui vastos recursos naturais. “Há um grande número de pessoas trabalhadoras que querem fazer amanhã melhor do que hoje. Em outras palavras, o Brasil é muito mais do que uma camisa canarinho e uma obsessão pelo futebol”. 

O colapso contra a Alemanha certamente vai despertar algum exame de consciência nacional sobre como o Brasil cultiva e desenvolve a sua próxima geração de estrelas do futebol, avalia. O país tem um enorme banco de talentos, mas não foi apenas um acidente. O mais alto nível de futebol hoje não leva em conta apenas o talento, mas dinheiro, treinamento e uma estratégia coerente, avalia.

“Eu vou apostar que o Brasil como um todo vai estar muito bom depois disso. Está um pouco chateado, claro, mas em última análise, tudo ficará bem”. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.