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Em meio ao melhor temporada de resultados das últimos quatro trimestres para a Bolsa brasileira, o setor de varejo foi um dos destaques – apesar dos desafios.
Conforme avalia a XP, os resultados do setor varejista no geral foram melhores do que o esperado no segundo trimestre de 2024 (2T24). Isso porque, apesar da demanda e crescimento de receita ainda estarem pressionados pelo cenário macroeconômico, a expansão de margens sustentou um lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) acima do esperado para a maioria das empresas que a corretora cobre.
Quanto aos diferentes segmentos, as varejistas de vestuário de média renda foram as que mais se destacaram, com as empresas entregando um sólido crescimento de vendas mesmas lojas (SSS) – com destaque para Guararapes (GUAR3) e C&A (CEAB3) – e expansão de margens, apesar das dinâmicas climáticas desafiadoras (temperaturas mais altas e enchentes na região Sul) e um cenário macro ruim.
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No segmento de alta renda, Grupo Soma e Vivara (VIVA3) apresentaram crescimento acelerado de receita, com margens melhorando, enquanto o desempenho das marcas principais da Arezzo permaneceu fraco. Cabe destacar que Soma e Arezzo apresentaram pela última vez resultados separadamente, uma vez que concluíram no começo de agosto a fusão para virarem Azzas 2154 (AZZA3).
No varejo alimentar, aponta a XP, o Atacadão – do Carrefour Brasil (CRFB3) – apresentou o melhor desempenho de vendas mesmas lojas, embora preocupações sobre o cenário competitivo e a sustentabilidade da oferta de parcelamento “3 vezes” da empresa tenham ganhado destaque. Já a receita do e-commerce permaneceu pressionada devido a uma demanda ainda fragilizada, mas o foco na rentabilidade sustentou um Ebitda acima do esperado, enquanto um reajuste CMED menor impactou as margens das farmácias no trimestre.
O BTG Pactual aponta que as margens foram os destaques, com outra rodada de números melhores.
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“No ano passado, os resultados dos varejistas mostraram os gastos dos consumidores brasileiros sob pressão, carregando o peso de um cenário de consumo desafiador (altas taxas de juros, endividamento e inadimplência). No entanto, os sinais começaram a melhorar no final do ano, e os resultados no 1S24 (incluindo o 2T) continuaram a mostrar uma tendência de melhora, beneficiando-se da melhor perspectiva macroeconômica e das iniciativas internas que ajudaram a aumentar a lucratividade das empresas”, avaliam os analistas do banco.
Leia mais: Os setores de destaque e 6 ações para ficar de olho após a temporada positiva do 2T24
Contudo, a recuperação permanece gradual, a discussão sobre as taxas de juros terminais continua no centro das atenções, com possíveis impactos negativos para os processos de desalavancagem das empresas, e a carga tributária deve aumentar este ano.
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De modo consolidado, no segundo trimestre a receita cresceu 7% na base anual (em linha com o esperado), o Ebitda aumentou 20% (3% acima de sua estimativa), a margem Ebitda subiu 90 pontos-base (bps) na base anual, e o lucro líquido cresceu de R$340 milhões no 2T23 para R$ 1,6 bilhão no 2T24.
Por outro lado, diz o banco, embora os múltiplos do setor ( de 12 vezes o preço sobre lucro, ou P/L, para 2025) possam parecer atraentes, dois fatores devem ser considerados: (i) o momentum do setor (e os múltiplos) ainda é ditado principalmente pelo fluxo de notícias políticas/econômicas (o que explica a alta aversão ao risco das ações do setor); e (ii) embora as estimativas de lucros tenham sido cortadas nos últimos trimestres em resposta à perspectiva de taxas de juros mais altas, ainda vê pouco espaço para revisões positivas no curto prazo (tornando a exposição ao setor um processo de escolha seletiva).
Confira abaixo a visão para cada segmento do varejo e o que esperar para o restante do ano:
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E-commerce
A analista de varejo da XP Danniela Eiger aponta o Magazine Luiza (MGLU3) e Grupo Casas Bahia (BHIA3) com iniciativas de rentabilidade já dando alguns frutos, tendo algum tipo de estabilização em termos de queda de crescimento por conta também de uma base mais normalizada. Em alguns casos, houve dinâmica de crescimento melhor como o caso do Magalu, que teve um varejo físico com um crescimento pouco mais mais forte.
O Bank of America avalia que o Magalu foi impulsionada por preços, taxas de comissão e maiores taxas de adesão de serviços. A despesa financeira líquida diminuiu 5% devido a menores custos de financiamento e recebíveis.
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Já o Mercado Livre (MELI34) apresentou resultados fortes impulsionados por um crescimento mais robusto da receita e uma menor taxa de imposto. O BTG também aponta que o Mercado Livre registrou outro conjunto sólido de números trimestrais, com a receita líquida ajustada 9% acima da sua projeção (+42% ano a ano), o lucro operacional ajustado superando sua estimativa em 10% (+8,5% anualmente) e a receita líquida ajustada 103% anualmente (23% acima da sua projeção).
Vestuário e alta renda
Em alta renda, a XP aponta que a Vivara (VIVA3) foi um destaque positivo, sendo também o último trimestre que também Grupo Soma e Arezzo reportaram resultados separados antes de virar Azzas 2154 (AZZA3). O Grupo Soma teve uma dinâmica de resultados de melhora, com aceleração de crescimento, evolução de rentabilidade, enquanto Arezzo ainda teve alguns desafios em termos de crescimento para algumas marcas, e aí uma pressão de rentabilidade. Outro destaque da temporada foi SmartFit, que também continua com a sua dinâmica de crescimento e rentabilidade bastante saudável.
No setor de vestuário, a LREN3 apresentou um trimestre sólido na visão do BofA, dada a melhoria na margem bruta e crédito, créditos fiscais e vendas resilientes apesar do clima, enquanto a AZZA3 (conjuntamente) superou os resultados do consenso devido a créditos de imposto de renda mais altos do que o esperado. A VIVA3 apresentou um forte crescimento de receita de +19%, o que, juntamente com a reversão das provisões do 1T para tributação federal de incentivos fiscais estaduais, levou a um lucro por ação superior.
O BTG ressalta que, após uma recuperação desigual do consumo – desde o início da pandemia, o crescimento das vendas no varejo local foi impulsionado principalmente por aumentos de preços, com os players com maior poder de precificação se sobressaindo -, o segundo trimestre (como nos trimestres anteriores) mostrou tendências fracas para os varejistas de vestuário/calçados expostos a famílias de renda mais alta (Arezzo e Grupo Soma), como esperado. A Vivara divulgou um crescimento decente da linha de receita e uma melhora na lucratividade, superando as suas estimativas.
A Renner registrou um conjunto decente (melhor do que o esperado) de números operacionais em sua divisão de varejo, apesar dos efeitos negativos das temperaturas mais quentes e das chuvas na região Sul do Brasil.
A C&A (como nos trimestres anteriores) registrou fortes resultados, marcados por uma sólida expansão da receita e do Ebitda, também superando suas estimativas. O Grupo SBF (SBFG3) reportou fortes números operacionais no segundo trimestre, com a receita líquida ligeiramente acima de suas estimativas, com o Ebitda e o lucro superando as suas projeções.
Varejistas brasileiros de alimentos
O BofA ressalta que a inflação mais alta dos alimentos continuou a beneficiar o setor alimentício, mas Assaí (ASAI3) e CBD (PCAR3) foram fortemente impactados por maiores despesas com juros, enquanto o Carrefour Brasil (CRFB3) superou o consenso devido a melhores resultados operacionais, vendas de ativos e uma reversão de provisões fiscais.
Para o BTG, embora a inflação de alimentos tenha melhorado em relação aos níveis do ano passado, ela desacelerou recentemente em comparação com o início de 2024, enquanto o setor parece estar enfrentando mais agressividade de alguns dos principais players para aumentar os volumes.
De olho no 2º semestre
Em reunião com empresas do setor de varejo, o Morgan Stanley destacou as principais visões das companhias para o segundo semestre deste ano. A percepção para a segunda metade do ano foi cautelosamente otimista, particularmente em torno das expectativas para a receita – em uma mistura de iniciativas das empresas, condições do setor e efeitos da base de comparação.
Entre as reuniões com as companhias, a Lojas Renner falou sobre a melhora do ímpeto de vendas ao longo do 2T24, com tendências se mantendo no 3T24. Já sobre a C&A, a equipe de executivos vê os benefícios iniciais de seus projetos de melhoria de produtividade nas lojas impulsionando um crescimento ainda maior, apesar de uma base de comparação mais difícil no 2S24. Por outro lado, a Azzas citou uma base de comparação mais fácil no 2S24, ajudando na configuração do crescimento da empresa.
No varejo de alimentos, o comentário do GPA sugeriu uma perspectiva de crescimento estável no 2S24, com o comércio eletrônico superando as vendas nas lojas. A empresa falou sobre outros impulsionadores de lucratividade no 2S, o que poderia potencialmente dar suporte ao crescimento em relação à orientação de margem de 8-9% para 2024 nos próximos trimestres.
Já o Carrefour Brasil apontou de forma semelhante para os catalisadores de vendas resilientes no 2S24, particularmente no atacarejo, onde continua sendo o player com os preços mais baixos. A empresa acredita que seu programa de parcelamento sem juros lançado recentemente ajudou a impulsionar as vendas, e a administração vê o ROIC (retorno sobre capital investido) deste programa acima do seu custo de capital.
As ações corporativas permanecem em foco, com a Azzas concluindo a aquisição do Grupo Soma, a SmartFit se expandindo após a recente aquisição da Velocity e o Carrefour Brasil buscando monetização imobiliária.