MRV (MRVE3): queima de caixa apaga entusiasmo com lançamentos e alta dos tíquetes; ação cai, mas fecha longe das mínimas

Já a Helbor divulgou prévia neutra, com aceleração dos lançamentos compensada por queda nas vendas contratadas, destacaram analistas

Felipe Moreira

Publicidade

A MRV Engenharia (MRVE3), maior construtora residencial da América Latina, a Helbor (HBOR3) e outras empresas divulgaram suas prévias operacionais do quarto trimestre de 2022 (4T22) na noite da última quarta-feira (18).

Na avaliação de analistas, a MRV apresentou dados operacionais com tendências mistas, destacando o aumento do tíquete médio por unidade vendida na operação brasileira e aceleração de lançamentos. Contudo, também teve aumento da queima de caixa no período, com os volumes de vendas não correspondendo às expectativas.

Com isso, as ações MRVE3 chegaram a cair 6,86%, a R$ 6,65, na sessão desta quinta (19); porém, os papéis fecharam com queda bem menor, de 1,40% (R$ 7,04), também em meio ao alívio durante a sessão da curva de juros futuros, o que beneficia as construtoras.

Continua depois da publicidade

Já com relação à Helbor, os bancos consultados classificaram os dados como neutros à ligeiramente negativos, com destaque para aceleração dos lançamentos em relação ao trimestre anterior, compensados pela queda nos números de vendas contratadas no trimestre. Os papéis tiveram leve alta de 0,43%, a R$ 2,35.

Confira os destaques das análises:

MRV (MRVE3)

A MRV (MRVE3) apresentou uma prévia operacional mista no quarto trimestre de 2022, na opinião da XP Investimentos. “Do lado positivo, a empresa continuou aumentando seu preço médio por unidade vendida na operação core da MRV, atingindo R$ 208 mil (+22,7% na base anual), em linha com a estratégia de recuperação de margens”, comenta. Além disso, a MRV parece mais confortável para aumentar seu volume de lançamentos daqui para frente. Como resultado, os lançamentos aceleraram significativamente, atingindo R$ 3,4 bilhões (+92,8% na base anual).

Continua depois da publicidade

De negativo, o consumo de caixa atingiu R$ 539 milhões (+258% na base anual), “impactado pela fraca margem bruta na operação core”, destacam analistas da XP.

Na mesma linha que a XP, o Bradesco BBI diz que a MRV apresentou outra surpresa negativa na frente de geração de caixa, queimando R$ 286 milhões em suas operações de CVA/Sensia, mas a “queima de caixa teria sido de R$ 570 milhões se não fosse a venda de recebíveis durante o trimestre”, ressalta.

Pelo lado positivo, analistas do BBI apontam a aceleração sequencial dos lançamentos e o preço médio de venda mais alto, o  que reforça as expectativas de uma melhora de margem ao longo de 2023, o que deve aliviar o consumo de caixa e, eventualmente, levar ao ponto de equilíbrio, provavelmente no segundo semestre de 2023.

Continua depois da publicidade

O BBI diz que ainda vê a ação da MRV como uma das mais atrativos do setor, embora os números operacionais do 4T22 provavelmente sustentem o fraco ímpeto da ação até que a construtora quebre a recente sequência de surpresas negativas nos lucros.

O Itaú BBA também comenta que os números da operação da MRV no Brasil permaneceram fracos em uma combinação de queima de caixa maior do que o previsto e uma desaceleração na velocidade de vendas para um nível mais baixo de todos os tempos para a empresa.

O Credit diz que mesmo com aceleração de lançamentos no trimestre e ganhos importantes em seu ticket médio, a MRV reportou números fracos.

Continua depois da publicidade

Analistas do banco suíço, por outro lado, veem um momento positivo para o segmento de baixa renda e acreditam que a MRV está no caminho certo para recuperar suas margens e reverter a queima de caixa. Mas seguem cautelosos quanto ao tempo necessário para o processo de recuperação de margem e rentabilidade da construtora.

A XP mantém recomendação de compra para MRV com preço-alvo de R$ 17,00, com base no valuation atrativo, negociando a 4,5x P/L para 2023. O BBI e Credit Suisse reiteram classificação outperform (equivalente à compra) para ações da MRV, com preço-alvo de, respectivamente R$ 16 e R$ 15.

Já o BBA mantém recomendação market perform (equivalente à neutro) e preço-alvo de R$ 12, apesar de considerar a avaliação da empresa descontada. O banco diz preferir novos sinais de melhora na operação do Brasil e maior visibilidade no mercado americano.

Continua depois da publicidade

Para a Levante, a companhia detém uma alocação eficiente, que deve ser beneficiada ao médio/longo prazo, e que, apesar de manter-se pressionada pelo cenário macroeconômico global, de juros mais altos e inflação persistente, pode apresentar mudanças abruptas pelas mudanças políticas e pelo retorno do Minha Casa Minha Vida (MCMV).

Já no âmbito estrangeiro, o cenário instável pode ampliar o aluguel de imóveis nos EUA, devido à perda de poder de compra do consumidor (PPC). Isso impacta, principalmente, os planos de crescimento mais acelerado de sua subsidiária (Resia), que, em seu negócio de venda de imóveis no país, foi consumidora de caixa – este apresentou melhora no 4T22.

“Em suma, esse momento de retomada ao MCMV pode ser um ponto de entrada, com perspectivas favoráveis ao setor”, avalia a Levante.

Helbor

A Helbor reportou números neutros no quarto trimestre, em grande parte em linha com as expectativas do BBI. Para o futuro, todos os olhos devem estar voltados para a entrega do forte pipeline de projetos da empresa, o que poderia trazer uma geração de caixa significativa e, finalmente, aliviar sua dívida, que analistas do BBI enxergam como a principal razão por trás do grande desconto de HBOR3, 0,2x P /BV.

“Se a conclusão desses projetos ocorrer sem problemas (incluindo a aceleração das vendas para o projeto W, a ser entregue em meados de 2023), podemos finalmente nos aproximar de um ponto de virada positivo na tese de investimento da Helbor”, avaliam analistas do BBI.

Para Itaú BBA, a aceleração dos lançamentos em relação ao trimestre anterior foram compensados pela queda das vendas contratadas. Assim, a velocidade de vendas desacelerou 460 pontos-base na base trimestral. Apesar disso, os níveis de estoque ficaram praticamente estáveis ​​em 30 meses de vendas.

O BBI mantém recomendação neutra para ações da Helbor e preço-alvo de R$ 5. O Itaú BBA também reitera recomendação equivalente à neutra para Helbor e preço-alvo de R$ 3.